Tenda de Umbanda Luz e Caridade - Tulca

10/01/2014

Casamento na Umbanda

Casamento na Umbanda

Sem preocupação de incorrermos em equivocado juízo de valor que possa suscitar discussões dentro de nossa religião, asseveramos que um dos sacramentos (atos religiosos de caráter especial, extraordinário) que quase não é utilizado por médiuns e assistentes nos Templos Umbandistas, é o Casamento.

Antes de tecermos comentários sobre as razões determinantes para que tal ato solene, comum dentro de outras religiões, não esteja efetivamente inserido no rol de ritos religiosos de Umbanda, convém que apresentemos um breve relato histórico sobre o surgimento desta respeitável instituição.

O Casamento, tal qual o conhecemos, tem seu ponto de origem no antigo Império Romano, onde existiam três modalidades de união entre o homem e a mulher.

A primeira forma era a Confarreatio, união da nobreza romana, correspondendo ao matrimônio religioso. A segunda forma era a Coemptio, a união da plebe, do povo, correspondendo ao matrimônio civil. E finalmente a Usus, consistindo tal na aquisição da mulher pela posse, apreensão física.

A igreja cristã romana (católica), querendo expandir seu poder e área de influência, começou a reivindicar seus "direitos" sobre a instituição matrimonial, até então de base não cristã, incorporando tal ato como sacramento evangélico, e regulamentando-o no Concílio de Trento (1545-1563).

Pelo exposto, identificamos a primeira e principal causa, a causa-matriz, para que ainda hoje tal ato sacramental não tenha sido incorporado de maneira plena, implantado de forma integral por nossa religião: a reivindicação de propriedade da instituição casamento pela igreja cristã que, consoante seu poder de persuasão, induziu reis, rainhas, imperadores, governos, e principalmente o povo ignorante, a considerarem tal ato como divino e de exclusividade da mencionada religião.

Com o passar do tempo outras religiões reagiram ao repulsivo monopólio de celebração de casamentos pela citada igreja, que tentava de maneira vil desqualificar tal ato solene em outros segmentos religiosos, com justificativas tais como não ser "homologado por Deus". Felizmente as religiões pré-cristãs continuaram a celebrar as uniões, e as pós-cristãs implantaram a cerimônia em seus rituais.

No tocante ao Brasil, país colonizado por portugueses, povo essencialmente católico, a igreja passou a ter grande influência sobre a administração da nova colônia, impondo aos nativos e posteriormente aos escravos oriundos da África sua doutrina religiosa. Saliente-se que até o início do século XIX o catolicismo era considerada como a religião oficial do Brasil.

E é neste contexto que é formada a sociedade brasileira, onde seus féis professavam tal religião por devoção, tradição, ou imposição. Sob esta esfera de atuação da igreja papal, a sociedade brasileira foi compelida a ter como legítimo perante Deus e a sociedade os casamentos somente realizados pela igreja de Roma. Ao par disto, muitas pessoas não cristãs ou cristãs não católicas eram subjugadas pela tradição ou pressão social a se valerem dos préstimos dos sacerdotes católicos para concretizarem o matrimônio.

Os fiéis umbandistas também sofreram com o cenário descrito. Sendo em sua grande maioria ex-católicos (no início do século XX), louvavam a Espiritualidade de Umbanda; porém, na ocasião de convolarem núpcias recorriam ao expediente católico.

Aqui encontramos mais duas causas para a não utilização do casamento na Umbanda: *A ausência de conhecimentos doutrinários umbandistas e de ordenamentos ritualísticos que propiciassem aos presidentes e/ou diretores mediúnicos de culto transmitir a médiuns e assistentes os sacramentos a sua disposição, dentre os quais o matrimônio, fatos justificados pela recém chegada de nossa religião.


* A falta de consciência e convicção religiosa por parte dos fiéis umbandistas (médiuns e assistentes), em razão do desconhecimento das bases e diretrizes da Umbanda (ainda hoje muitos a consideram seita).


Por derradeiro e não esgotando o número de causas existentes, pontuamos como sendo mais um fator relevante para a não celebração de casamentos da Umbanda o despreparo intelectual, cultural e de oratória de muitos dirigentes, sem a devida capacidade para presidirem solenidade de grande significado, como o é o Casamento.

Passemos a direcionar nossas atenções para a importância que o casamento realizado nos Templos Umbandistas tem. E o faremos abordando os aspectos subjetivo, objetivo e de imagem. No que concerne a subjetividade e objetividade do ato solene, o foco será direcionado a médiuns e assistentes.

Subjetivamente falando, nada mais salutar, digno de orgulho e emocionante do que a possibilidade dos fiéis de nossa religião concretizarem o desejo de se unirem a outra pessoa, a fim de constituírem família, terem filhos, serem companheiros de jornada encarnatória e externarem o amor que no relacionamento existe, tendo como cenário o templo da religião que abraçaram com fé, respeito e dedicação, lugar em que recebem o consolo, a palavra amiga, o incentivo, o respeito como cidadãos, e o auxílio fraternal da Corrente Astral de Umbanda. Só quem já esteve presente em algum matrimônio realizado em um terreiro (são raros) pode atestar a alegria, a felicidade e a harmonia dos nubentes.

Não há quem não se contagie com a cerimônia, onde os noivos, corpo de médiuns e convidados são envolvidos por poderosas ondas vibratórias de paz, amor e vitalidade emanadas pela Espiritualidade.

A nível objetivo, é a oportunidade, é a ocasião dos noivos expressarem seu respeito, seu crédito e seu sentimento em relação à Umbanda. É uma mensagem de confiança para com nossa religião, que poderíamos traduzir em palavras, da seguinte forma: "estamos realizando nosso casamento na Umbanda para externarmos nossa convicção e consciência religiosa, nossa gratidão, nossa confiança nos Caboclos (as), Pretos (as) - Velhos (as), nos Ibejis (crianças), e nos Guardiões (Exus e Bombogiras). Não temos vergonha de sermos Umbandistas ! Aqui louvamos a Deus (Zambi, Tupã, Olorum), louvamos os espíritos de elevadíssima grandeza (Orixás). É aqui que procuramos resgatar nossas faltas, evoluirmos espiritualmente. Neste lugar encontramos um campo fértil em fraternidade, humildade, simplicidade e verdade!". É isto que verdadeiros e dedicados filhos de Umbanda transmitiriam aos presentes à solenidade.

No quesito Imagem, é a Umbanda-religião que será a principal "personagem" do ato matrimonial. Sim, companheiros! O casamento é um ato de repercussão social que possibilita a nossa religião se revelar a terceiros não umbandistas como segmento religioso de bases e diretrizes bem definidas, de identidade própria, de respeito, de seriedade, e de imaculada atividade mediúnico-espiritual. É a ocasião propícia para aqueles que têm uma visão distorcida de nosso Porto de Fé ficarem desapontados, surpresos e encantados. Desapontados, por não visualizarem naquele espaço religioso algo que justifique seu preconceito e discriminação; surpresos, na medida em que jamais imaginariam ver uma solenidade organizada, bonita, bem conduzida; encantados, por se sentirem energizados, vibrados, eletrizados pela atmosfera mágico-espiritual do Templo Umbandista.

Partindo para um outro ponto, pertinente também ao sacramento em pauta, asseveramos, assentados no bom senso e na lógica, que a cerimônia nupcial deve ser dirigida pelo presidente ou diretor de culto da Casa, vale dizer, por um encarnado. Talvez nossa posição, que reputamos firme e coerente, possa fazer surgir contrariedades em algumas mentes obtusas. Entretanto, não nos importa tais modos de pensar, e sim a preservação da imagem da Espiritualidade e da Umbanda, que são sagradas, não podendo de maneira alguma serem maculadas por ações humanas.

Seria um farto material de propaganda negativa do mundo espiritual e de nossa religião, e os adversários esperam sorrateiramente tal situação aflorar, se os espíritos mentores dos Templos Umbandistas oficiassem tal solenidade e, mais tarde, por fatos circunstanciais ou kármicos o casamento se desfizesse.

Com absoluta certeza muitos inimigos da Umbanda, ou mesmo parentes e amigos do ex-casal, iriam vincular a dissolução do matrimônio ao evento realizado por uma entidade espiritual, responsabilizando-a pelo fracasso do casamento. Alguns indivíduos maliciosos e/ou ignorantes diriam: "Também, casamento realizado por `encosto` só podia dar em tragédia, ruína". Outros diriam: "Onde está a força das entidades espirituais que deixaram isto acontecer!". Pronto!!, a mesa está posta. Em cima dela a Espiritualidade e a Umbanda se encontram como banquetes, a esperar os inimigos para "devora-las", através do escárnio, da depreciação, das ofensas, da publicidade difamatória. É isto que os verdadeiros umbandistas desejam para a Corrente Astral de Umbanda e para a Umbanda-Religião? É claro que não!

Deixemos de lado a excessiva dependência para com os espíritos. Assumamos a responsabilidade por ações que nos cabem realizar.

Eliminemos de nosso meio religioso colocações como: "Foi meu guia que realizou a cerimônia!; meu guia é muito bom!, sabe fazer um casamento!; meu mentor sabe das coisas!, só ele mesmo para efetivar uma linda cerimônia!". Tais afirmações só servem para atestarmos a vaidade de alguns e a ausência de preocupação com a Espiritualidade e a Umbanda.

Para robustecermos nossa opinião, convém esclarecermos que o casamento e ato de criação humana, uma formalidade legal (de Lei), se formando a partir de hábitos e convenções humanas, com direitos e deveres para os cônjuges, sendo coerente que tal ato solene seja presidido por um encarnado e não por um espírito.

Ademais, não devemos confundir união espiritual entre encarnados com casamento entre encarnados.

O fato é que, mesmo a solenidade sendo presidida pelo dirigente físico da Casa, portanto sem incorporação (acoplamento), os espíritos integrantes da corrente do Terreiro estarão alí, felizes e zelando pela normalidade e harmonia do ritual. Não devemos olvidar dos padrinhos. Semelhante ao acima mencionado, somos favoráveis a que sejam constituídos por pessoas, o que não impede que haja padrinhos espirituais, que por certo estarão presentes à solenidade, porém não incorporados em seus médiuns.
Avancemos um pouco mais no tema e falemos sobre o ato solene em si e todas as peculiaridades que o envolvem.

O matrimônio é um evento marcante na vida das pessoas. É o momento que reflete e concretiza o desejo de duas pessoas em viverem juntas sob o mesmo teto, compartilharem momentos de alegria e felicidade, de estarem unidas em prol de um projeto de vida, de apoiarem-se mutuamente durante eventuais intempéries da vida, com amor, carinho, amizade, respeito e fraternidade. E é justamente por tais motivações que a cerimônia nupcial deverá ser cercada de preparação e cuidados especiais, consoante a justa importância que tem.

Em relação aos nubentes, se forem sacerdotes, deverão realizar alguns rituais preparatórios que não cabe aqui comentarmos. O mesmo para o caso dos noivos serem apenas assistentes, fiéis, somente variando os tipos de preceito. Em tais situações, a orientação e supervisão caberão ao mentor espiritual do Templo, ou ao presidente da Casa.

A vestimenta dos noivos poderá seguir os costumes dos casamentos em geral. Entretanto, somos favoráveis à utilização da cor branca, símbolo cromático da Umbanda. Os padrinhos utilizarão roupas com modelos e cores solicitados pelos futuros cônjuges.
Para o corpo de médiuns o vestuário será o sacerdotal.

No que diz respeito à decoração do salão onde se realizará a cerimônia, esta será de iniciativa dos interessados, sob a chancela do dirigente do terreiro.

Um outro detalhe que merece atenção especial das Instituições umbandistas que realizarem casamentos, fator que revelará a organização, a respeitabilidade e a seriedade do Templo, é a existência de um livro especial, o Livro de Casamentos, onde deverão ser registradas todas as informações pertinentes ao ato matrimonial, além das assinaturas do celebrante, dos noivos e dos padrinhos. Além disto, após o casamento, a competente certidão do ato realizado deverá ser expedida e entregue aos noivos, fazendo o documento prova do matrimônio religioso.

A legislação em vigor prevê três tipos ou modalidades de casamento: o Religioso, o Civil, e o Religioso com Efeitos Civis, cabendo aos noivos que desejarem se casar na Umbanda optar pela primeira ou terceira modalidades, conforme as circunstâncias.

Esperamos ter contribuído para estimularmos os irmãos de fé a realizar seu casamento dentro de nossa amada Religião.

E aí umbandistas, vamos casar na Umbanda !?

Fonte: Tenda de Umbanda Caboclo da Lua e Zé Pilintra




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09/01/2014

Quem Foi o Caboclo das Sete Encruzilhadas?


Caboclo das Sete Encruzilhadas


... E no entardecer :

E no entardecer do dia 21 de setembro de 1761, na Praça do Rossio, no centro de Lisboa, um santo foi queimado na fogueira dos hereges. Gabriel Malagrida entregou a alma a Deus e o corpo aos carrascos. Tinha 72 anos, 30 deles passados de pés descalços peregrinando pelo Norte e Nordeste brasileiros. Ergueu igrejas e mosteiros, protegeu índios e prostitutas, caminhou mais de dez mil quilômetros entre o Pará e a Bahia. Ganhou fama de taumaturgo, milagreiro. Por ordem e trama do primeiro-ministro Marquês de Pombal, Malagrida terminou acusado de blasfêmia e heresia. Ouviu a sentença de morte no alto de uma carroça, com um barrete de palhaço na cabeça, mãos amarradas para trás e batina pintada com figuras demoníacas. Quando Pombal, ao lado do rei d. José, ordenou a execução, o padre beijou as escadas do cadafalso, virou para o povo, jurou inocência e perdoou seus acusadores. Abaixou a cabeça, ajudou ao próprio algoz a colocar a corda em seu pescoço. Na primeira puxada, o laço se rompeu e a multidão gritou assombrada. A tragédia estava adiada por alguns minutos. Homens e mulheres começaram a prece dos agonizantes, mas não terminaram a oração. Foram impedidos pelos quatro mil soldados de prontidão. ‘‘Senhor, nas vossas mãos entrego minha alma’’. Derradeiras palavras. Em poucos segundos, o padre estava enforcado pela Santa Inquisição. O carrasco acendeu a fogueira, onde o corpo queimaria toda a madrugada, velado pelos milhares de fiéis. As cinzas foram jogadas nas águas do rio Tejo. Quando o dia amanheceu, os católicos de Lisboa espalharam uma mesma notícia: o fogo não queimara o coração do mártir. A tragédia de um peregrino Padre Severino ensina aos fiéis da Paraíba os feitos de Malagrida.



Gabriel Malagrida nasceu padre:
Ainda pequeno, na cidade de Menaggio, no Norte da Itália, aprendeu com o pai Giácomo, o dom da caridade. O patriarca era médico de renome, consultado até por príncipes, mas dedicava boa parte do trabalho ao cuidado de doentes pobres que visitava nas distantes montanhas. Gabriel ia junto. Adorava estudar religião e aproveitava as férias para ensinar catecismo aos irmãos e colegas da rua. Sua brincadeira predileta era montar altar no quintal. A mãe, Ângela, chamava o filho de ‘‘o anjo da casa’’. Era morada cheia de religiosidade. Na parte nobre da casa, havia o que os Malagridas apelidaram de o ‘‘quarto do santo‘‘ por conta do teto coberto de pinturas de Nossa Senhora. O sonho do casal era ver os filhos formados padre e rezando missa ali. O projeto deu certo. Dos onze herdeiros, três viraram sacerdotes. Aos 12 anos, o pequeno Gabriel foi estudar no colégio dos padres Somascos, na cidade de Como. Não era um aluno como os outros; tinha hábitos estranhos. Mordia os dedos até sangrar e quando lhe perguntavam a razão daquilo respondia: ‘‘é para a salvação dos infiéis’’. Nascia assim o costume das penitências físicas que o acompanhou até o fim da vida. Em 1713, no seminário, em Gênova, onde se formou jesuíta com 24 anos chegava a fazer jejuns três vezes por semana. Dizia que era para refrear a natureza e guerrear contra as tréguas do corpo. Era comum ele se açoitar publicamente. Uma vez, em Salvador, na Bahia, Malagrida rezava o sermão na Matriz quando lhe apontaram um homem pecador, cheio de vícios e de ‘‘ignóbeis costumes’’. Como não conseguia, com palavras, converter o cidadão, Malagrida, então, bateu-se com o chicote até o sangue espirrar de suas costas. Ao assistir à dolorida cena, o pecador não se conteve: em lágrimas, ajoelhou-se nos pés do padre, implorando com gemidos o perdão de seus crimes.

A Seguir... você vai conhecer um pouco da biográfia do peregrino que construiu abrigos para prostitutas, fez procissões imensas, criou a Ordem do Sagrado Coração de Jesus e denunciou padres e governadores corruptos. Para conhecer vestígios deixados pelo religioso no Brasil, A nossa equipe percorreu parte das trilhas de Malagrida no Piauí, Maranhão, Ceará, Paraíba e Pernambuco. Junto com o ‘‘Aos povos de Itália não cansam meios de chegar à salvação; além-mar, pelo contrário, inúmeras nações jazem ainda nas trevas da idolatria: vamos acudir a essas almas desamparadas’’. Com esses argumentos, Gabriel Malagrida convenceu o Bispo Geral dos Jesuítas a virar missionário nas Américas. Trocava os estudos avançados de teologia e literatura pela catequese dos índios. Saiu de Lisboa e desembarcou em São Luís do Maranhão no final do ano de 1721, mas demorou dois anos até ser mandado para a primeira missão com os índios. Seus superiores preferiam o erudito religioso nas salas de aula dos seminários de jesuítas e achavam que Malagrida não estava preparado para o convívio com os arredios nativos. Depois de muitas súplicas, o padre conseguiu realizar o antigo sonho. Foi missionário indígena entre 1723 e 1729. Percorria as matas a pé, vestido com a batina preta típica dos jesuítas. Não era a melhor maneira de atravessar o interior maranhense. ‘‘Quem quer andar por essas terras tem que se proteger do mato com roupa de couro e andar sempre a cavalo ou num burro’’, ensina José Assunção e Silva, o Zé Doca, boiadeiro na região de Caxias, antiga Aldeias Altas. Nesse lugar, Malagrida passou em 1726 para catequizar os Guanarés, etnia desaparecida do Maranhão. No Século XVIII, esses índios eram numerosos e arredios ao contato com os brancos. Já haviam sofrido com os portugueses quando Malagrida iniciou o trabalho de catequese. Penou até conquistar a confiança dos Guanarés. Chegaram a decidir em assembléia que matariam o padre. Só conseguiu escapar porque na hora da excução, uma índia velha conteve o braço do nativo. ‘‘Suspende’’, gritou a mulher. Explicou que da última vez em que um índio matou um padre roupeta-negra, terminou devorado por vermes. Assustados, os Guanarés liberaram o jesuíta. ‘‘Dificilmente se reconhece o tipo humano nos índios moradores desta região. Abrigam-se em cavernas como as feras e alimentam-se unicamente de caça. As vezes travam-se em pelejas e então devoram os vencidos’’, descreveu Mathias Rodrigues, um dos companheiros de apostolado de Malagrida e que escreveu relatos do tempo em que os dois estiveram no Brasil. O manuscrito de Rodrigues está hoje na biblioteca dos padres boulandistas, em Bruxelas, na Bélgica, mas o professor Vitor Leonardi conseguiu cópia microfilmada da preciosidade. ‘‘É o documento mais importante sobre Malagrida’’, resume Vitor que nos próximos meses irá editar livro com a íntegra do texto. Pelas linhas escritas por Mathias Rodrigues, Malagrida ainda considerava os índios bárbaros selvagens, mas não aceitava sua escravidão. Durante os seis anos em que conviveu com tribos do Pará e do Maranhão, o jesuíta defendeu a tese de que as aldeias deveriam ficar longe do contato com os portugueses. Temia pela saúde moral e física dos nativos. Ou seja, combatia a tradição dos colonizadores que pegavam índios para trabalhar na lavoura de cana. 

Em 1729, Malagrida foi retirado da missão indígena e levado para São Luís. 

Primeiro Milagre...
A vida na capital não sossegou o padre. Em São Luís, iniciou nova etapa de sua jornada: a de missionário popular. Ao invés de índios, cuidava agora dos brancos, moradores da periferia. Dava aula de teologia durante a semana e aos sábados partia para os povoados vizinhos de São Luís. Era livro grosso com as rezas cotidianas que, por vezes, servia de travesseiro quando o religioso adormecia no mato. Para se proteger da floresta fechada, usava um cajado, até bem pouco tempo guardado na Itália como relíquia e apelidado de ‘‘o bordão do peregrino’’ ‘‘Malagrida era pregador carismático’’, explica Miguel Martins Filho, 39 anos, padre, professor de literatura e diretor do Instituto Gabriel Malagrida, em João Pessoa. É ali que se formam todos os jesuítas brasileiros. O que Miguel chama de carisma aparece no jeito de Malagrida atrair os ouvintes. Nos dias santos em São Luís juntava os fiéis em frente a igreja e com um estadandarte nas mãos, saíam todos em procissão cantada pelas ruas da cidade. Paravam nas praças e o padre reunia o povo em volta dele. Ali, dava aula de catecismo, representava teatralmente as principais passagens bíblicas e depois interrogava a platéia sobre o assunto. Foi numa dessas pregações interativas em São Luís que Malagrida fez o que os livros tratam como seu primeiro milagre. Falava aos fiéis sobre a importância da reconciliação entre inimigos quando um dos ouvintes contou que cometera injúria mortal contra um de seus parentes. Na frente do antigo desafeto, contou que estava disposto a pedir perdão, mas o homem não quis fazer as pazes. Malagrida, indignado interferiu. ‘‘Meu irmão, não quereis perdoar ao vosso próximo para que o Senhor vos perdoe?’’. Repetiu a pergunta várias vezes, mas como o indivíduo insistia na recusa, Malagrida gritou atordoado: ‘‘Pecador, recusas a escutar o teu Deus que te convida a perdoar, não tardará que prestes conta a teu juiz da tua dureza, e sofrerás então o castigo merecido’’. Pronto, em menos de 24 horas o infeliz morreu com tiro de mão desconhecida. O povo passou a tratar Malagrida como ‘‘o profeta’’. Carregou esta fama para sua grande viagem missionária, iniciada em julho de 1735 do Maranhão até a Bahia. Primeira longa parada: Piracuruca, no norte do Piauí. ‘‘Servia de igreja aí uma vil casa de farinha com quatro paredes mal pintados por cima, cheia de morcegos. Eu mesmo dei a idéia de construir grandiosa igreja. Todos ofereceram suas esmolas’’, conta Malagrida numa carta mandada ao Bisbo do Algarve, em Portugal. Passados 262 anos, o templo de Piracuruca está de pé. Seu padre, José da Silva Ribeiro, 37 anos, vive pedindo esmolas aos moradores da cidade. Para Malagrida, o Brasil parecia uma Babilônia de pecados. Reclamava dos casamentos fora da Igreja, se horrorizava com a luxúria dos padres e se impressionava com o número de prostitutas. Nos oito dias em que passava em cada cidade, o jesuíta pregava contra os amancebados, chegava a praguejá-los. Em fevereiro de 1744, fazia missão no povoado de Várzea Nova, no interior da Paraíba, quando descobriu homem e mulher que viviam juntos há anos sem oficializar a união. Malagrida foi até a casa dos dois. Tentou convencê-los a dar um ‘‘jeito cristão’’ à história. A mulher concordou, mas o homem achou bobagem aquele falatório do padre. Malagrida renovou seus pedidos, fez pregações públicas sobre o caso, até que num dos sermões avisou que se o cidadão não mudasse de idéia se perderia para sempre. Em 24 horas, o homem morreu com uma terrível dor de cabeça. Neste mesmo povoado de Várzea Nova, a fama milagreira de Malagrida resistiu ao tempo. ‘‘Desde menina, ouço os antigos contarem que o padre Malagrida encostou a mão numa criança que morria de febre e ela ficou logo boa’’, diz Maria Salete da Silva, 58 anos, nascida na região. Ali, não há mais as curas providenciais do padre, porém quem adoece é atendido no posto de saúde de nome Gabriel Malagrida. Na frente, há uma enorme estátua de cimento do jesuíta. 

Vigários do Prazer...
Durante suas expedições, Malagrida cruzou com muitos companheiros de batina fora da linha. Alguns chegavam a cobrar para rezar missa, outros conheciam os prazeres da carne. Tinham mulheres e filhos, o que para Malagrida era um escândalo sem precedentes. ‘‘Esbarrei num vigário que tinha três mancebas patentes e vinte filhos’’, denunciava o missionário em carta aos superiores. Se o barbudo Malagrida era exigente com os fiéis e religiosos, pior ainda era sua auto-cobrança. Tamanha austeridade impressionava até os poucos padres corretos das vilas por onde passava. ‘‘Depois de um sono brevíssimo, o santo padre começava a meditação. Recitadas as horas canônicas, dirigia-se ao confessional e daí por volta da hora décima da manhã, subia ao tablado e explicava a doutrina cristã. Permanecia em ação de graças até a primeira hora da tarde e até mais. Voltando a casa comia, ou poucas favas ou um pouco de leite’’, relatava em carta João Brewer, padre de Ibiapaba, cidade onde Malagrida ficou entre 5 e 17 de fevereiro de 1747. O lugar, chama-se hoje Viçosa do Ceará. Lá, no altar da igreja matriz ainda existe uma imagem de Gabriel Malagrida, de quatro palmos de altura. ‘‘Ele está vestido de São Francisco de Assis porque a imagem foi mandada para reforma e o artista adorava os franciscanos’’, explica o monsenhor Francisco das Chagas Martins, pároco da igreja há 50 anos. ‘‘Tudo aqui é antigo. Nossa igreja é a mais velha do Ceará. Foi fundada em 1602’’. 

Madalenas...
O maior tormento de Malagrida eram as ‘‘mulheres da vida’’. Considerava a prostituição um dos problemas mais graves da colônia. ‘‘Naquele tempo, se uma menina perdia a virgindade, caía em desgraça na sociedade e acabava entrando para a prostituição. Malagrida sonhava em fazer alguma coisa por essas mulheres’’, conta Ilário Govoni, jesuíta italiano, morador de Terezina e autor do único livro publicado no Brasil sobre Malagrida. Chama-se O Missionário Popular do Nordeste. O desafio de ‘‘endireitar’’ prostitutas perseguiu Malagrida até 1742, quando conseguiu financiamento para construir o Convento do Sagrado Coração de Jesus em Igarassu, em Pernambuco. Ali, abrigou 40 mulheres da vida, desejosas de conversão. Saíram em romaria de João Pessoa até a cidade pernambucana. ‘‘Este asilo de Madalenas arrependidas tinha âmbito regional. Às que não podiam casar, por causa de impedimentos ou delas próprias ou dos homens com quem viviam, por já serem casados, abriam-se-lhes as portas desta casa, onde ficavam ao abrigo da miséria e de recaídas’’, escreveu o historiador Serafim Leite, no livro a História Eclesiástica no Brasil. ‘‘Hoje só aceitamos donzelas. Todas nós somos donzelas’’, apressa-se em explicar Maria Medeiros de Paula, 48 anos, e atual diretora do Convento. É freira desde os 17 anos, nunca teve namorado e não gosta muito de falar do passado de pecado das fundadoras da instituição. ‘‘Hoje, só entra na Ordem do Coração de Jesus moça virgem’’. A 60 km dali, em João Pessoa, num outro endereço com placa de Malagrida, perder a virgindade é ganhar a vida. Na rua Gabriel Malagrida, no centro da capital paraibana, funciona o baixo meretrício da cidade. ‘‘Esse Malagrida era dos nossos. Nosso santo protetor’’, brinca dona Lucila Martins, 59 anos, dona de um dos bordéis da rua. 

O Triste Fim...
O triste fim do missionário em janeiro de 1754 Gabriel Malagrida embarcou para Lisboa certo de que conseguiria mais recursos para suas obras no Brasil. Enganou-se, embarcou para a morte. Famoso na corte por seu carisma de pregador, Malagrida era o confessor da rainha, o que despertava ciúmes de poderosos emergentes como Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal. Quando a rainha morreu, em 1754, Pombal virou primeiro ministro de Dom Jose I e iniciou perseguição sistemática contra Malagrida. Irritou-se profundamente quando, após o terrível terremoto de Lisboa de 1755, o religioso escreveu panfletos associando a tragédia às maldades da corte. Pombal não se conteve. Conseguiu que Malagrida fosse mandado para a cidade de Setúbal. Atentado em 3 de setembro de 1758, o rei D. José sofreu atentado quando voltava de uma farra noturna. Pombal arranjou testemunhas para envolver Malagrida no caso. No dia 9 de janeiro de 1759, Malagrida foi preso por crime de lesa majestade. Ficou numa cadeia imunda, onde usava tinta de paredes para escrever dois textos religiosos: um sobre a vida de Sant’Ana e outro sobre o retorno do Anti-Cristo. Malagrida acreditava que o apocalipse aconteceria em 1999. O incansável Pombal aproveitou para denunciar Malagrida à Inquisição como herege, mas os próprios juízes do Santo Ofício admitiram que não havia razões para condenar o religioso. Pombal, então, destituiu o presidente do Tribunal e nomeou seu próprio irmão, Paulo de Carvalho. A outra questão era a guerra guaranítica, travada no Sul do Brasil. Os jesuítas se aliaram aos índios contra os portugueses que queriam ampliar as fronteiras do país. Isso tudo não culminou apenas na morte da Malagrida. Em 1759, Pombal expulsou os jesuítas dos domínios portugueses. Foi mais longe. Em 1773, conseguiu do Papa Clemente XIV, a extinção da Companhia de Jesus em todo o mundo. A Companhia só voltou a existir em 1814 e os jesuítas só retornaram ao Brasil no final do século XIX.

Essa é a História de Gabriel Malagrida o nosso Saudoso Caboclo das 7 Encruzilhadas.

Fonte: http://umbandadepretovelho.blogspot.com.br


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13/12/2013

Salve o Dia 13 de Dezembro - Salve a Marujada!


Marinheiros

Entidades que trabalham na linha das águas, os marinheiros chegam aos terreiros cambaleando como quem não se acostuma à terra firme. Aos poucos eles desembarcam de seus navios da calunga grande com suas gargalhadas, abraços e apertos de mão.

As giras de Marinheiros são bem alegres e descontraídas. Eles são espíritos alegres e cordiais que gostam de imitar os marujos nos tombadilhos dos navios em dias de tempestade. Na verdade, são seus magnetismos aquáticos que lhes dão a impressão de que o solo está se movendo sob seus pés, o que os obriga a se locomoverem para a frente e para trás. Com palavras macias e diretas eles vão bem fundo na alma dos consulentes e em seus problemas, são sinceros e ligeiramente românticos, sentimentais e amigos. São verdadeiros curadores de alma e até das doenças físicas, afinal, devido às suas experiências em alto mar possuem muito conhecimento sobre a medicina popular.

Trazem uma mensagem de esperança e muita força, nos dizendo que se pode lutar e desbravar o desconhecido, seja do nosso interior ou do mundo que nos rodeia, se tivermos fé e confiança. Não vêm trazendo o peixe, mas ensinando seus filhos a pescar.

Fonte: Águas de Oxum



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12/12/2013

Festa de Ibejada


-Uau...que lindo! Veja quanto balão colorido...E quantos amiguinhos tem aqui!!!

Os olhos da menina brilhavam ao entrar naquele ambiente onde fora conduzida durante o coma, por seu amigo protetor. Enquanto seu corpo inerte sobre o leito hospitalar, acoplado a vários aparelhos, mantinha uma vida quase artificial, em corpo espiritual foi retirada daquele ambiente triste, para que pudesse receber auxílio junto a um terreiro de Umbanda onde se realizava uma festa de Ibejada.

-Tio, quero aquele balão...me dá um pirulito? Posso tomar guaraná?

Milena, ali naquele local não aparentava mais a menina depressiva e triste que há vários dias adoecera e simplesmente desistiu de querer viver, por isso entrou em inanição, chegando ao coma. Cansada de maus tratos pela mãe adotiva e sem ter a quem se socorrer, resolveu que queria morrer quando ainda não tinha 6 anos de idade.

Agora Milena, entre as crianças encarnadas que se aglomeravam em meio aos Ibejis e todos aqueles doces e refrigerantes, sorria feliz. Estando em corpo espiritual, não podia ser vista pelos encarnados, porém ela percebia nitidamente, não só os médiuns que recebiam os espíritos chamados de Ibejis, como também os próprios espíritos acoplados a estes. Depois do primeiro instante de fascinação, a menina passou a observar cada um daqueles "amiguinhos" que se diferenciavam pela luz e beleza.

-Que menina linda vem nos visitar – falava Mariazinha, receptiva e sorridente.

-Oi, quem é você?

-Me chamo Mariazinha e gostaria de te ajudar. Me contaram que anda tristinha...querendo morrer.

-É...foi o tio que te contou?

-Também...

-Ah, amiguinha...agora eu não estou mais triste pois o tio me trouxe aqui onde tem muitas crianças, doces e todos esses balões...tem até bolo de aniversário. Eu nunca ganhei um, sabia?

Hum, então vou te servir um pedação deste bolo gostoso que tem o poder de devolver a alegria e o doce a todos os corações tristes e amargurados.

Milena agora se deliciava com o bolo ( cópia energética do existente no plano material) o que a levou a adormecer em corpo astral e, ali mesmo, no ambiente espiritual do terreiro, em departamento específico para estes tratamentos, foi levada a relembrar através de seu mental de vida pretérita onde plantou essa colheita dolorosa, bem como de seu comprometimento antes da atual reencarnação. Isso era possibilitado pelo fato de estar ali, naquele corpinho infantil, um velho espírito endividado com as Leis. Antiga freira, responsável por orfanato que acolhia órfãos, usou de sua autoridade e amargura para maltratar e por vezes escravizar as pobres crianças que eram a ela destinadas pela igreja.

De maneira amorosa, aquele espírito que se fazia também infantil durante a Ibejada, juntamente com o "tio"- protetor de Milena – agora a faziam relembrar bem como imantavam a nível cerebral essa lembrança que serviria para que, quando acordasse no corpo físico e pela necessidade de ressarcir as dívidas contraídas, sentisse mais alegria e vontade de viver, prosseguindo sua jornada encarnatória tão necessária para reajuste daquele espírito.

Enquanto a festa no terreiro prosseguia alegre, com os Ibejis curando e brincando com a meninada, Milena foi levada de volta ao seu corpo físico. Muitas coisas agora se diferenciavam a nível mental, emocional e energético que seriam repassadas ao seu corpo físico bastante debilitado. No dia seguinte, ao amanhecer as enfermeiras constataram que Milena recuperava seus sinais vitais, não necessitando mais ficar ligada aos aparelhos, para em breve já voltar a se alimentar e sorrir.

Sua saída do hospital era aguardada por uma "tia" do Conselho Tutelar que a levaria até um abrigo infantil. Sua mãe perdera a guarda da menina. De agora em diante, sua rotina seria assim, alternando-se entre algumas tentativas de adoção e sua volta aos abrigos, até que na adolescência um casal estrangeiro lhe possibilitaria a chance de ter um lar e se profissionalizar.

A Linha das Crianças que atua na Umbanda, denominada de Ibejada , Yori ou Cosme e Damião é trazida ao plano terreno através da irradiação dos médiuns, pelos protetores que em forma plasmada de crianças e agindo como tal, se apresentam no terreiro brincando e distribuindo alegria aos consulentes. Espíritos portadores de grande sabedoria e elevação, através das brincadeiras infantis, possibilitam dessa maneira, que as pessoas afrouxem seu emocional, liberando para que eles atuam a nível energético. Oferecem doces que contém já a energia necessária e que vai agir, de certa forma, como um remédio.

Relembrando as palavras de Jesus: - Deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o reino dos céus – que nada mais significava do que a pureza de que se revestem ainda as crianças, tão necessária ao nosso aprendizado adulto. A sua facilidade natural em esquecer ofensas como também em manifestar suas emoções, sem máscaras.

Nas festas ou giras de Ibejada, além dos consulentes encarnados, a espiritualidade aproveita para trazer muitos outros em desdobramento do sono ou que se encontram em coma, para receber o auxílio a nível energético. Além ainda, do grande número de espíritos desencarnados e que se acham ainda adoentados, principalmente a nível emocional.

Portanto a festa é total e completa. Uma festa de alegria, de cura, de transformação. E assim, através de Mariazinhas, Joãozinhos, Cosmes e Douns, no meio de balas de côco e brincadeiras, nossos sábios protetores e guias nos permitem a ajuda evolutiva de que tanto carecemos.

Salve a Ibejada!

Contada por Vovó Benta.
Leni W.S - 2008
www.tuva.com.br






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10/12/2013

A Prática Umbandista

A prática umbandista


Nessa caminhada evolutiva, estamos em constante intercâmbio com o plano espiritual, de onde recebemos influências de entidades amigas que nos auxiliam, ou de desafetos que procuram nos prejudicar.

Todos os seres encarnados no planeta são suscetíveis a essas influências e a maioria das religiões tem conhecimento disso, tanto que sempre se acreditou em anjos da guarda, em gênios do bem e do mal, demônios e outras crenças similares.

Algumas pessoas, contudo, possuem uma maior capacidade de estabelecer contato com os irmãos desencarnados, através da faculdade mediúnica, que pode se manifestar através da visão, da audição, da intuição, ou da psicofonia, vulgarmente conhecida como incorporação.

Na Umbanda, trabalhadores espirituais organizados em legiões distintas utilizam-se da faculdade mediúnica para comunicarem-se diretamente com os irmãos encarnados, trazendo aconselhamento, afastando espíritos menos esclarecidos voltados para o mal, aplicando passes energéticos, fazendo limpeza fluídica e produzindo cura de males físicos e espirituais.

Nesse trabalho, servem-se de uma simbologia que permite serem compreendidos e aceitos por quaisquer pessoas, independente de classe social, ou de nível sócio-cultural. Apresentando-se em roupagens simbólicas distribuem alento, consolo, esperança e paz a todos os que procuram os terreiros de Umbanda em busca de auxílio.

Com gestos característicos e um linguajar despojado, muitas vezes marcado pelo sotaque do caboclo ou do escravo, semeiam a caridade material e espiritual, sem nada pedir em troca, além da fé, da sinceridade de propósitos e da reforma íntima dos consulentes.

Essa é a prática da verdadeira Umbanda.

É preciso que se acentue sempre: 

Na Umbanda não se faz despachos, nem trabalhos para produzir o mal a quem quer que seja; na Umbanda não se faz amarrações para o amor, procurando aproximar pessoas artificialmente, nem trabalhos para destruir casamentos, ou relacionamentos de qualquer tipo; na Umbanda não se manipula energias para trazer riqueza súbita a ninguém. Quem quer que assim proceda, está acumulando débitos para si e para os outros e, se assim procede usando o nome de umbandista, ou está equivocado, ou está mentindo.

Umbanda é luz, Umbanda é paz, Umbanda é amor, Umbanda é harmonia com Deus, com o semelhante, com a natureza e com o universo. Qualquer coisa que fuja disso, pode até usar o nome, mas, com absoluta certeza, NÃO É UMBANDA.

Autor desconhecido




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08/12/2013

Poema à Mãe Iemanjá

Oração à Mãe Iemanjá

O teu mar, fonte de poesias e de encanto, enaltece o espírito de quem sabe ouvir o cantarolar das suas ondas...

Grande provedor de alimentos que nosso Pai Maior nos presenteou...

Acolhe a todos nós como um grande útero universal, querida Mãe de todos nós...

Aquela que alimenta, que ampara, que cuida, que ensina, que afaga...

E que, com a paciência de mãe, espera pelo crescimento espiritual de cada um...

Ajuda-me oh mãezinha, a compreender o fundamento maior do meu lugar no mundo, para que eu possa vencer as intempéries no caminho...

Para que eu possa continuar rumo ao Pai, apesar das pedras que me jogam a fim de que eu estacione...

Para que eu possa compreender e me fazer compreender pelos loucos e desvairados...

Mas acima de tudo, ajuda-me a vencer os meus próprios desafios...

De ser um ser humano melhor a cada dia e apesar de tudo...

Ensina-me que se é mais feliz ao agradecer do que pedir...

E neste momento de prece, entendo a grandiosa oportunidade de estar no mundo para progredir, que as alegrias são maiores do que as dores, pois se assim não fosse, tudo se perderia...

Agradeço a vida e tudo e todos que a torna mais feliz! A família, os amigos, a natureza, os Orixás, a espiritualidade que nos ampara em todas as horas e o amor de Deus!

Que o teu reino sagrado, fonte de luz e amor, resplandeça sempre nos corações de quem tem fé e esperança...

Do livro Umbanda Luz e Caridade - Ednay Melo





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05/12/2013

Para o Médium Refletir


Tenho muito dó de quem pensa que a Umbanda é um mar de rosas e que todos nossos problemas serão resolvidos a partir do momento em que colocarmos a roupa branca. Muito pelo contrário, a Umbanda, quando aceita de coração e incorporada à nossa vida, nos leva a ficar cara a cara com nossas deficiências e falhas, escancarando nossos sentimentos e apurando nossas verdades. Um verdadeiro vendaval de mudanças internas nos arrasta e transforma nosso intimo preparando-o para o bom exercício religioso tornando-nos pessoas melhores e mais centradas.

Deixa-nos mais fortes e tolerantes, mais sensíveis e piedosos, mas os problemas acumulados em nossa existência somente serão resolvidos com firmeza, determinação e o uso sapiente do livre arbítrio, inerente a todos os seres humanos, nunca pelos meandros ou facilidades de nossa religião, por mais que isso seja apregoado por uma imensa turba de aproveitadores da boa fé alheia.

O mau uso dos mistérios astrais, a exigência demasiada com nossos orixás e entidades, a falta de humildade, ou pior ainda, a falsa humildade, colocarão o médium em seu devido lugar, o ostracismo mediúnico.

A Umbanda não foi criada para satisfazer desejos pecaminosos e sonhos grandiloquentes nem para destruir nossos inimigos com trabalhos mirabolantes à base de velas pretas, farofa, ou sei-lá-mais-o-quê, tão propagados em sites, blogs ou mesmo terreiros “especializados” nas mazelas caprichosas de maus seguidores.

O bom trabalhador umbandista deve, acima de tudo, manter a atitude de fé, compaixão, respeito e caridade proposta pela lei de Oxalá, nunca fazer julgamentos apressados muito menos pedir o que não poderá ser dado. Esse conjunto de atitudes aplicado em sua vida religiosa fará com que o grande médium desabroche em plenitude e você descobrirá encantado, que esse grande médium, até então escondido, é você!

Autor desconhecido





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