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26/02/2016

Umbandista em Extinção

Umbandista em extinção


Se você, ao entrar em um terreiro, pede licença e saúda os assentamentos e firmezas da casa;

Se você, ao ficar diante de um Preto Velho se ajoelha e pede sua benção;

Se você, ao se afastar de um guia ou do altar, sai de costas e permanece de frente para o altar;

Se Você, ao conversar com uma entidade, se curva e abaixa o olhar em sinal de respeito;

Se você, ao tomar um passe, agradece de coração a entidade que o atendeu;

Se você, ao ganhar de um guia um gole de sua bebida, pega sempre o copo com as duas mãos;

Se você, ao ser convocado para um trabalho difícil, não se envaidece e se prepara com amor;

Se você, ao ser corrigido por seu Pai/Mãe de santo não se enfurece, mas entende que é para sua evolução;

Se você, ao encontrar seu Pai/Mãe de santo, toma sua benção, seja onde for;

Se você, ao cantar determinados pontos de umbanda ainda se emociona como no início;

Se você, ao perceber um erro de alguém, não critica, mas procura orientar da forma adequada;

Se você, ao não entender um ensinamento ou doutrina, questiona,pergunta,ao invés de fingir que entendeu;

Se você, ao ouvir comentários desnecessários dentro do terreiro os ignora e não se envolve;

Se você, ao faltar a uma gira ou a algum trabalho, pede desculpas aos seus guias por sua falta;

Se você, ao fim de um culto ou trabalho fica feliz e ansioso pelos próximos compromissos;

Se você, ao invés de priorizar as amizades com irmãos de santo, prioriza a casa que o desenvolve;

Se você, ao se sentir fraco, busca a ajuda de sua casa ao invés de se afastar dela;

Se você, ao presenciar algum problema em sua casa, não se omite e toma as devidas providências, mostrando-se atuante;

Se você, preocupa-se tanto com o seu próprio desenvolvimento quanto com o dos outros;

Se você, tem respeito e amor verdadeiro por sua casa e entende o quão é difícil em vários momentos mantê-la...

PARABÉNS POR SUA POSTURA, MAS CUIDADO, VOCÊ É UM UMBANDISTA EM EXTINÇÃO..."

Autor do texto: Divilio Fioravante Neto










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24/02/2016

Hierarquia Também é Fundamento

Hierarquia Também é Fundamento

É muito comum o iniciante de Umbanda empolgar-se com a religião. As velas coloridas, a roupa branca, a dança dos orixás e das entidades, o som dos atabaques, os pontos cantados... tudo isso contribui para que se crie uma aura de fascinação.

Porém o iniciante deve ser tratado como uma pedra bruta a ser lapidada até que se torne um diamante. Todo carinho e cuidado com ele são poucos.

Tão comum quanto a empolgação do iniciante é a sua possibilidade de colocar o carro na frente dos bois. O sujeito frequenta a Umbanda há apenas alguns meses, apenas sente a irradiação de seus orixás, sem incorporá-los de fato, e rapidamente já faz propaganda do "poder da sua mediunidade" e sai por aí dando atendimentos privados fora do terreiro, "à la carte", sem imaginar o risco que expõe a si e àqueles a quem presta atendimento. E quem nunca viu uma situação dessas que atire a primeira pemba.

Claro que procuramos entender que se trata de uma empolgação até mesmo no sentido de fazer o bem, mas não podemos negar que há aí também um (grande) ranço de vaidade, de mostrar que não a Umbanda ou as suas entidades, mas que a sua mediunidade o faz quase um super-herói.

Por isso é bom dizer novamente, que o neófito deve ser tratado como uma pedra bruta até que se torne um diamante. Caso contrário esse mesmo médium que um dia poderia se desenvolver se tornar um excelente trabalhador a serviço do bem, se tornará um médium vaidoso e rebelde, não respeitando a hierarquia do terreiro e nem mesmo os fundamentos da Umbanda, pois seu orgulho vai impedi-lo de entender que a hierarquia é necessária (o dirigente está lá por determinação do astral, e não por eleição ou aclamação) e que os fundamentos existem - para ele existirá apenas o que entender como correto, sem buscar explicações concretas para os fatos.

Um dia esse médium se rebelará contra seus irmãos-de-fé e, ainda que inconsciente, contra os próprios fundamentos da Umbanda, pois achará que ele, o super-médium é o único correto. E pior ainda, se afastará do caminho correto, arrumará um espaço que passará a chamar de "terreiro de Umbanda" e passará a atender os necessitados à sua maneira, mas por não conhecer os fundamentos mais básicos, acabará mais prejudicando do que ajudando. Aos outros e a si mesmo.

Douglas Fersan



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18/02/2016

Vovó Maria

Vovó Maria

“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo; revolta sempre os corações honestos.”

Vovó Maria fumegava seu pito e batia seu pé ao som da curimba enquanto observava o terreiro, onde os cambones movimentavam-se atendendo aos pretos velhos e aos consulentes. Mandingueira, acostumada a enfrentar de tudo um pouco nos trabalhos de magia, sabia perfeitamente como o mal agia tentando disseminar o esforço do bem.

Sob variadas formas, as trevas vagavam por ali também.

Alguns em busca de socorro; outros, mal-intencionados, debochavam dos trabalhadores da luz. Muitos chegavam grudados no corpo das pessoas, qual parasitas sugando sua vitalidade.

Outros, por sobre seus ombros, arqueando e causando dores nos hospedeiros, ou amarrados nos tornozelos, arrastavam-se com gemidos de dor. Fora os tantos que eram barrados pela guarda do local, ainda na porta do terreiro e que, lá de fora, esbravejavam palavrões.

Da mesma forma, o movimento dos exus e outros falangeiros se fazia intenso no lado astral do ambiente, para que, dentro do merecimento de cada espírito, pudessem ser encaminhados.

Uma senhora com ares de madame se aproximou da preta velha para receber atendimento. Vinha arrastando uma perna que mantinha enfaixada.

– Saravá, filha – falou Vovó Maria, enquanto desinfetava o campo magnético da mulher com um galho verde, além de soprar a fumaça do palheiro em direção ao seu abdome, o que fez com que a mulher demonstrasse nojo em sua fisionomia.

Fingindo ignorar, a preta velha, cantarolando, continuou a sua limpeza. Riscando um ponto com sua pemba no chão do terreiro, pediu que a mulher colocasse sobre ele a perna ferida.

“Será que não vai pedir o que tenho?”, pensou a mulher, já arrependida por estar ali naquele lugar desagradável. “Vou sair daqui impregnada por estes cheiros!”

Vovó Maria sorriu, pois captara o pensamento da mulher, mas preferiu ignorar tudo isso. O que a mulher não sabia era a gravidade real do seu caso, ou seja, aquilo que não aparecia no físico. Se ela pudesse ver o que estava causando a dor e o inchaço na perna, aí sim, certamente ficaria muito enojada. Na contraparte energética, abundavam larvas que se abasteciam da vitalidade do que já era uma enorme ferida e que breve irromperia também no físico.

Além disso, uma entidade espiritual, em quase total deformação, mantinha-se algemada à sua perna, nutrindo, assim, essas larvas astrais. Para qualquer neófito, aquilo mais parecia um cadáver retirado da tumba mortal, inclusive pelo mau cheiro que exalava.

Com a destreza de um mago, a preta velha sabia como desvincular e transmutar toda essa parafernália de energias densas, libertando e socorrendo a entidade escravizada a ela.

Feitos os devidos “curativos” no corpo energético da mulher, Vovó Maria, que à visão dos encarnados não fez mais que um benzimento com ervas e algumas baforadas de palheiro, dirigiu-se agora com voz firme à consulente:

– Preta Velha até aqui ouviu calada o que a filha pensou a respeito do seu trabalho.

Agora preciso abrir minhas tramelas e puxar sua orelha.

Ouvindo isso, a mulher afastou-se um pouco da entidade, assustada com a possibilidade de que ela viesse mesmo a lhe puxar a orelha.

“Escutou o que pensei? Ah, essa é boa. Ela está blefando comigo.”, pensou novamente a mulher.

– Se a madame não acredita em nosso trabalho, por que veio aqui buscar ajuda? Filha, não estamos aqui enganando ninguém. Procuramos fazer o que é possível, dentro do merecimento de cada um.

– É que me recomendaram vir me benzer, mas eu não gosto muito dessas coisas…– …e só veio porque está desesperada de dor e a medicina não lhe deu alento, não foi filha? – complementou a preta velha.

– Os médicos querem drenar a perna e eu fiquei com medo, pois nos exames não aparece nada, mas a dor estava insuportável.

– Estava? Por quê, a dor já acalmou?

– É, agora acalmou, parece que minha perna está amortecida.

– E está mesmo, eu fiz um curativo.

A mulher, olhando a perna e não vendo curativo nenhum, já estava pronta para emitir um pensamento de desconfiança quando a preta velha interferiu:

– Vá para sua casa, filha, e amanhã bem cedo colha uma rosa do seu jardim, ainda com orvalho, e lave a sua perna com ela, na água corrente. Ao meio-dia o inchaço vai sumir e sua perna estará curada.

Não ousando mais desconfiar, ela agradeceu e já estava saindo quando a preta velha a chamou e disse:

– Não se esqueça de pagar a promessa que fez pra Sinhá Maria, antes dela morrer…

Arregalando os olhos, a mulher quase enfartou e tratou de sair daquele lugar imediatamente.

O cambone, que a tudo assistia calado, não aguentando a curiosidade perguntou que promessa foi essa.

– Meu menino, o que nós escondemos dos homens fica gravado no mundo dos espíritos.
Essa filha, herdeira de um carma bastante pesado por ter sido dona de escravos em vida passada e, principalmente, por tê-los ferido a ferro e fogo, imprimindo sua marca na panturrilha dos negros, recebeu nesta encarnação, como sua fiel cozinheira, uma negra chamada Sinhá Maria.

Esse espírito mantinha laços de carinho profundo pela madame desde o tempo da escravidão, quando foi sua “Bá” e, por isso, única poupada de suas maldades. Nessa encarnação, juntaram-se novamente no intuito de que a bondosa negra pudesse despertar na mulher um pouco de humildade, para que esta tivesse a oportunidade de ressarcir os débitos, diante da necessidade que surgiria de auxiliar alguém envolvido na trama cármica.

Sinhá Maria, acometida de deficiência respiratória, antes de desencarnar solicitou à sua patroa que, na sua falta, assistisse seu esposo, que era paraplégico, faltando-lhe as duas pernas.

Deixou para isso todas as suas economias de anos a fio de trabalho e só lhe pediu que mantivesse com isso a alimentação e os medicamentos. Mas na primeira vez que ela foi até a favela onde morava o homem, desistiu da ajuda, pois aquele não era o seu “palco”. Tratou logo de ajustar uma vizinha do barraco, dando-lhe todo o dinheiro que Sinhá havia deixado, com a promessa de cuidar do pobre homem. Não é preciso dizer que rumo tomaram as economias da pobre negra; em pouco tempo, para evitar que ele morresse à míngua, a Assistência Social o internou em asilo público. Lá ele aguarda sua amada para buscá-lo, tirando-o do sofrimento do corpo físico. Nenhuma visita, nenhum cuidado especial. A madame se havia “esquecido” da promessa. Eu só quis lembrá-la para que não tenha que voltar aqui com as duas pernas inválidas. A Lei só nos cobra o que é de direito, mas ela é infalível. Quanto mais atrasamos o pagamento de nossas dívidas, maiores elas ficam. Por isso, camboninho, negra velha sempre diz para os filhos que a caridade é moeda valiosa que todos possuímos, mas que poucos de nós usam. Se não acordamos sozinhos, na hora exata a vida liga o “desperta-dor” e, às vezes, acordamos assustados com a barulheira que ele faz… eh, eh, eh… Entendeu, meu menino?

– Sim, minha mãe. Lembrei que tenho de visitar meu avô que está no asilo…

Sorrindo e balançando a cabeça a bondosa preta velha falou com seus botões:

– Nega véia matô dois coelhos com uma cajadada só… eh, eh…

E, batendo o pé no chão, fumando seu pito e cantarolando, prosseguiu ela, socorrendo e curando até que, junto aos demais, voltou para as bandas de Aruanda.

Causos de Umbanda Volume 2 – Páginas 37 a 41 – Vovó Benta / Leni W. Saviscki








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08/02/2016

Cuidados com a Mediunidade

Cuidados com a Mediunidade

A mediunidade é uma ferramenta que permite auxiliar pessoas em dificuldades. Não é dom, nem privilégio e sim uma possibilidade a mais de aprendizado e reparo dos erros do passado. É o que ensina o Espiritismo. Lamentavelmente, a mediunidade por vezes cria alguns problemas, porque tanto o médium como os que vivem à sua volta, desconhecem sua importância e responsabilidade.

Da parte do portador da faculdade, ela pode ser motivo de vaidade sempre que o médium se considerar especial e presenteado por Deus com dotes extras, o que o transformaria numa pessoa incomum. Nessas condições, não conseguirá controlar a faculdade nem selecionar o que deve ou não ser divulgado. Da parte dos amigos que o rodeiam, constata-se com frequência os malefícios que estes lhe causam. Há médiuns que de modo inconsequente, são usados como porta-vozes de notícias do Além e mesmo para fornecerem informações sobre o que acontecerá no futuro. Pessoas que nem conseguem viver o presente e já estão preocupadas com um tempo que talvez nem chegue.

O Centro Espírita, o local correto para a atividade mediúnica, precisa orientar os que atuam no campo da mediunidade, para que não se percam. Explicar aos medianeiros que tem pouca utilidade a mensagem repetitiva, falada ou escrita, que já consta do Evangelho e está fartamente complementada por respeitável literatura espírita e que importa naquele momento, atender aos Espíritos sofredores para libertá-los das trevas. É inadiável o trabalho de amor ao próximo.

Em despretensiosa recomendação aos médiuns, poderíamos sugerir o seguinte:

Jamais repita o erro do "velho espírita" que menospreza o estudo e fica só envolvido com a prática mediúnica. Como entender-se com Espíritos quem não fala a língua deles. Participe de reuniões que visem melhorar seus conhecimentos.

Não tenha pressa em relatar a vidência envolvendo problemas dos outros. Isso irá ajudá-los pouco e é provável que você esteja vendo "errado". Vidência é mediunidade restrita à capacidade evolutiva de cada médium.

As informações que criem pânico ou possam semear discórdia jamais devem ser divulgadas. Só Espíritos de natureza inferior dão este tipo de recado.

Nunca se envaideça com elogios quanto à sua mediunidade. O mérito é dos Espíritos que usam o médium para o socorro, sob a assistência de Jesus. Elogio que chega em exagero sempre esconde segundas intenções.

Analise sempre o que diz, para que suas mensagens sejam transmitidas com equilíbrio. Não se esqueça que é dos Espíritos a autoria das palavras. Reproduza-as com a maior fidelidade possível e cuide para não denegrir a imagem daqueles que do plano invisível o assiste, evitando influenciar seus pensamentos com as próprias palavras.

Dê exemplos de educação e brandura, porque o médium, mais do que um procurador dos Espíritos, é propagandista do Espiritismo. Melhor que falar é mostrar lições por atitudes. Não exija o que você mesmo não consegue fazer porque os obsessores gostarão de testá-lo. Uma pessoa aflita, ansiosa, não pode ser médium da Luz. Controle-se!

Não falte às reuniões. As programações espirituais incluem a sua presença e isso não condiz com os princípios da caridade que os médiuns propõem viver.

Evite fazer de seu lar um ponto de reunião mediúnica para atender assuntos particulares. O Centro Espírita é o local indicado, porque além da divulgação do Evangelho ali há maior auxílio dos responsáveis pela casa, encarnados e desencarnados.

O médium deve esforçar-se para ser exemplo, em casa, na rua, na escola ou no trabalho. O espírita é mais cobrado entre os religiosos porque tem mais informações e deve aplicá-las no dia-a-dia, em benefício próprio e dos semelhantes. É preciso viver o Evangelho vinte e quatro horas por dia.

O médium deve evitar o ciúme, o rancor, a inveja, a indiferença ou qualquer sentimento negativo em relação aos demais companheiros. Estes sentimentos desarmonizam a equipe e nenhuma organização da Espiritualidade encontrará o "feixe de varas" citado por Kardec, para realizar os trabalhos com segurança. Se ainda é impossível nos amarmos em plenitude, ao menos respeitemo-nos, compreendendo as limitações próprias da nossa condição evolutiva.

Médium, telefone que deve estar sempre disponível para que a chamada se complete. Andam sempre ocupados e Deus vem tendo dificuldades para falar aos seus filhos, através desses emissários. É preciso paz, vigilância e harmonia na colméia desses mensageiros do Além.

Octávio Caúmo Serrano




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04/02/2016

Livro no Mundo dos Espíritos - Leal de Souza

Livro no Mundo dos Espíritos - Leal de Souza
Eis o primeiro livro de Umbanda:

NO MUNDO DOS ESPÍRITOS
Autor: Leal de Souza - 1925

O Terreiro da Macumba

Uma luz numa arvore. – Dando agua ao bóde preto.

Tomo no terreiro! Pro baixo, a terra nossa. Pro cima, o grande véo ! Lá, no lado, nossa mão, a Santa Lua ! bradava, entre os seus adeptos, “Pae Quintino”.

E no terreiro, cercado de arvores, entre os blocos de pedra, sob o céo estrellado, a macumba, na vespera do dia de S. Jorge, iniciava , com um ensaio ruidoso, a festa de Ogun. Alinhados, entre os “filhos” de “Pae Quintino”, no circulo de homens e mulheres que o rodeavam, appareciam, estranhos áquelle meio, junto ao escriptor Nobrega da Cunha, o poeta Murillo Araujo, o desenhista Cornelio Penna e o joven catharinense Bello Wildner.

A ‘ claridade tremula de algumas velas, entre os ruflos de dous tambores e de um pandeiro, sob palmas cadenciadas, ao som monotono de um canto barbaresco, tres rapariga, – olhos dilatados, em fixidez sem alvo, aos pulos, inconscientes, com o busto tombando para a frente, para os lados, em movimentos bruscos, desconnexos, sacudidos.

Puzeram, entre as dansarinas em transe, uma negrita alta e magra, de tenra edade, com um chapéo masculino, de palha, sobre a gaforinha.

Chamaram um rapaz escuro, de renome entre os ultimos capoeiras cariocas, e, pondo-lhe, amoroso, o braço ao pescoço, “Pae Quintino” arrastou-o ao centro do terreiro, e mudou a letra do canto, substituido, assim,por um côro mais plangente e mais amplo. O capoeira, em poucos minutos cambaleou e, dansando, caia sobre os adeptos, atirava-se de cabeça, sobre as pedras, sendo, então, amparado e detido pelos circumstantes.

Uma das dansarinas rojou-se de bruços, na poeira, com os cabellos desgrenhados, mas, reerguida, continuou em seus volteios bizarros:

– Viva Ogun !

– Viva o general de Umbanda !

– Viva a espada do nosso general !

– Viva o cavallo do nosso general !

Repetiu a macumba estes brados do macumbeiro, e uma creoula sympathica de farfalhante vestido branco, apresentou, com respeito, a “Pae Quintino”, um comprido sabre Comblain. Passando-o a um de seus auxiliares, ordenou o chefe que se collocase o sabre nas mãos do rapaz em crise reputada mediumnica.

Levantando acima da cabeça o braço que empunhava a arma, o capoeira saiu a voltear, em pulos, em saltos, em pinotes, ao recrudescer dos ruflos dos tambores e do pandeiro. De promto, jogou o sabre ao chão e deitou-se de bruços, na terra. Traçou-lhe, então, sobre as costas, “Pae Quintino”, uma cruz aerea, e, fazendo-o levantar-se, repoz-lhe o sabre na mão.

O rapaz, de novo armado, estendeu a mão esquerda à extremidade da lamina, e collocou à maneira de uma canga, sobre o pescoço, a folha cortante de ferro, dando guinchosagudos, estridulos, reiterados. Alçou, de subito, o sabre, para assental-o sobre a testa, pela empunhadura, onde se enlaçaram os seus dez dedos. Um canto vibrante de estimulo e desafio irrompeu, alto, no terreiro.

Agitada em cadencia de dansa, desprendendo-se da frente de seu portador, a arma riscou um traço no pó, e, fincada na terra, ficou a tremer, emquanto, de joelhos aos pés de “Pae Quintino” , as mãos postas, o capoeira gemia, de modo lancinante, parecendo chorar.

Levantou-se “Pae Quintino”, e, com uma vela, descreveu-lhe um circulo luminoso ao redor do craneo, ao tempo em que fazia vibrar uma campainha. Recobrando-se esse

medium, a moça que trouxera o sabre, dobrou os joelho e alçou, em offerenda, uma tijella cheia dagua, com algumas pedras e duas velas accessas.

Um das dansarinas em transe, toou a tijella e, pondo-a sobre a cabeça, encruzou as mãos sobre as costas, começou a dansar, em movimentos de crescente rapidez. Dando signal para um canto de louvor à Mãe dagua”, “Pae Quintino” entrou, enthusiasmado, na dansa, gyrando em torno do sabre fincado no solo.

Com os cabellos engordurados pelo derretimento das velas, a rapariga parou, perguntando:

– Meu Pae, posso começar o serviço?

– Espera, minha fia, quero conversá, comtigo. Segunda, terça, quarta-feira, quarta-feira de trevas, quarta-feira de endoenças. Quando a Virge via Nossa Senhora na Paixão, dos seus olhos caia uma lagrima na terra, e toda a terra tremia. Tremam assim, meus fios, os nossos inimigos, e fique elles tudo, já, debaixo da planta do meu pé esquerdo. Já, disse, e bateu, no solo, com o pé esquerdo.

A rapariga, então, molhando as mãos na agua da tijella que tinha de boa edade, de bigode louro – não guardara a compostura conveniente, “Pae Quintino” applicou-lhe às palmas das mãos com uma palmatoria, dous fortissimos bolos.

Mudara o motivo do côro. Falava-se, agora, num tronco da floresta, tronco que estava ali, e tinha raizes na Costa da Africa. “Pae Quintino”, enconstando-se a uma grande arvore como se se offertasse para ser amarrado, pediu:

– Quem me dá uma luz ?

Levou-lh’a um dos seus adeptos, mas, surprehendendo-o, o velho macumbeiro, com agilidade de moço, suspendeu-se a um galho, passou para o outro, attingindo aos ramos mais altos. Lá, prendendo a vela entre as folhas, gritou:

– Viva o Céo ! Viva a Terra !

Ardia, na altura, a vela clareando as frondes, e, sem que o vissemos descer, “Pae Quintino” appareceu estirado no chão do terreiro, a gritar:

– Viva a Terra ! Viva o Céo !

Revirou-se em algumas cambalhotas, e, correndo por entre as arvores, annunciava:

– Eu vou me embora !

Reapparecendo no terreiro, perguntou, aos gritos:

– Quem me tirou a minha chave ? Quero abri a minha prota ! Meus fio, a minha chave?

– Eu dô a sua chave ! respondeu-çhe um de seus sobrinhos, e mergulhou na sombra das ramagens, correndo.

Quando voltou, trazia, apertada contra o peito, uma tijella, com agua e folhas verdes, e arrastava, pelos chifres, um bode preto. “Pae Quintino” agarrou a tijela, e na bocca do bicho, que o pulso de seu sobrinho abriu, derramou a metade da agua, e bebeu elle proprio a restante.

Já o novo dia raiava, annunciando em longes de aurora. Começaram a dansar um samba, duas a duas, seis mulheres. Soaram, a cadenciar-lhe o sapateio, instrumentos de cordas. Era o fim do início da festa de Ogum!

(O texto e imagem foram retiradas do Blog Registro de Umbanda, postado por Pedro Kritski, acessado em 10/01/2011 as 11:13, o mesmo foi digitado na integra, ou seja, com fidelidade ao que está no livro).





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03/02/2016

A Hierarquia Dentro do Terreiro

A hierarquia dentro do terreiro


Toda religião tem uma estrutura hierárquica bem definida, assim podendo melhor estruturar a organização, tanto social, quanto religiosa dentro do templo religioso. Algumas religiões seguem a teocracia, como o Catolicismo. O Papa é o sumo-pontífice, representante maior da Igreja, assim abaixo dele contam-se cardeais, bispos, padres e diáconos. Lembra muito uma estrutura parlamentarista, com votação indireta onde o colegiado de cardeais, escolhem o próximo Sumo-Pontífice. Inclusive o futuro escolhido, participa da votação. Esse quando está na liderança da Igreja Romana, pode indicar novos cardeais. O Papa permanece no poder até renunciar ou morrer.

A estrutura da doutrina espírita já é um pouco diferente, parece mais com uma república democrática. Os participantes e trabalhadores acabam votando em uma nova diretoria que deve ser renovada a cada período. Tem uma estrutura burocrática composta de Presidente, Vice-Presidente, Tesoureiros, Secretários e Diretores. Por um período de 2, 3 ou 4 anos, a comissão que foi votada irá determinar os andamentos tanto da Casa Espírita quando dos trabalhos sociais.

Já no terreiro a estrutura é mais próxima a uma monarquia, onde se tem a figura do Pai ou Mãe de Santo, que acaba sendo sempre o líder até o seu desencarne. Seus sucessores são escolhidos dentro do que a espiritualidade determina e a eles é dado o nome de pais ou mãe pequenos. Em algumas denominações é possível usar outros nomes, tais como: Capitães, Zeladores, Adjuntos, Braço-Direito, etc…

A hierarquia serve para estruturar o trabalho, logo é o Dirigente espiritual (pai de santo/mãe de santo) quem irá dar abertura aos trabalhos espirituais, evocando os Orixás e dando passividade para manifestação do guia-chefe do terreiro. Logo depois os demais médiuns tem a anuência de permitirem a incorporação. Na finalização do trabalho, ocorre da mesma forma, ou seja, todos os médiuns desincorporam e apenas o guia-chefe do dirigente espiritual permanece para dar a última palavra e, então vai embora.

Logo, permanecer em terra, salvo raras exceções (como no caso dos guias dos pais e mães pequenos) é uma tremenda falta de respeito pela hierarquia do terreiro. As entidades sabem disso, logo não vão descumprir a lei da casa. Então, se alguma entidade ficou em terra, sem a outorga do chefe da casa, pode ter certeza que é o médium em um processo de desequilíbrio.

Os pais pequenos não são melhores que os demais, eles apenas estão a frente do trabalho na falta do dirigente. Também são eles que respondem durante as giras de desenvolvimento, para facilitar o trabalho dos dirigentes. Acabam ajudando nas reuniões de estudo e também são os contatos mais fáceis com os trabalhadores, servem de ponte entre o chefe da casa e o corpo mediúnico. Com isso, claro, implica-se ter muito mais responsabilidades e deveres. Quem acha que um cargo desse é dado para simples promoção pessoal, está completamente enganado a respeito das atribuições do mesmo. Os pais pequenos são os que vão levar bronca do Dirigente Espiritual e receberão as críticas e reclamações do corpo mediúnico.

Esses pais e mães pequenos podem estar sendo preparados tanto para tocar o terreiro na falta em definitivo dos dirigentes – caso eles desencarnem e nenhum outro dirigente seja indicado – ou também, sendo conduzidos a abertura de suas próprias casas. Assim nasce mais um terreiro com a mesma filosofia ou pelo menos muito próxima do terreiro matriz, propagando a palavra de fé, amor e caridade da religião umbandista.

A Umbanda é bem formatada hierarquicamente até mesmo no plano astral, onde as linhas se dividem em falanges e sub-falanges. Todos os termos são de cunho militar. Não é raro ouvir dizer que um espírito-guia é mais um Soldado de Umbanda, assim como seus “cavalos”. Os espíritos não se promulgam grandes sabedores e entidades poderosas. Digamos que um médium receba um Caboclo Pedra Roxa, que é extremamente mais evoluído – para o leigo mais poderoso – do que o caboclo do pai de santo que é um Flecha Dourada. Mesmo assim, o caboclo Pedra Roxa irá se ajoelhar perante o Flecha Dourada e prestar reverência, assim como seguir o que esse caboclo diz, pois ele é o CHEFE dessa casa.

O que ocorre é que falta muita humildade para os trabalhadores de Umbanda. Isto faz com que eles sucumbam a suas vaidades e desperdicem tempo manifestando péssimas manias e ações, ao invés de praticar a caridade espiritual.

Acho – e aqui ressalto o ACHO – que devemos permitir sempre que o guia faça o trabalho do jeito dele, sem afetações ou carências. Deixando o personalismo de lado, podemos aprender muito e servir humildemente aos nossos amados guias e mentores espirituais. Pense nisso!

Douglas Rainho




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28/01/2016

Erva Peregum


Erva Peregum

Peregum - Dracena – Dracaena fragrans

Nome Científico: Dracaena fragrans
Sinonímia: Aletris fragrans, Aloe fragrantissima, Cordyline fragrans, Dracaena deremensis, Pleomele fragrans, Draco fragrans, Dracaena albanensis, Dracaena aureolus, Dracaena broomfieldii, Dracaena butayei, Dracaena deisteliana, Dracaena janssensii, Dracaena latifolia, Dracaena lindenii, Dracaena massangeana, Dracaena smithii, Dracaena steudneri, Dracaena ugandensis, Sansevieria fragrans, Pleomele deremensis, Pleomele smithii, Pleomele ugandensis

Nomes Populares: Dracena, Dragoeiro, Pau-d'água, Coqueiro-de-vênus, Dracena-deremenis, Cana-agna, Cana-índia, Tronco-do-brasil, Pau-do-brasil, Peregum

Família: Asparagaceae

Categoria: Arbustos, Arbustos Tropicais, Folhagens

Clima: Equatorial, Mediterrâneo, Oceânico, Subtropical,Temperado, Tropical

Origem: Angola, Costa do Marfim, Moçambique, Sudão,Tanzânia, Zâmbia

Altura: 0.6 a 0.9 metros, 0.9 a 1.2 metros, 1.2 a 1.8 metros,1.8 a 2.4 metros, 2.4 a 3.0 metros, 3.0 a 3.6 metros, 3.6 a 4.7 metros, 4.7 a 6.0 metros, 6.0 a 9.0 metros

Luminosidade: Luz Difusa, Meia Sombra, Sol Pleno

Ciclo de Vida: Perene

É conhecida em algumas regiões do Brasil pelo nome de nativo ou peregum e muito utilizada em água sagrada pela cultura afro-brasileira.

A dracena é uma planta arbustiva, de folhagem decorativa e amplamente cultivada em diversas partes do mundo por seu forte apelo tropical e rusticidade em ambientes internos. É uma planta de florescência espécie que é nativa em toda a África tropical, do Sudão do Sul para Moçambique , para o oeste para a Costa do Marfim e no sudoeste de Angola, que cresce em regiões de montanha em 600-2,250 1,970-7,380 m (pés) altitude.

Nas plantas jovens seu tronco geralmente é simples, mas se tiver a brotação apical danificada, ele rapidamente desenvolve novos ramos. As ramificações aumentam após cada floração. Se cultivado no solo, ele pode crescer até 15 metros de altura e atingir 30 cm de diâmetro. As folhas são grandes, brilhantes, lanceoladas e, de acordo com o cultivo, podem ser largas ou estreitas, de cores lisas ou variegadas com listras longitudinais, de margens lisas ou onduladas, com diferentes tonalidades de verde. Elas surgem em rosetas terminais, com formato que muitas vezes lembra um pompom: as folhas jovens são eretas e centrais e as folhas maiores são recurvadas. Suas inflorescências são do tipo panícula, globosas, e de cor branca a rosada, com intenso perfume adocicado. As flores são bastante atrativas para abelhas e beija-flores. Os frutos que se seguem são bagas lisas, alaranjadas a vermelhas, com várias sementes.

A dracena é bastante popular e versátil no paisagismo, podendo ser utilizada como arbusto isolado ou em grupos e renques, servindo assim como ponto focal ou compondo maciços, cercas vivas e conjuntos com outras plantas. Em interiores ela é sucesso absoluto. Plantas envasadas e muitas vezes moldadas por podas de formação embelezam escritórios, halls, salas de estar, consultórios, varandas, etc. Destacam-se nesta função as cultivares compactas e de folhas coloridas, tais como ‘Compacta’, ‘Janet Craig’, ‘Lemon Lime’, ‘Sol’, etc. Ela apresenta baixíssima manutenção, podendo ser cultivada até pelos jardineiros mais esquecidos. A dracena também é considerara uma excelente espécie para despoluir ambientes. Estudo da NASA comprovoram que ela contribui para eliminar produtos como formaldeído, xileno e tolueno.

A planta é conhecida como " masale "e é uma planta sagrada para as pessoas Chagga de Tanzânia .

Deve ser cultivada sob sol pleno, meia sombra ou luz difusa, de acordo com a cultivar e o clima, mas sempre em solo fértil, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Aprecia o calor e a umidade ambientais, mas não tolera encharcamentos. Contudo, é possível cultivar um segmento do seu tronco em vasos com água por um bom tempo. Desta forma de cultivo, surgiu o nome pau-d’água. Folhas com as pontas secas são um sinal de que a umidade está muito baixa, aumente a frequência das regas, reduza o uso do ar condicionado e, se possível, pulverize as folhas com água. Fertilize quinzenalmente na primavera e verão. Não tolera geadas ou neves. Multiplica-se por alporquia e estaquia dos ramos.

Usos

O dragoeiro deve o seu nome à cor da seiva produzida pela D. draco e pela D. cinnabari, que depois de oxidada por exposição ao ar forma uma resina pastosa de cor vermelho vivo que foi comercializada na Europa com o nome do sangue-de-dragão ou drago. O sangue-de-dragão moderno, entretanto, é mais comumente feito a partir das palmas Daemonorops.

Algumas espécias como D. deremensis, D. fragrans, D. godseffiana, D. marginata, e D. sanderiana são muito usadas como plantas caseiras e em decoração de jardins. Também muito utilizado pela cultura afro-brasileira.

USO RITUALÍSTICO DA ERVA PEREGUM

Erva de Ogum e Iansã. Apesar das diferentes espécies, conhecidas nas religiões afro-brasileiras como peregum verde, verde e amarelo e roxo, onde alguns autores atribuem a verde para Ogum, a verde e amarela para Oxóssi e a roxa para Iansã e Xangô, na Tulca recebemos a orientação espiritual de que esta erva vibra mais especificamente nas energias dos Orixás Ogum e Iansã, independente da cor ou forma de suas folhas.

Forma de uso: banhos, bate folhas e ornamental para purificar o ambiente. Erva de uso ritual para afastar espíritos obsessores, trevosos e vampirizadores.

Ednay Melo

Fontes de Pesquisa:
Wikipedia
Jardineiro.net

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