Tenda de Umbanda Luz e Caridade - Tulca Página Otimizada para CLS

26/09/2013

Erês

Erês


Salve as Crianças! Salve os Erês!

Salve Cosme e Damião!

Salve Oni beijada! 



Ibeijada, Yori, Erês, Dois-Dois, Crianças, Ibejis, são esses vários nomes para essas entidades que se apresentam de maneira infantil.Quando chegam no terreiro transformam o ambiente em pura alegria.


YORI: um dos raros termos sagrados que se manteve sem nenhuma alteração. Esse termo, assim como Yorimá, era de pleno conhecimento da pura Raça Vermelha, só se apagando do mental do Ser humano após a catástrofe da Atlântida. Ele ressurgiu através do Movimento Umbandista, em sua mais alta pureza e expressão. Traduzindo este vocábulo através do alfabeto Adâmico, temos: A Potência Divina Manifestando-se; A Potência dos Puros.

BEIJADA: Nome dado no Brasil, às entidades que se apresentam sob a forma de crianças. São, conforme a crença geral, nos cultos afro-brasileiros e na Umbanda, as falanges dos Orixás gêmeos africanos IBEJIS

IBEJI : (ib: “nascer”; eji: “dois”) Orixás gêmeos africanos que correspondem, no sincretismo afro-brasileiro, aos santos católicos Cosme e Damião. Ibeji na nação Keto, ou Vunji nas nações Angola e Congo.

DOIS DOIS: Nome pela qual são designados os santos católicos Crispim e Crispiniano; os santos Cosme e Damião; o Orixá africano IBEJI e a falange das crianças na Umbanda.

ERÊ: Vem do yorubá iré que significa “brincadeira, divertimento”. Existe uma confusão latente entre o Orixá Ibeji e os Erês. É evidente que há uma relação, mas não se trata da mesma entidade. Ibeji, são divindades gêmeas, sendo costumeiramente sincretizadas aos santos gêmeos católicos Cosme e Damião. Erês, Crianças, Ibejada, Dois-Dois, são Guias ou Entidades de caráter infantil que incorporam na Umbanda.

Essa linha é regida por Pai Oxumarê e possuem esse poder de renovação e incrivel capacidade de alegrar todos ao redor, o Amor é a própria energia manipulada pelas crianças.São espiritos naturais, que jamais passaram pelo processo de encarnação, encantados da natureza, seres de imensa luz e sabedoria, que utilizam da roupagem infantil para nos trazer sabedoria através de um sorriso.

No decorrer das consultas vão trabalhando com seu elemento de ação sobre o consulente, modificando e equilibrando sua vibração, regenerando os pontos de entrada de energia do corpo humano. Esses seres, mesmo sendo puros, não são tolos, pois identificam muito rapidamente nossos erros e falhas humanas. E não se calam quando em consulta, pois nos alertam sobre eles. Por apresentarem aspecto infantil podem não ser levadas muito a sério, porém o seu poder de ação fica oculto, são conselheiros e curadores, por isso foram associadas à Cosme e Damião, curadores que trabalhavam com a magia dos elementos. O elemento e força da natureza correspondente a Ibeji são todos, pois ele poderá, de acordo com a necessidade, utilizar qualquer dos elementos. Eles manipulam as energias elementais e são portadores naturais de poderes só encontrados nos próprios Orixás que os regem. Estas entidades são a verdadeira expressão da alegria e da honestidade, dessa forma, apesar da aparência frágil, são verdadeiros magos e conseguem atingir o seu objetivo com uma força imensa. Embora as crianças brinquem, dancem e cantem, exigem respeito para o seu trabalho, pois atrás dessa vibração infantil, se escondem espíritos de extraordinários conhecimentos. Imaginem uma criança com menos de sete anos possuir a experiência e a vivência de um homem velho e ainda gozar a imunidade própria dos inocentes. A entidade conhecida na umbanda por erê é assim. Faz tipo de criança, pedindo como material de trabalho chupetas, bonecas, bolinhas de gude, doces, balas e as famosas águas de bolinhas -o refrigerante e trata a todos como tio e vô. 

Normalmente tem os nomes relacionados normalmente a nomes comums, normalmente brasileiros. Rosinha, Mariazinha, Ritinha, Pedrinho, Paulinho, Cosminho, etc...Comem bolos, balas, refrigerantes, normalmente guaraná e frutas.
Alguns deles incorporam pulando e gritando, outros descem chorando, outros estão sempre com fome, etc... Estas características, que às vezes nos passam desapercebido, são sempre formas que eles têm de exercer uma função específica, como a de descarregar o médium, o terreiro ou alguém da assistência. 

A festa de Cosme e Damião, santos católicos sincretizados com Ibeiji, à 27 de Setembro é muito concorrida em quase todos os terreiros do pais. Uma curiosidade: Cosme e Damião foram os primeiros santos a terem uma igreja erigida para seu culto no Brasil. Ela foi construída em Igarassu, Pernambuco e ainda existe. 


Velas: Cor-de-rosa, azul claro, brancas.
Flores: Rosas brancas e cor de rosa, flores do campo
Frutas: Uva, pêssego, goiaba, maçã, morango, cerejas, ameixas.
Comidas: Doces, Frutas, Arroz Doce, Cocadas, Balas, Bolo
Bebidas: Guarané, Suco de frutas
Portais de Cura: Flores, quartzo rosa e aul, mel, velas brancas,rosas e azuis.

Blog Espiritualizando já



Leia mais

24/09/2013

Magia de Pemba na Umbanda



Na Umbanda, fora a parte doutrinária usada pelos Guias para orientar as pessoas durante os passes, tudo mais é magia, feita de uma forma que criou todo um ritual de passe. Dentro deste ritual de passe, são usados vários recursos mágicos através dos elementos manipulados pelos Guias. Entre estes elementos, temos os líquidos, como a água, ervas maceradas na água e algumas bebidas, sendo que, o que sabemos sobre o que os Guias fazem com esses elementos ainda é muito pouco, mas o que importa para nós é que funcionam, realizando poderosas descargas energéticas nas pessoas necessitadas.

Também temos o uso de cigarros, charutos, cachimbos e até defumadores, que são usados pelos Guias para purificação, tanto de ambientes quanto de pessoas, porque as essências liberadas por eles nas suas queimas são dissolvedoras de condensações energéticas negativas e são diluidoras e dissipadoras de larvas astrais, miasmas, cordões energéticos, formas e pensamentos plasmados e vibrações de ódio, mágoas, de ressentimentos, de inveja, etc, que se condensam ao redor do campo áurico da pessoa.

Vemos também os Guias usarem algumas ervas com propriedades medicinais ou mágicas e usarem colares feitos de coquinhos, olhos de boi, olhos de cabra, ossos e dentes de animais ou feitos de cristais, porcelana ou de algum minério. Também os vemos usarem fitas, linhas, cordões, toalhas, faixas coloridas, sempre com o propósito de auxiliarem as pessoas, porque todos esses elementos acima citados e muitos outros não citados são condensadores de vibrações divinas, que, após se elementarizarem neles, conseguem realizar pelas pessoas um trabalho que só as vibrações divinas, elevadíssimas, não conseguem realizar, porque as pessoas se encontram negativadas e não conseguem internalizar essas vibrações divinas, justamente porque seus magnetismos mentais, que também se encontram negativados, as repelem.

Os Guias também usam velas e pembas, sendo que eles cruzam as velas e as acendem para que realizem trabalhos purificadores no benefício dos consulentes, ou então as cruzam e dão para eles levarem para casa e acendê-las dentro delas para que lá seja realizado todo um trabalho de limpeza e purificação de cargas negativas acumuladas dentro do ambiente doméstico. Também usam as pembas para riscar no solo seus pontos de trabalho, para cruzar os consulentes, cruzar imagens ou outros objetos trazidos pelos consulentes.

A Magia da Pemba usada na Umbanda está fundamentada no mistério das vibrações divinas irradiadas continuamente para toda a Criação pelos Orixás, sendo que cada uma das vibrações emitidas por Eles traz em si um poder de realização que faz acontecer todo um trabalho, após ser riscada de forma simbólica pelos Guias. Isso porque cada vibração emitida por um Orixá realiza uma função e um trabalho específico e o conjunto das vibrações de um único Orixá constitui a sua Magia de Pemba específica.

Sabendo disso, e se particularizarmos a simbologia mágica usada pelos Guias, então veremos que existe uma Magia de Pemba para Ogum, outra para Xangô, outra para Oxalá e assim por diante. Mas, devido ao fato de não conhecermos todas as vibrações de um Orixá, então não temos condições de trazer para o plano material todo o conjunto de todos os seus símbolos mágicos, criando assim um formulário simbólico especifico só dele.

Esse conhecimento existe nos níveis mais elevados da Criação, mas ainda não está aberto para nós aqui na Terra, o que nos limita apenas a um determinado número de vibrações, de símbolos e signos formados por elas e, mesmo assim, sem a indicação de suas funções e dos trabalhos que realizam após serem riscados pelos Guias, fato este que não concede a nenhum umbandista a distinção de profundo conhecedor da Magia riscada de Umbanda, até porque ela transcende nossa capacidade intelectual.

O que temos são algumas informações e que já são suficientes para que, mesmo não sabendo todos os trabalhos que estão sendo realizados por determinado ponto riscado, no entanto saibamos que está trabalhando positivamente. E isso acontece exatamente porque, desde o momento em que o Guia risca
em seu ponto um determinado símbolo ou um signo, o mesmo pertence a uma determinada onda vibratória, que o ativa imediatamente e se forma um campo de trabalho que realizará as ações por si só, sem precisar de mais nada além do direcionamento dado a ele pelo próprio Guia.


OBSERVAÇÃO

Um Orixá realiza simultaneamente milhares de funções na Criação, sendo que cada uma destas funções é irradiada de uma forma e cria telas vibratórias do tamanho da Criação divina, que é infinita. O conjunto de vibrações de um Orixá, com funções bem definidas, forma o que é denominado “o axé ele”, porque esse conjunto de vibrações tanto conduz o poder de realização de um Orixá, quanto transporta a energia original e única emanada por Olorum, mas em “comprimentos de onda específicos”. A mesma energia em um comprimento de onda é classificada como aquática, já em outro comprimento e onda ela é classificada como ígnea, em outro como eólica, em outra é classificada como vegetal, e assim por diante.

Devemos lembrar sempre que, em Olorum, só existe uma única energia, mas que, dependendo dos comprimentos das ondas através das quais ela é irradiada pelos Orixás, a mesma energia original assume funções diferentes e, quando os signos ou símbolos são riscados, eles as trazem para o lado material da Criação, as elementarizam, tanto no pó mineral utilizado na fabricação das pembas, quanto nas chamas das velas e nos demais elementos colocados dentro do ponto riscado, dando à energia original e única emitida por Olorum novas formas de atuação em benefício das pessoas necessitadas.

A energia original e única emitida por Olorum é captada pelos mentais dos Orixás e, a partir deles, ela é irradiada em todos os comprimentos de ondas existentes, que são tantos, que até hoje nem nos planos espirituais mais elevados foi possível identificar e classificar todas as vibrações mentais emitidas por um único Orixá. Então, agora, sabendo que o AXÉ de um Orixá é formado pelo conjunto de funções exercidas simultaneamente por Ele e que essas funções são realizadas na Criação através de suas vibrações mentais e que através delas flui continuamente a energia original, viva e divina emitida por Olorum, que, devido os comprimentos de ondas serem diferentes e a mesma energia realizar trabalhos diferentes, então a Magia da Pemba usada pelos Guias está fundamentada nos Orixás, que são seus irradiadores para toda a Criação e para tudo e todos que nela vivem e evoluem.

Portanto, o ponto riscado de Umbanda vibra em acordo com Olorum, com os Orixás e com toda a Criação, tornando-o um ponto de forças extremamente realizador, controlado e direcionado pelos Guias que o riscam. Justamente por isso, o ponto riscado por um Guia deve ser olhado com respeito, porque através dos símbolos e signos inscritos nele está fluindo o poder de Olorum irradiado através dos Orixás, que, por meio deles, têm uma forma de auxiliar as pessoas e até os espíritos necessitados de auxílio que chegarem diante do Guia que o riscou.

Então que fique claro e entendido para todos que o poder divino chega até nós através de muitos meios, e os Guias de Umbanda, por conhecerem vários desses meios, se servem dos mais fáceis de serem utilizados, e que, entre eles, se encontra a Magia do Ponto Riscado de Umbanda.

Rubens Saraceni




Leia mais

22/09/2013

Um Pouco da História das Religiões

Um Pouco da História das Religiões

O culto às forças da natureza, que na atualidade define parcialmente os Orixás, característica básica das religiões afro-brasileiras, não surgiu na África e sim na civilização árias, que se instalou no Vale do Rio Ganges na Índia, entre 2000 a.C. e 1500 a.C. Esta civilização cultuava as tempestades, ventos, etc e os deuses que as representavam. Para agradar os deuses, faziam oferendas de ouro ou de bebidas e sacrificavam animais.

A lei da reencarnação e do carma, não foi anunciada com o surgimento da Doutrina Espírita, mas sim no período védico, com o surgimento do bramanismo, religião predominante na Índia desde meados do segundo milênio a. C. até o início da Era Cristã. Por volta do século VII a.C., o bramanismo incorporou a ideia da existência de um deus total que abrangia todo o universo e estava acima dos outros deuses; e a reencarnação, que justificava o sistema de castas.

Segundo a teoria brâmane da reencarnação, com a morte, a alma renascia em outro corpo. O ciclo de morte e renascimento repetia-se até a alma se purificar e se libertar do corpo, alcançando a vida eterna. Se a alma iria renascer em outra pessoa, em um animal, vegetal ou mineral, assim como quantas vezes seria necessário repetir o ciclo eram fatos determinados pelo carma.

O hinduísmo é visto como uma fase do bramanismo, que começou a se desenvolver por volta do século V a.C. e abrange uma grande variedade de credos e práticas. É uma religião politeísta, cujas principais divindades são: Brahma, o criador; Vishnu, o conservador; e Shiva, o destruidor e transformador. O deus mais popular é o Ganesha, o deus da cabeça de elefante, que ajuda a superar todos os obstáculos. O hinduísmo é hoje a terceira maior religião do mundo em número de seguidores, atrás do cristianismo e do islamismo.

No século VI a.C., antes do florescimento do hinduísmo, surgiu na Índia outra doutrina: o budismo, que foi formulada por Sidarta Gautama, chamado de Buda, que quer dizer "o Iluminado". Segundo os ensinamentos de Buda, a origem do sofrimento do ser humano são os desejos, porque eles nunca podem ser totalmente satisfeitos. Por isso, só as pessoas que conseguirem levar uma vida simples e humilde, livre dos desejos, podem atingir a iluminação, ou nirvana, que é o estado de paz e felicidade plena.

Ednay Melo

Fonte de Pesquisa: História das cavernas ao terceiro milênio - Autores: Patrícia Ramos e Myriam Becho.




Leia mais

19/09/2013

Salve a Jurema Sagrada


jurema sagrada


O culto da Jurema na Paraíba



Marinaldo José da Silva e Maria Ignez Novais Ayala
- Universidade Federal da Paraíba



Seu Zé de Nana meu nêgo
Você não é camarada
No meio de tanta moça
Roubou minha namorada
O que é que eu faço da vida
Par Paraíba eu não vou
A namorada que eu tinha
Seu Zé de Nana roubou



“Salve a Jurema Sagrada, salve eu, salve vói, salve minha tronqueira e salve minha cachaça, salve meu cachimbo e salve minhas encruza! E quem pode mais do que Deus? Só Deus e mais ninguém, né nêgo? Agora me daí meu chapéu, meu cachimbo e minha cachaça par eu molhar a guela e dançar aquele coco com uma nêga bem boa!”




O pau pendeu não caiu
Zé de Nana chegou
E ninguém viu


É característico dos Mestres juremeiros quando chegam em terra saudarem a Jurema Sagrada, a sua tronqueira, e tudo que a eles pertence e a Deus. E pedem para cantar o seu ponto, que pode ser um coco ou não.

No universo da literatura oral, a própria criação se nutre da imaginação que se ancora na realidade daqueles que fazem da cultura popular uma circundante poética onde transitam mitos, narrativas, religiões e vários costumes afro-brasileiros. 

São evidentes as marcas da diáspora negra nessas variações populares, cabendo à Jurema e ao coco, elementos de estudo deste trabalho, a contemplação do afro-brasileiro-mágico-religioso, considerados fazedores de cultura. É no sentido de “trânsito” entre as atividades diversas pertencentes ao mundo da oralidade que nos propusemos a mostrar os vários pontos em comum da Jurema Sagrada e do coco de roda.

O caráter religioso desta dança tem despertado nossa atenção, levando-nos, inicialmente, a reunir os cocos que se referem a santos católicos e às práticas do catolicismo popular. Recentemente, em meio a uma das religiões brasileiras, que tem muitos adeptos na Paraíba – a Jurema Sagrada ” encontramos vários cocos, que aparecem como pontos de gira. 

A Jurema Sagrada é um dos vários cultos com fortes marcas indígenas que se mesclam com traços do catolicismo popular, do espiritismo e das religiões negras do Brasil ” candomblé e Umbanda.

Difícil dizer hoje a origem ou o que predomina nesse culto afro-brasileiro, fundamentado em ervas, raízes e casacas de árvore usadas com função mágica para acura ou para afastar males e recuperar as energias dos fiéis e de todos aqueles que procuram o auxílio dos Mestres juremeiros. 

Muitas vezes essas ervas são utilizadas em forma de fumo, que serve para a defumação da casa, e de amaci, fusão de ervas que serve para o batismo do iniciado na Jurema, além da semente e do vinho extraído da árvore sagrada num sentido mágico-religioso.

Nos estudos que compõem a bibliografia sobre as religiões afro-brasileiras, são muitos os títulos dedicados ao candomblé, ao catimbó, ao xangô e à Umbanda; aparecem referências à Jurema como uma linha da Umbanda. 

O culto da Jurema era elemento principal do catimbó, conforme os estudos de Câmara Cascudo, Roger Bastide e Oneyda Alvarenga. Essa última publicou em 1949 Catimbó, a partir da bibliografia então existente e da farta documentação reunida em 1938, pela Missão de Pesquisas Folclóricas, da Discoteca Municipal de São Paulo, por meio da pesquisa de campo no Nordeste.

Na década de 30 houve grande perseguição policial aos catimbós e aos catimbozeiros, com prisões, fechamento, destruição das casas e apreensão de objetos utilizados no culto. Até hoje, os termos catimbó e catimbozeiro têm conotação pejorativa no Nordeste, comportando forte carga de preconceito.

Na Paraíba, atualmente, o culto da Jurema se encontra ajustado à Umbanda. Nas casas por nós visitadas, as cerimônias ocorrem no mesmo salão em que são desenvolvidos os cultos aos orixás da Umbanda, diferindo apenas os pejis e as camarinhas, ou em espaço contíguo, dedicado exclusivamente à Jurema.

Como linha da Umbanda ou como culto independente que se abriga no mesmo teto, mas que reconhece Alhandra como a cidade da Paraíba tida como local de onde se irradiou o ritual religioso, a Jurema tem muitos adeptos que ressaltam os poderes de cura dos Mestres juremeiros.

Além da cidade de Alhandra, existe a “cidade encantada de Tambaba”, local de muitos mistérios dos senhores Mestres encantados. Citando René Vandezande:


“A tradição diz unanimemente que no alto da praia de Tambaba houve uma Cidade da Jurema de igual nome, anos passados: porém, esta cidade foi “devorada” pelo mar, e de lá teria origem o culto que ainda hoje os juremeiros prestam ocasionalmente nesta praia. Una juremeiros que foram lá em nossa companhia demonstraram o máximo respeito para o lugar. Diversas vezes fomos a essa praia solitária, encontrando, cada vez, objetos de culto e velas. O barulho que as ondas produzem nas rochas de formas fantásticas é interpretado como a voz dos Mestres.”2

E hoje Tambaba é uma praia de nudismo muito visitada pelos turistas.
Mestres são as entidades principais desse culto que aparecem nas sessões semanais das casas destinadas à Jurema e nas festas periódicas dedicadas a eles. São Exus, índios, caboclos, reis de iorubá, caboquinhas de pena, boiadeiros, baianas, pretos velhos, marinheiros, pescadores e também ciganas, Pomba-gira, Zé Pelintra, Maria Padilha e toda sua companhia. E como se não bastasse, a Cumade Fulozinha e a figura do cangaceiro, Também personagens das narrativas e contos populares, transitando na Jurema Sagrada. Segundo a fala de um dos depoentes umbandistas: “Cumade Fulozinha é uma identidade muito perigosa: ela tanto trabalha pro bem, como trabalha pro mal.”

Todos animadíssimos com seus pontos cantados e com o som dos elus, gaitas e maracás, a cachaça, o vinho da Jurema e a fumaça dos cachimbos de Jurema ou de angico, de um ou de sete canudos de fumaça (e em raros casos de charutos), constantemente fumados ao contrário, com o lado da brasa dentro da boca.

A Jurema tem vários tipos de ritual: Jurema de chão, Jurema traçada, Jurema de meia-noite armada.

A Jurema de chão é um ritual em que os juremeiros ficam sentados no chão em frente ao gongá (altar de Jurema) com imagens de Mestres , índios, pretos-velhos, caboclos e até mesmo Padre Cícero. A tronqueira do mestre da casa com um cachimbo de sete-fumaças, uma cumbuca com fumo de várias ervas: alecrim do campo, liamba, erva-doce, fumo-de-rolo, abre-caminho; e muitos cachimbos. Invocam as entidades para darem passes e fazerem consultas. Nessa sessão também são invocadas, sem obedecer a uma seqüência, todas as entidades ao mesmo tempo e pode Ter batuque dos elus (tambores) ou não. Há ponto cantado. 

A Jurema de meia-noite armada ocorre realmente à meia-noite, também no chão; é arriada no centro do terreiro a tronqueira do mestre da casa, que é responsável pela sessão; jarros com ervas da Jurema (pinhão roxo, comigo-ninguém-pode, pé da felicidade, aroeira), sete qualidades de cachaça, champanha, vinho tinto, vinho branco, cerveja, mel, uma garrafada de Jurema “preparada”, um cruzeiro de velas brancas, alguidares com frutas, três alguidares com fumos preparados (fumo de queda, fumo de descarrego e fumo de levanta), cachimbos cruzados, charutos e cigarros, palitos de fósforo cruzados, velas coloridas cruzadas e uma garrafa de plástico com Jurema para passar no corpo como descarrego.
Nessa Jurema não há elu, pois é apenas cantada para a realização de “trabalhos” em hora grande, horário especial dos Mestres fazerem as coisas funcionarem melhor, com mais força, pois só com o canto e a concentração no silêncio da madrugada fazem render resultados positivos, trabalhando com o que eles mais gostam: cachaça, cachimbo e os cocos ” daqui e de lá do outro mundo.



Mas eu pisei na rama
A rama estremeceu
Não beba dessa água, oi morena
Quem bebeu morreu
Esse coco é meu
É da Paraíba
É de Catolé
É de macaíba
Meu avião de alumínio
Que voa de norte a sul
Mulher que rapa o cangote
Do céu não vê o azul
Ô Lili, minha Lili
A mulher que eu mais amava
Nas tranças dos seus cabelos
Aonde eu me balançava


Ganham sentido de pontos cantados, louvações e orações. Cocos que remetem a vários sentidos além do “sagrado” e da “brincadeira”, que se fundem independentemente de temas específicos para prenunciar a alegria e a força do trabalho na Jurema encantada.
Nos próprios pontos cantados de Jurema, podemos perceber vários elementos informativos do culto, encontrados em uma das Juremas da Torre:


Era uma mesa branca
Toda enfeitada de flores
E hoje é uma tenda de Jurema
De paz, de luz e de amor
(…)3

Zum, zum, zum ô Jurema
Vamo trabalhar ô Jurema
Desmanchar macumba ô Jurema
Catimbó e azar ô Jurema4

Jurema minha Jurema
Meu tesouro rico
E olha o tombo da Jurema
Que ela vale ouro
(…)5

A Jurema é minha madrinha
Jesus é o meu protetor
A Jurema é pau sagrado
Deu sombra a Nosso Senhor6




NA PANCADA DOS COCOS

Os instrumentos da Jurema são basicamente os mesmos da brincadeira do coco. Os instrumentos utilizados são todos de percussão. Na brincadeira é usado um zabumba e na Jurema um elu, tocado pelo ogã. Ambos são cobertos por um couro de bode, existindo uma pequena diferença no zabumba, que é coberto por dois couros: um couro de bode e outro de “boda”.
Nos rituais de Jurema, o mestre aceita qualquer batida do elu; o mais importante é o coco cantado, que tem força para “seus trabalho”, com sua cachaça e com suas namoradas. Ainda temos o ganzá, que está presente nas duas manifestações, muitas vezes improvisado com uma lata vazia, com pedrinhas ou sementes dentro. Maracás, espécie de chocalho, com som semelhante ao do ganzá, também fazem parte. O triângulo, instrumento apenas da Jurema tem o formato correspondente ao nome, feito artesanalmente, a partir de restos de ferros utilizados na construção civil, batido com um bastão do mesmo material. Também pode aparecer gaitas feitas de bambu, semelhantes a uma pequena flauta, como asa tocadas pelos participantes das tribos indígenas do carnaval.

Os pontos são acompanhados por palmas e batidas de pés. O espaço para o ritual tanto pode ser fechado (o interior dos terreiros), quanto aberto (a rua, a encruzilhada, o mato).
Os cocos cantados como pontos de Jurema foram encontrados em espaços abertos e fechados, nos diferentes tipos de ritual. Também encontramos o que parece ser ponto de Umbanda ou Jurema, cantado como coco em festas de São João nas ruas do bairro da Torre. Os limites da cultura popular são muito tênues.

No bairro da Torre, em João Pessoa (PB), são encontradas muitas casa de Umbanda e Jurema. O bairro também se caracteriza pela riqueza de manifestações populares, dentre as quais a malhação de Judas em várias ruas, palhoças e quadrilhas, cocos e cirandas, blocos de carnaval, tribos (o nome que se dá na Paraíba à dança conhecida como caboclinhos em Pernambuco), escolas de samba.
Em 1938, integrantes da MPF (Missão de Pesquisas Folclóricas), fizeram diferentes registros da cultuar popular na então Torrelândia: narrativas populares, sessões de catimbó, tribo dos índios africanos, barca.
Em vista desses argumentos mencionados, vimos através das manifestações populares afro-brasileiras, a presença de vários cocos de roda cantados como canto religioso no sentido de trânsito entre atividades diversas pertencentes ao grande universo da literatura oral.


E SALVE A JUREMA SAGRADA!

Marinaldo José da Silva e Maria Ignez Novais Ayala 

NOTAS
1. Parte de um tronco de Jurema aonde fica “assentado” o mestre. Morada do mestre.
2. VANDEZANDE, René. Catimbó. Pesquisa exploratória sobre uma forma de religião mediúnica. Recife: PIMES do IFCH da UFPE, 1975, p.44. Apud CABRAL, Elisa Maria. A Jurema Sagrada. João Pessoa: PPGS-UFPB, 1997, p.23-24.
3. Lembranças da mesa branca do espiritismo
4. Desfeitura de trabalhos pesados
5. Mistérios e encantos da Jurema
6. Sobre a árvore sagrada








Leia mais
Topo