Este mês de maio homenageamos nossos queridos Pretos Velhos de Umbanda! Voltando um pouco na história do Espiritismo, temos a notícia de que Allan Kardec, codificador desta Doutrina, comunicou-se com um Preto Velho. Mas será que foi realmente um Preto Velho tal como se apresenta em nossa Umbanda? Sabemos que as falanges se apresentam de acordo com a missão que têm a cumprir, usando todo um código simbólico de identificação. Então os Pretos Velhos são considerados como tais, não porque são velhos ou negros, mas porque o seu arquétipo é dos espíritos humildes e sábios, cujos negros representam bem a humildade e os velhos representam melhor a sabedoria. Daí o nome simbólico dos Pretos Velhos, então nem todo negro idoso, mesmo que o africano, não é propriamente um Preto Velho como conhecemos na Umbanda. Logo, no texto que relata Kardec conversando com um Preto Velho, nós do Blog Tulca, não encontramos semelhança com o Preto Velho de Umbanda, a conclusão a que chegaram os espíritas parece fruto da desinformação somado ao preconceito daquela época, que infelizmente ainda vemos nos dias de hoje.
Vamos ao texto:
Preto Velho Fala com Kardec
"Pouca gente sabe, mas numa das reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec evocou um Espírito que, segundo as terminologias da cultura brasileira, poderia ser classificado como um “preto velho”. Esse encontro, narrado pelo próprio Kardec nas páginas da sua histórica “Revista Espírita” (Revue Spirite), de junho de 1859, aconteceu na reunião do dia 25 de março de 1859.
Pai César – este o nome do Espírito comunicante – havia desencarnado em 8 de fevereiro também de 1859 com 138 anos de idade – segundo davam conta as notícias da época –, fato este que certamente chamou a atenção do Codificador, que logo se interessou em obter, da Espiritualidade, mais informações sobre o falecido, que havia encerrado a sua existência física perto de Covington, nos Estados Unidos.
Pai César havia nascido na África e tinha sido levado para a Louisiana quando tinha apenas 15 anos.
Antes de iniciar a sessão em que se faria presente Pai César, Allan Kardec indagou ao Espírito São Luís, que coordenava o trabalho, se haveria algum impedimento em evocar aquele companheiro recém-chegado ao Plano Espiritual. Ao que respondeu São Luís que não, prontificando-se, inclusive, a prestar auxílio no intercâmbio. E assim se fez. A comunicação, contudo, mal iniciada, já conclamou os participantes do grupo a muitas reflexões. Na sua mensagem, Pai César desabafou, expondo a todos as mágoas guardadas em seu coração, fruto dos sofrimentos por que passara na Terra em função do preconceito que naqueles dias graçava em ainda maior escala do que hoje. E tamanhas eram as feridas que trazia no peito que chegou a dizer a Kardec que não gostaria de voltar à Terra novamente como negro, estaria assim, no seu entendimento, fugindo da maldade, fruto da ignorância humana. Quando indagado também sobre sua idade, se tinha vivido mesmo 138 anos, Pai César disse não ter certeza, fato compreensível, como esclarece o Codificador, visto que os negros não possuíam naqueles tempos registro civil de nascimento, sobretudo os oriundos da África, pelo que só poderiam ter uma noção aproximada da sua idade real.
A comunicação de Pai César certamente ajudou Kardec, em muito, a reforçar as suas teses contra o preconceito, o mesmo preconceito que o levou a fazer, dois anos depois, nas páginas da mesma “Revista Espírita”, em outubro de 1861, a declaração a seguir, na qual deixou patente o papel que o Espiritismo teria no processo evolutivo da Humanidade, ajudando a pôr fim na escuridão que ainda subjuga mentes e corações: “O Espiritismo, restituindo ao espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos de cor.”
Não obstante, é claro verificar o preconceito que existia da sociedade européia de fato na época do fato narrado. Não me surpreende também, o espiritismo, doutrina derivada da sociedade européia vigente daqueles tempos, e codificada por Kardec, a priori, ter qualquer preconceito com relação a espíritos que diferissem dos moldes por eles preconizados pela era européia contemporânea. Ora, não deveria sequer se dar tamanha ênfase nessa comunicação deveras ordinária por Kardec, haja visto que a única diferença, tratava-se pela origem humilde e racial do espírito comunicante. Seria de mesmo modo, como se a Umbanda se maravilhasse quando um espírito de um nobre europeu fizesse comunicação em uma de suas sessões."
Publicado originalmente no boletim “Serviço Espírita de Informações” na edição 2090, do ano 2008.