Tenda de Umbanda Luz e Caridade - Tulca

17/08/2017

O Médium de Umbanda

O Médium de Umbanda

Os médiuns ou cavalos, como queiram, da Umbanda, têm que tomar certos cuidados para seu perfeito desenvolvimento. Devem cuidar de sua cultura, honrar os espíritos acima de tudo, doar-se inteiramente à casa em que trabalham, sem entretanto esquecer de equilibrar sua vida profissional, social e familiar e fugir do fanatismo tão nocivo ao bem estar dos religiosos. Deve respeitar as outras religiões, sem querer impor aos outros as suas convicções.

Não beber, controlar seu emocional e não cobrar nada da religião. Nunca aceitar favores ou pagamentos pelos trabalhos que fizer e jamais usar a energia do sangue em seus trabalhos e, principalmente, nunca sacrificar nenhum animal. Por isso mesmo, antes de se filiar à uma casa, deve saber dos princípios filosóficos dos seus dirigentes. Deve fazer da Umbanda uma religião alegre, gostosa e vibrante. Para isso não deve se imiscuir nos problemas dos irmãos de corrente, sem jamais julgá-los. Deve respeitar a hierarquia da casa, muito embora lhe caiba o direito de também ser respeitado.

Muito médium tem dúvidas sobre as incorporações, confundindo-se nas mensagens, achando que não é o espírito falando, mas sim sua própria cabeça. Espero com esta nota dirimir dúvidas aos médiuns e trazer-lhes a certeza que quando for animismo os dirigentes da casa sabem como corrigi-lo.


Vejam como funciona: existe uma fusão do espírito do médium com o espírito comunicante, criando-se uma terceira energia. Gosto de dar exemplos. O café e o leite, separados, são puros. Misturados criam uma terceira bebida, podendo ser mais preto ou mais branco, conforme a quantidade das bebidas. Mas sempre a união de ambos terá uma terceira qualidade.

É impossível a comunicação pura do espírito. O importante é a presença do espírito, com maior ou menor intensidade.

Quando o médium está preparado para seguir o procedimento normal do aprendizado, ele não deve segurar as incorporações, e jamais esquecer o momento certo da incorporação. Se está se chamando um espírito pelo ponto individual ele não deve dar passagem, exceto se for ponto de linha, o momento for oportuno e permitido pelo desenrolar da gira. O médium deve facilitar a incorporação. Na Umbanda as entidades têm incorporações típicas da linha. O índio é ereto, forte e incorpora com um vibração firme, algumas vezes se ajoelhando e batendo no peito. O preto-velho já é mais macio na incorporação, se curva e faz o tipo de cansado e a criança o tipo infantil. Quando o ponto estiver induzindo o tipo da entidade, o médium já deve estar psicologicamente preparado para receber e se comportar conforme o tipo da entidade. É um erro lutar contra o espírito, ou seja, receber um índio como se fosse um preto-velho. De propósito até agora não falei do Exu e da Pomba-gira, para dar um destaque de grande importância: Exu não é aleijado e Pomba-gira não é prostituta. Ambos são entidades maravilhosas e não precisam fazer o tipo distorcido do folclore da Umbanda.

O médium tem um complexo espiritual chamado aura, que é formado pelo material (o corpo físico), o duplo etéreo (ou cascão), o perispírito e o espírito. A aura é formada por elementos energéticos que se chamam chacras. É por eles que o espírito incorpora, até unir o seu espírito com a aura do cavalo. Por esse motivo é importante haver uma preparação do médium nos dias de gira para que sua aura esteja leve e limpa, através de um banho de erva, bons pensamentos, com o mental sem mágoa ou raiva. Sua atenção no dia dos trabalhos deve estar sempre voltada para reunião com os irmãos da corrente, procurar a alegria, boa leitura, não dizer palavrões, não comer carne e fazer refeições leves. Alguns autores e dirigentes dizem que a mulher com menstruação não deve participar da gira e muito menos incorporar. Como eu não vejo nenhuma lógica e nunca ninguém me explicou de forma convincente essa proibição, refuto o fato não criando nenhuma objeção para as médiuns em nosso terreiro. Sobre isso uma vez disseram-me que pode haver a aproximação de espíritos atrasados atrás da energia do sangue. Não me convenceu a explicação, porque acho que se algum espírito quiser sangue, ele irá aos matadouros e nunca a um terreiro organizado e protegido. Existe pai-de-santo que também proíbe a mulher tocar nos atabaques. Não vejo lógica, ao contrário, um insulto à capacidade feminina.

Quando o médium for receber a entidade, ele deve ficar com sua mente o mais livre possível de pensamentos. Para quem não tem a prática da concentração, um bom método para facilitar a incorporação é ficar pensando no tipo da entidade que vai incorporar e respirar rapidamente e soltar pela boca o ar aspirado.

"Deve ser avisado a todas as pessoas das giras que a Umbanda mantem um exército que obedece as ordens de Oxalá. Igual ao exército da Terra, os soldados da Umbanda tem como compromisso assumido no Amaci: defender os fracos; enaltecer os humildes; coibir a prepotência; tirar da escuridão os aflitos, os desesperados e os obsediados; curar os doentes; alegrar os tristes; acalmar os nervosos; aliviar a dor; encaminhar os desajustados; salvar os viciados e trazer honra para a religião brasileira que é a Umbanda. Quem não quiser fazer isso pode se juntar aos pedintes do amor. Quem se doa, ganha." (Caboclo Junco Verde)
Pai Maneco



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15/08/2017

Mediunidade e Ansiedade

Mediunidade e Ansiedade


A maioria dos médiuns tem sua iniciação mediúnica – momento em que suas faculdades mediúnicas já despertadas passam a ser utilizadas de modo sistemático e mais intenso, dentro dos rituais e trabalhos existentes numa casa umbandista – marcada pela difícil fase da ansiedade e da adaptabilidade que esse começo representa. Ansiedade no médium iniciante pode trazer algumas situações desconcertantes como :

Ficar pensando de modo intenso nas coisas ligadas à espiritualidade; 

Ficar com os pontos cantados ecoando na mente; 

Ficar cantando a qualquer momento e lugar os pontos cantados; 

Conversar somente sobre o assunto espiritualidade a qualquer oportunidade em que hajam mais pessoas que pertençam à mesma religião ou casa;

Ler muitos livros sobre o assunto, querendo esgotar todos os pontos de dúvidas;

Querer conhecer tudo sobre a Umbanda num espaço de tempo curto;

Ter sonhos constantes com rituais, entidades, trabalhos;

Ficar vendo em qualquer situação algum tipo de ligação com a espiritualidade;

Não parar de preocupar-se em manter-se dentro das condutas que sua casa pede;

Querer incorporar logo;

Ficar muito preocupado se está mesmo incorporando uma entidade ou se está apenas imitando uma entidade;

Desejar ardentemente que tenha a inconsciência durante as incorporações;

Querer aprender tudo sobre os rituais que sua casa pratica, chegando ao ponto de perguntar de tudo a todos os demais médiuns mais experimentados;

Querer saber tudo, através de relatos de outros médiuns, o que ele fez quando estava incorporado, o que a entidade falou, deixou de fazer;

Passar a realizar em seu próprio lar, uma verdadeira transformação de hábitos, querendo que todos tomem banhos de defesa, defumem-se, orem, cantem, entre outras coisas;

Querer erigir algum tipo de altar ou espaço sagrado em seu lar, tentando imitar o mais perfeito possível a quantidade de imagens, a disposição dos santos que há em seu templo umbandista;

Querer que suas entidades receitem rapidamente a confecção ou aquisição das guias (colares) e quanto maior o número de guias melhor;

Desejar ardentemente que tenha incorporações “fortes”, isto é, que as entidades já venham de modo com que não gerem dúvida a ninguém;

Que suas entidades já risquem seus pontos e que seja algo bem impressionável;

Que suas entidades deem logo seus nomes e torce para que sejam nomes “fortes” e conhecidos;

Querem decifrar todos os símbolos que suas entidades desenharam em pontos riscados;

Querem saber da história, vida, ponto cantado e tudo o mais sobre suas entidades;

Essas situações e mais outras não citadas são consideradas até normais e encaradas por aqueles outros médiuns mais tarimbados como coisa comum de se acontecer. E de fato é.

O que o dirigente e os médiuns mais experientes devem fazer é aconselhar esses neófitos, direcioná-los em atividades que os tirarão um pouco desta fixação, é ouvi-los e explicar cada uma das dúvidas e dificuldades existentes.Toda essa ansiedade é temporária e assim que o novo médium for tendo mais e mais experiências, ele passa a lidar de modo mais natural, menos ansioso e aflito com essas situações.

O tema deve ser abordado de modo atencioso, respeitoso, prático e esclarecedor para poder dar melhor formação espiritual e criar uma estrutura mediúnica mais eficaz à própria casa, uma vez que estes novos médiuns passam a compor o já formado corpo mediúnico da casa, fazendo número e qualidade na força da corrente da casa umbandista. 

Desperdiçar a chance de esclarecimento quando esses médiuns estão ávidos por conhecimento e abertos para serem direcionados é deixar ao acaso a responsabilidade da formação destes médiuns, podendo levá-los a vícios, “cacoetes” e maus hábitos mediúnicos que nunca mais poderão ser retirados.

Do livro Mediunidade na Umbanda - Richael Izolino Rocha




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08/08/2017

Velas

Velas

TODO UMBANDISTA ACENDE SUA VELINHA!

Elemento fundamental nos rituais umbandistas: as velas. Por que acendemos velas? O que elas representam e como atuam? Acho que muitas pessoas já se fizeram estas perguntas e outras nunca pensaram sobre o assunto.

A vela significa luz, atua no éter de quem recebe suas irradiações ígneas e é um simples, mas poderoso instrumento.

Tal como o incenso, uma vela acesa altera o estado energético de um ambiente ou de uma pessoa. Quando está acesa, durante o dia ou noite, além de enviar nossas intenções como luz que toca outra luz em vário níveis, ela se torna uma energia contínua de nossas orações, ela se torna a vigília de nossos pensamentos, pois sempre que passarmos por ela seu brilho chamará nossa consciência de volta para o propósito de nossa solicitação ou pensamento e a sua luz atuará como um laser para concentrar a energia de nossas intenções. Portanto ela ativa nossa fé nos mantendo em sintonia com o Plano Astral Superior e é fato que uma vela acesa positivamente atrai os bons espíritos para perto. Na realização de uma oferenda as velas acesas ativam e potencializam nossas intenções.

É importante saber também que uma simples vela consiste na união dos quatro elementos. O elemento terra, ou energia telúrica, é representado pela parafina que vem do petróleo, das profundezas do planeta; o elemento ar, com a energia eólica, é representado pela fumaça que a vela exala, ainda que tênue; o elemento fogo, ou energia ígnea, é representado pela chama da vela e, finalmente, o elemento água, e a energia mineral, é representado pela combustão dos materiais da vela onde se desprendem moléculas de hidrogênio que se combinam com o oxigênio e formam a molécula de água no estado gasoso.

Além de todas essas vibrações, energias e elementos temos também a questão da pigmentação da vela onde a cor, com base na cromoterapia, mexe com nossas vibrações mental e energética. Por exemplo: a vela branca, que representa a união de todas as cores, é purificadora, traz a sensação de limpeza, claridade e estimula a criatividade; a vela amarela simboliza a alegria de viver e o alto astral; a vela cor de rosa abre o coração e estimula todas as formas de inspiração e amor, traz conforto e aconchego à alma; a vela vermelha simboliza o dinamismo, a força e a coragem e é uma boa pedida para quem está deprimido ou sem ânimo para nada; a vela azul clara traz paz e tranquilidade, estimula o crescimento pessoal e melhora o auto controle; a vela verde representa a esperança e a abundância, estimula momentos de paz e cura, traz tranquilidade e acaba com as tensões.

Mônica Caraccio





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26/07/2017

Nanã Buruquê

Senhora nanã cor roxa


SALVE O DIA 26 DE JULHO!
SALUBA NANÃ!

Orixá Nanã Buruquê

Dia da semana: sábado – dia do Astro Saturno.

Data comemorativa: 26 de julho

Sincretismo: Santa Ana

Cor: Lilás

Ervas: manjericão roxo, manacá, alfavaca roxa e outras.

Frutas: mamão, jaca, melancia e outras.

Flores: todas as flores na cor lilás.

Pontos de Força: Lagos

Elemento: água

Pedra: ametista

Símbolo: ibirin (com palha da costa)

Saudação: Saluba Nanã – Significa: Salve a soberana das águas.

Astro: Saturno – planeta mais lento

Deuses na mitologia greco-romana: Saturno para os romanos e Chronos para os gregos.


Nanã é Orixá que tem como reinos ou pontos de força as águas paradas e naturais do planeta, como os lagos. O lago remete ao arquétipo de calmaria, principal característica desta Orixá. Por ser Orixá que representa a idade avançada e ser Orixá das águas, água que na terra é o princípio, o planeta iniciou a sua formação na água, bem como a formação do ser humano e outros animais, água que é imprescindível para a manutenção da vida, por estes e outros motivos aliados à sabedoria típica dos mais velhos onde se constata a majestade de Mãe Nanã, ela é respeitada e a ela cabe o lugar de Matrona da Umbanda. Mãe amorosa e paciente, benevolente, que transmuta energias dinâmicas e agitadas em energias lentas e muito equilibradas, levando à paz, ao equilíbrio e à mansuetude.

Nanã é a Orixá que favorece o equilíbrio de diversas atuações de outros Orixás e Guias da Umbanda. Como uma mãe que atende a todos, para o bem de todos, sem distinção. Orixá fundamental para a sustentação de todas as linhas de Umbanda.

Do livro "Umbanda Luz e Caridade - Ednay Melo"


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24/07/2017

Comprometimento no Terreiro

Comprometimento no Terreiro


Todo dirigente deseja ter uma corrente fiel, harmônica e cúmplice. E de fato para que isso aconteça, devem ser valorizados os ensinamentos através de sua doutrina, além de incentivadas virtudes como compromisso e comprometimento.

Compromisso e comprometimento é a mesma coisa?

Não, mas é verdade que ambos nos levam a tomar uma posição.

Compromisso significa assumir deveres, respeito, horário, atividades e regras. Assim ao assumir o compromisso de ingressar em uma gira, concordamos em assumir integralmente suas normas e regras.

Comprometimento é a identificação e motivação, é um laço moral com um trabalho, uma causa ou um ideal. Estar comprometidos com uma gira nos levará a despender esforços imensos em prol dela, sem maiores queixas, pois haverá sempre fortes motivos para fazê-lo.
Médiuns comprometidos terão muito mais facilidade em assumir e honrar seus compromissos perante a Umbanda e seus dirigentes.

Que tal nos comprometermos mais ainda com nossa Religião, honrando e respeitando seus dirigentes e guias, seus irmãos de fé, assistência e principalmente o compromisso assumido com seu Pai de Cabeça e Dirigente na feitura do Amací?

Pai Jussaro


***

Dia desses ouvi um papo muito interessante sobre nós, integrantes de um terreiro ou centro espírita. O senhor que tecia o monólogo o estava utilizando para dar uma pequena bronca nos trabalhadores do centro, mas vou escrever aqui o que me tocou e o que acho que tem tudo a ver com quem está caminhando dentro dessa vida de contato com a espiritualidade.

Ele falava sobre comprometimento. Falava, na verdade, sobre a responsabilidade que temos que adquirir do momento em que assumimos a farda, ou do momento em que passamos a entender a vida por esse aspecto. Comprometimento com as pequenas coisas, com tudo que nos cerca e que, na maioria das vezes, tendemos a deixar de lado.

O centro funciona devido a várias coisas que fazemos acontecer. O trabalho é aberto depois de estar com vários pormenores prontos, dando condições a todos trabalharem. E um desses pormenores é a limpeza do local. Sei que, para nós, parece mais importante estar lá, cuidando dos apetrechos dos guias, das firmezas, das tronqueiras. Claro, isso também é muito importante, mas para o terreiro funcionar corretamente, cumprir sua função, é preciso que tenhamos assistentes, pessoas que vão até lá para serem ajudados. Dependemos tanto deles quanto dos guias e não é à toa que um centro sério sempre vive cheio. Agora, imaginem vocês recepcionar essas pessoas tão especiais, que estão lá para encontrar um auxílio, em uma casa suja, desorganizada. Esse é o primeiro comprometimento que devemos ter: deixar o local o mais organizado, limpo e bem apresentável possível. Tendemos a esquecer disso e, no afã do início, onde tudo é bonito, nos responsabilizarmos com essa pequena coisa e, depois, quando a empolgação passa, simplesmente deixamos de lado. A magia está nos pequenos fazeres e esse é um deles. Um altar mal tradado só pode atrair más forças. E esse altar é você mesmo.

As responsabilidades adquiridas, mesmo com a contribuição mensal, com a compra de materiais, com a aquisição de flores, ervas ou qualquer outra coisa, faz parte do ritual. E como poderemos ser bons médiuns se nem isso conseguirmos cumprir?

Vale lembrar que a magia é uma reunião de pequenos atos. Atos esses que devem estar em nosso inconsciente como marcas de nascença e isso só acontece com a prática, com a observação das pequenas coisas. E a magia só acontece quando o material está em ordem. Se não conseguimos nem nos responsabilizar com o material, quem dirá com o mágico, com o espiritual?

Artefolk






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07/07/2017

Xamanismo

Xamanismo


Nos primórdios da humanidade, não havia fronteiras entre ciência, arte e religião. Tudo se fundia em uma única busca: conhecer as forças da natureza e saber usá-las em benefício do homem. Esse era o domínio do xamã, figura tribal que exercia múltiplas funções – de sacerdote e curandeiro, pesquisador do poder de cura das plantas, a músico e poeta, narrador e guardião dos mitos e histórias do seu povo. O termo original saman vem justamente do verbo “conhecer” na língua siberiana manchu-tungus, significando “aquele que conhece” ou, simplesmente, “feiticeiro”. Em português (ou melhor, tupi), o exato equivalente seria “pajé”. A definição clássica de xamanismo – “técnicas arcaicas de êxtase” – pertence ao filósofo romeno Mircea Eliade (1907-1986), especialista em História das Religiões e um dos vários estudiosos que ficaram impressionados com o modo como as práticas xamânicas se reproduziam identicamente entre nativos de regiões tão distantes quanto Sibéria, Austrália e Amazônia.

A principal delas, como destaca Eliade, é entrar em transe – por meio de ritmos repetitivos tocados em tambores ou de substâncias psicoativas encontradas em fungos ou vegetais. Nesse estado alterado de consciência, o xamã seria capaz de realizar o chamado “vôo mágico”: desprender-se do próprio corpo para viajar a outros planos do universo, para o além. “Nesses mundos – alguns celestiais, outros subterrâneos –, ele vai resgatar almas perdidas. Isso porque, na crença desses povos, quando alguém está doente é porque sua alma está perdida”, diz o antropólogo Robin Wright, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Outro traço comum às diversas tradições xamânicas é trabalhar com “espíritos aliados” – tanto de seus ancestrais, quanto de bichos selvagens e ervas medicinais. São os chamados animais e plantas de poder, que o ajudam a viajar por outras dimensões e a curar males físicos e psicológicos, além de conduzir rituais que propiciem a caça e a fertilidade da natureza.


O mistério das cavernas

Pinturas pré-históricas sinalizam o nascimento simultâneo da arte e do xamanismo

Muitos historiadores, arqueólogos e antropólogos acreditam que a origem do xamanismo está na Europa do final da Idade da Pedra, entre 30 000 e 20 000 anos atrás. A evidência principal estaria nas magníficas pinturas rupestres encontradas em cavernas da Espanha e da França. A maioria delas representa animais como cavalos, bisões e cervos, provavelmente com a intenção simbólica e ritualística de propiciar a caça, fazendo um pacto com os espíritos desses bichos. Mas a imagem mais enigmática de todas é a figura acima, pintada na parede da caverna de Trois Frères, no sul da França: uma criatura semi-humana, batizada de Feiticeiro Dançarino, com orelhas de lobo, chifres de veado, rabo de cavalo e patas de urso. Há duas interpretações para ela. Para alguns estudiosos, trata-se do registro mais antigo da união de um xamã com seus animais de poder.

Outros acreditam que seja uma entidade sobrenatural: o Grande Espírito da caça e da fertilidade animal. As primeiras esculturas e instrumentos musicais (tambores e flautas feitas de ossos), são da mesma época, reforçando a tese de que os xamãs foram os criadores não só das artes visuais, como da música e da poesia lírica.



Há crenças xamânicas em todas as culturas, da Sibéria à floresta Amazônica. Elas usam a natureza para abrir o caminho espiritual que leva a Deus


“Tome, caballero”, disse a velha índia ao jornalista americano Terence McKenna. Era 1981 e a cena se passava numa cidadezinha remota, em plena selva peruana. McKenna segurou o pequeno copo de barro, ignorou a aparência repugnante da bebida dentro dele e sorveu o líquido devagar. Em pouco tempo, seus lábios estavam adormecidos. Sentiu sono e cerrou os olhos. Depois de alguns minutos, uma luz se acendeu dentro do cérebro – e ele enxergou um caudaloso rio feito de fachos de luz. “Não sei o que vi, mas parecia Deus”, confessou o jornalista, que mais tarde escreveria o livro Food of the Gods – A Radical History of Drugs, Plants and Human Evolution (“Alimento dos Deuses – Uma História Radical de Drogas, Plantas e Evolução Humana”, inédito no Brasil).

A experiência mística descrita acima é típica de um ritual xamânico. Parece coisa de índio da Amazônia, não? E é mesmo, mas não só de índio. Segundo a Encyclopedia of Religion and Nature (“Enciclopédia de Religião e Natureza”, sem tradução para o português), o xamanismo está presente em todas as culturas. “Existem xamãs na África, na Sibéria, no Extremo Oriente, nas Américas… Em todo lugar”, diz o antropólogo americano Michael Harner, criador da Fundação para Estudos Xamânicos, na Califórnia, EUA.


Alucinógeno não: enteógeno

A neurologia e a psiquiatria, entre outros ramos da ciência moderna, são cautelosas – para dizer o mínimo – ao analisar a natureza dos efeitos provocados por substâncias como a ayahuasca (bebida preparada com plantas amazônicas) ou a mescalina (feita a partir de um cacto mexicano). Mas isso não tira o fascínio da coisa. Nas palavras do romeno Mircea Eliade, autor de Tratado de História das Religiões (Editora Martins Fontes), o xamanismo é a técnica arcaica da busca do êxtase. “Ao contemplar a natureza, o homem primordial perguntava-se se não havia um espírito sagrado por trás dela”, diz o inglês Phil Hine, especialista em práticas xamânicas e ocultismo. “Ele intuía a existência de um elo sagrado entre o exterior natural e o interior humano – uma face visível do espírito.”

Para criar uma ponte entre Deus e o ser humano, os xamãs se valem de diversos meios: jejuns, meditação, retiros espirituais , entre muitos outros. O mais poderoso, no entanto, sempre foi a ingestão de substâncias vegetais. Alucinógenas? A maioria dos usuários não gosta desse adjetivo. O termo correto seria “enteógeno”, já que a ingestão acontece em rituais religiosos e se presta a estabelecer uma conexão com o sagrado. O movimento ganhou nome – vegetalismo – e está representado no Brasil por várias organizações, entre as quais se destacam Santo Daime, União do Vegetal e Natureza Divina.

Revista Superinteressante




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03/07/2017

Azeite de Dendê


Azeite de Dendê


Muitos filhos perguntam - o que é o Azeite de Dendê? - Para que serve? segue um texto muito simples e objetivo que responde a estas perguntas.

Produzido a partir do fruto da palmeira conhecida como dendezeiro é originário da Costa Ocidental da África, mais precisamente do Golfo da Guiné, sendo encontrado desde Senegal até Angola. O dendezeiro é conhecido também como palmeira de óleo africana, aavora, palma de guiné, palmeira dendém, coqueiro de dendê e dendem (em Angola). Chega a 15 m de altura, seus frutos são de cor alaranjada e a semente ocupa totalmente o fruto.

As primeiras sementes de dendezeiro foram trazidas para o Brasil há mais de 3 séculos pelos escravos africanos e se adaptaram bem ao clima tropical. Câmara Cascudo afirma que “como era costume na África, rara seria a iguaria negra sem a participação do azeite de dendê”, assim, juntamente com outras iguarias importantes como as bananas, os quiabos, os inhames, o coco e as especiarias como a erva doce, o gergelim e algumas pimentas, veio o dendê, tornando-se indispensável na culinária afro-brasileira.

O óleo de dendê é fonte natural de vitamina E e é riquíssimo em vitamina A. Tem 21 vezes mais vitamina A que a laranja, 400 vezes mais que o tomate e 14 vezes mais que a cenoura, por isso é tão vermelho. Quando o azeite é aquecido a vitamina A é destruída e o óleo fica branco. O rendimento do dendê é muito grande, produz 10 vezes mais óleo que a soja, 4 vezes mais que o amendoim e 2 vezes mais que o coco. Faz muito bem à saúde, afirmam os especialistas. Da amêndoa de seu fruto se extrai um óleo usado em cosmética, na fabricação de chocolate substituindo a manteiga de cacau e ainda é utilizado na indústria de maioneses e margarinas.

No Candomblé a palmeira de dendê é uma árvore Sagrada, seu óleo é muito utilizado nas Comidas de Orixás e o coquinho é usado em um dos Oráculos de Ifá.

Na Umbanda representa a SABEDORIA ANCESTRAL trazida pelos negros da África. Representa FORÇA, ENERGIA , VIDA , SABOR e FEITIÇO. O azeite dendê tem a característica de “erva quente”, ou seja, tem energia agressiva , ativa e quando aquecido torna-se mais agitado, portanto precisa ser usado com critério.

Utilizamos o óleo de dendê nas oferendas, principalmente para a Esquerda, com a função de desagregar qualquer tipo de carga ou energia negativa. Com os coquinhos de dendê pode-se fazer guias que, após serem imantadas e consagradas pelos baianos, boiadeiros e até pelos caboclos, se tornarão fantásticos instrumentos de trabalho e de proteção, pois são símbolos da Sabedoria trazida dos negros africanos.

Mônica Caraccio





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