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25/06/2020

A Mediunidade de um Criminoso

A Mediunidade de um Criminoso

Mais de um ano se passou da prisão de um homem, médium conhecido como de cura, acusado de praticar vários crimes, como abusos sexuais, falsidade ideológica, corrupção de testemunha, coação, posse ilegal de armas, condenado a 60 anos de prisão, com mais 10 processos em andamento.*

Este texto surge de uma pergunta que não quer calar: como um médium desvirtuoso e criminoso pode favorecer a cura de milhares de pessoas, segundo depoimentos dos que alcançaram a cura ou dos que conhecem alguém próximo que foi favorecido pela intervenção deste médium?

Na população mundial não falta sugestões:

Uns simplesmente não acreditam em cura. 

Outros acreditam, desde que separem o médium do homem criminoso, como se um pudesse sobreviver sem o outro em um mesmo contexto de serviço mediúnico. 

A medicina explica, sem pesquisa de campo comprovada, que os que alcançaram a cura não tinham doença física de fato e sim doença psicológica, que é mais fácil de apresentar resposta favorável por sugestão e indução.

Vamos primeiro entender o que é mediunidade:

Mediunidade é a capacidade de ser intermediário entre dois planos, o material e o espiritual, é uma faculdade inerente ao ser humano, tão natural quanto os seus cinco sentidos conhecidos, sendo que em algumas pessoas apresenta-se de forma mais ostensiva do que em outras, porém todos são médiuns em diferentes graus e tipos de mediunidade, independente da religião que professa ou conduta moral.

Diante do conceito acima, se todos são médiuns, entende-se que existem médiuns moralmente decaídos, mau caráter, charlatões, bandidos, etc. Como existem médiuns de conduta ilibada, virtuosos e confiáveis. As pessoas são diferentes, os médiuns são diferentes, todos carregam a mesma essência como pessoa e como médium, por isto não podemos, como pensam alguns, separar o médium do homem criminoso, para justificar as suas curas.

Então, ainda insistimos na pergunta que não quer calar: como um médium com conduta criminosa pode efetuar curas milagrosas?

Já sabemos o que é mediunidade, agora vamos refletir quem são os espíritos  que se utilizam desta mediunidade:

Os espíritos, quando desencarnam, carregam a mesma bagagem moral de quando encarnados. Existem os espíritos bons, da luz e também os maus, das trevas. Eles vão se ligar aos médiuns de acordo com a sua semelhança, questão de sintonia. É impossível para um espírito da luz sintonizar-se com um médium com condutas trevosas, da mesma forma, é impossível a um espírito trevoso sintonizar-se com um médium do bem.

Diante do exposto acima, concluímos que os espíritos que assistem o médium criminoso são espíritos do mal. Como assim??? Um espírito do mal pode fazer um bem, uma cura? Pode. 

No mundo astral existem verdadeiras organizações trevosas, composta por espíritos comprometidos em dominar o mundo, são espíritos altamente inteligentes, dentre eles também existem os que na terra foram cientistas, médicos, filósofos e toda uma gama de atribuições para desenvolver um plano de domínio e de poder sobre a maioria. A organização criminosa do astral se sintoniza com a organização criminosa terrena através dos seus médiuns.

Os trevosos para iludir os menos atentos, se passam por espíritos bem conceituados e da luz, usam o seu nome e operam "milagres" com os seus conhecimentos de medicina. A cura aparente existe, enfatizo "aparente" porque não é uma cura real e sim momentânea, somente para iludir e angariar adeptos.

A cura verdadeira proporcionada por intercessão dos espíritos da luz e que não necessita do toque no corpo físico, muito menos que os médiuns fiquem a sós com o paciente, são curas que foram permitidas por Deus, diante do merecimento de cada um, que somente a Sua Justiça pode avaliar quem é merecedor. Portanto os espíritos da luz seguem uma Lei Maior, a Lei da Ação e Reação ou de Causa e Efeito, logo não é qualquer um que tem o merecimento da cura, muito menos multidões como vemos entre os que fanatizam o médium criminoso. Os espíritos da luz não compactuam com o sensacionalismo, fanatismo e com tudo que favoreça a ascensão do ego de qualquer médium. 

Já respondemos como um médium criminoso pode efetuar curas. Agora vamos refletir porque os espíritos de luz permitem. Eles permitem a intervenção de trevosos na Terra de diversas formas, não apenas no caso específico de curas espirituais, para que as pessoas aprendam com suas próprias experiências a discernir o bem do mal, pois muitos ensinamentos o ser humano só compreende com o sofrimento. Não estamos neste planeta a passeio, algo viemos aprender ou resgatar para evoluir.

Nossa sugestão para não cair nos planos de um médium trevoso ou mistificador: 

Sempre oriento aos meus filhos de santo que desconfiem de todo exagero. Tudo que ultrapassa a barreira da simplicidade, do anonimato e da caridade desinteressada é passível de alerta. Os espíritos da luz não precisam provar nada para ninguém, através de curas e intervenções sensacionalistas. Eles não têm a necessidade de provar a sua existência, pois sabem que cada um tem a sua hora de atingir a maturidade espiritual. Os espíritos da luz trabalham muitas vezes no anonimato, pois não querem se destacar por carregarem um nome louvável, abominam completamente o orgulho, a vaidade, a luxúria, o egocentrismo e qualquer tipo de sensacionalismo, abominam qualquer mal ao próximo. E como eles, são seus médiuns ou pelo menos são médiuns que tentam ser melhores a cada dia, pois não existe perfeição na Terra.

Que este texto, elaborado no dia de Xangô, Orixá da Justiça, possa contribuir para um melhor entendimento sobre os médiuns e suas práticas mediúnicas. Ele está em defesa das religiões, que muitas vezes são confundidas com as práticas indevidas de determinados médiuns. A religião existe não para resolver os problemas dos seus adeptos, mas para lhes dar sustentação e forças para superá-los da melhor forma possível e no momento certo, designado por Deus.

Ednay Melo - Sacerdotisa da Tulca
Recife, 24 de junho de 2020



*Corrigindo: tínhamos publicado 19 anos de prisão, mas são 60 anos (19 anos refere-se a apenas uma condenação), pedimos desculpas.





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19/06/2020

Médium Desmotivado com o Terreiro

Médium Desmotivado com o Terreiro

Acredito que quando nós decidimos entrar para corrente de um terreiro somos tomados por grande emoção, tudo é incrível, estamos entusiasmados em ajudar e participar daquilo, queremos praticar a caridade e devolver aos consulentes tudo aquilo que recebemos enquanto nós também estávamos do lado de fora do congá. Acontece que com o tempo aquelas “humanices” começam a aparecer e nós começamos a confundir nossa vaidade e o nosso egoísmo com “coisas erradas” que vemos dentro do terreiro.

Há pouco tempo atrás, em um dia desses que fui tomada pela minha vaidade e egoísmo, comecei a questionar algumas coisas que eu via dentro da minha própria casa. Eu me sentia desajustada e lendo um pouco mais sobre o assunto, encontrei uma passagem no livro “Corpo Fechado”. Ali o Pai João explicava que esse processo é bastante comum, em poucas palavras o Preto Velho dizia que o médium começa a se sentir incomodado, excluído e se afasta das atividades comuns do terreiro, em seguida ele se afasta da casa culpando todos por seu desconforto. Quando perguntado ao Pai velho de quem era a culpa disso tudo, ele respondia: do próprio médium.

Para me ajudar a entender um pouco mais sobre esse tipo de sentimento em um dia que eu estava totalmente confusa sobre o caminho a ser seguido, o Caboclo Ogum Rompe Mato disse:

- Tu lembras que a umbanda é a manifestação do espírito para a caridade, não é filha? Pois quando falamos da caridade, não estamos nos referindo apenas a caridade material, onde você doa aquilo que já tem excesso para aqueles que não tem nada, esse tipo de caridade é muito fácil, é bastante cômoda. Uma das manifestações do espírito para a caridade é a prática da caridade moral. A caridade moral é entender que cada pessoa tem um tempo nessa terra, que o tempo corre diferente para cada indivíduo. Ter caridade moral é tentar exercitar o amor ao próximo, mesmo que o próximo não partilhe dos mesmos ideais que você. Ter caridade moral é saber que cada médium dentro do terreiro é um espírito em desenvolvimento que muitas vezes está ali para errar, mas merece o perdão, pois o erro faz parte do aprendizado. Ter caridade moral é ter empatia pelo dirigente do seu solo sagrado, entendendo que muitas vezes aquela posição traz a necessidade de ter certas atitudes, e como seres humanos que são, os dirigentes também são espíritos em desenvolvimento, estão passíveis de erro e merecem o seu perdão.

O Caboclo deu uma volta pelo congá, olhou para os médiuns da corrente, para as pessoas que buscavam ajuda na casa durante aquela noite e continuou:

- Nesse tempo todo, quantas pessoas vocês viram sair daqui? Muitas! As pessoas vêm para a umbanda seguindo o seu próprio coração, mas em alguns casos quando se afastam é porque decidiram seguir a cabeça, e pior, muitas vezes não é nem a cabeça delas, mas a cabeça dos outros. Quando o médium começa a se sentir deslocado, achar erro em tudo que acontece naquela casa que lhe acolheu, lhe falta caridade moral! Ele acredita que ao vestir o branco e vir trabalhar já está fazendo um grande favor para o dirigente e os irmãos da corrente, grande engano, ele está fazendo um favor para ele mesmo. Muitas vezes ele acha que não precisa participar dos trabalhos, pois já fez muito pela casa, mas todos os dias na casa tem irmãos desesperados procurando um acalanto e uma luz nos caminhos, todos os dias e isso independe da vontade de vocês de querer trabalhar ou não! Enquanto por vezes vocês se sentem desmotivados e sem vontade de vir praticar a caridade, muitas pessoas que estão na assistência contaram os dias para que o trabalho acontecesse, contaram os dias para poder vir até o terreiro buscar auxílio para as dores da alma. Quando vocês chegaram aqui, vocês não sabiam nem andar direito, então com muito amor e caridade moral, Ogum Sete Ondas levantou vocês, ensinou como caminhar e ainda colocou luz no caminho de vocês e agora por gratidão, cabe a vocês a ajudar o sr. Sete Ondas a colocar a luz no caminho das outras pessoas.

No mesmo dia, naquelas "coincidências" que a Umbanda nos proporciona, o amado Pai Miguel de Angola arriou no terreiro e chamou os filhos para uma conversa. Entre tragos no cigarro de palha e goles de café, com uma voz suave e um olhar amoroso ele disse:

- Sabe, filhos, é preciso vigiar muito o pensamento de vocês dentro do terreiro. Quando vocês vem pra essa casa trabalhar, nós aqui na espiritualidade contamos com a força e a união de vocês, é por isso que o grupo é chamado de corrente. Cada elo da corrente é necessário para manter a força e a harmonia dos trabalhos. Quando um elo se quebra, ou quando um filho tenta repelir essa união por conta de pensamentos obscuros, nossa harmonia é prejudicada, a prática da caridade é prejudicada.

Então eu refleti sobre tudo que o Sr. Rompe Mato e o Pai Miguel disseram, pedi perdão para Oxalá pela minha conduta que muitas vezes foi desapropriada, mas que de certa forma também fazia parte do meu processo de aprendizado. E nessa reflexão eu concluí que ser umbandista é muito mais do que praticar uma religião e estar em contato com minha raiz, ser umbandista foi uma forma que Pai Oxalá, misericordioso que é, encontrou para dar ao meu espírito a oportunidade de aprender, evoluir e cumprir meu carma.

“Por entre mares, por entre matas e terras eu entendi o que meu Pai quis dizer”

Autoria desconhecida


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22/03/2020

Médium de quê?

Médium de Quê?


Muitas vezes nos deixamos levar por estados de tensão deliberada e sucumbimos a forças violentas que nos envolvem mental e emocionalmente, formando um barril de pólvora psíquica que pode a qualquer momento explodir em atos de cólera avassaladora, agressão interna e fazer com que nos tornemos médiuns de atitudes pecaminosas e sejamos arrastados nas ondas psíquicas* e emocionais de agentes extrafísicos** da mesma natureza, tornando-se parte de uma reação em cadeia na qual já não se consegue mais distinguir quem é o obsessor e quem é o obsidiado.

Assim podemos nos tornar médiuns da desarmonia e da infelicidade, tornando-nos loucos temporários, permitimos-nos vivenciar as conseqüências de nossos próprios condicionamentos viciosos e diários, conscientes e inconscientes.

Depois nos permitimos chorar como crianças perdidas na noite escura, culpando uma vida que julgamos injusta, sentindo a dor dos sentimentos e emoções densas extravasadas e tentando se adequar à uma realidade agora arrasada pelo ódio e sofrendo as conseqüências do teor dos atos que praticamos.

Somos sempre influenciados e sugestionados uns pelos outros. Mas, no final, a decisão à vontade da prática de qualquer ato é sempre da própria pessoa. Mesmo que tenhamos em nossa companhia os piores tipos, a decisão final de qualquer ato que se pratique é da própria pessoa.

O quanto tentamos nos esconder atrás de nossas máscaras*** de “anjos” sem nos darmos conta de nossos defeitos escondidos em baixo do “manto da espiritualidade oca e vazia?”.

O quanto somos médiuns da nossa turbulência interna que não encontra paz na “Terra de nós mesmos?****”

Para o verdadeiro trabalho espiritual, devemos encontrar força em nossa “herança cósmica”*****, muita determinação e vontade inabalável para vencer os nossos fantasmas do passado, nossas formas mentais oriundas de um passado mal resolvido, de muitas vidas manchadas pelo que chamávamos de “justiça”, feita através da espada banhada a sangue, onde as feridas abertas na Terra permanecem como cicatrizes espirituais de um passado cheio de dor, sem lucidez.
Hoje encontramos possibilidade de renovação, de limpar essas manchas com a luz do discernimento e do amor aos mesmos próximos de outrora!

Somos seres condicionados a atos violentos, explosões emocionais variadas. Temos nossas emoções e pensamentos moldados pelo ódio, pela vaidade, pela ganância, pela arrogância durante milhares de anos, mas hoje recebemos vinhas de luz que nos permitem trabalhar a cada dia para dissolver gradativamente nossos desvios, tornando-nos um caminho direto para a luz espiritual de fraternidade e compaixão.

Não deixemos nosso paiol se encher com a mesma pólvora que nos faz explodir vida após vida, e que cada ser espiritual que se aproximar seja tocado pela força e coragem de mudar, pela esperança de se tornar algo melhor a cada dia mudando assim a realidade a nossa volta.

Que nossos encontros espirituais se tornem comemorações extrafísicas****** de pessoas que olham para um passado longínquo e sentem no brilho do olhar a beleza da esperança de uma nova vida livre da dor do ódio e da discórdia. Com um abraço fraterno e um caminhar de mãos dadas onde o único risco é o de ser atingido pelas flechas do amor e do discernimento no caminho da evolução espiritual.

Vanderlei Oliveira


Notas:

* Ondas psíquicas: Ondas mentais criadas por grupos de pessoas com idéias afins.

** Agentes extrafísicos: Seres espirituais que se manifestam sem serem vistos por não possuírem o corpo físico mais denso.

*** Máscaras de Anjos, ou Máscaras espirituais: São nossas “capas”, em ambientes espirituais. Tentamos passar a imagem de anjinhos escondendo e sem dar conta de que o ego camufla nossos verdadeiros defeitos, escondendo-os até de nós mesmos.

**** Terra de nós mesmos: Termo utilizado pelo amparador Emmanuel, através de Chico Xavier, para designar o nosso próprio interior, nossos próprios pensamentos, sentimentos e emoções.

***** Herança cósmica: O potencial divino existente em todos os seres. A luz espiritual que reside e sustenta todas as formas de vida.

******Comemorações extrafísicas: Encontros de grupo de desencarnados que viveram momentos em conjunto em encarnações na Terra e se encontram para matar saudade e relembrar passagens de vidas que ficaram para trás.




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21/02/2020

Mensalidade e Ajuda ao Terreiro

Mensalidade e Ajuda ao Terreiro

Enquanto que na maioria das religiões, como a Católica, a Evangélica, a Kardecista, entre outras, o entendimento de que todos os participantes que tenham condições financeiras devem ajudar na manutenção da Casa religiosa, ainda na Umbanda há um enorme preconceito quando o assunto é o dinheiro ou pedir dinheiro, fruto da ignorância e da arrogância humana.

É certo de que o exercício da mediunidade é um dom do Altíssimo e como o recebemos de graça, de graça os médiuns devem transmiti-lo. Contudo, não devemos confundir as coisas – o passe (gratuito) com todas as despesas de um Centro (devem ser pagas obrigatoriamente).

É muito comum as pessoas, tanto consulentes como médiuns, afastarem-se do Centro que frequentam quando o dirigente espiritual pede uma contribuição através do pagamento de mensalidade ou para alguma obra. Sentem-se insultados, acham um absurdo que se cobre alguma coisa e já rotulam o dirigente como impostor ou alguém que deseja viver à custa do dinheiro deles. Ora, que pessoas de pouca fé e tão vazias de coração! Todos gostam de entrar em um Centro e notar que as cadeiras, o chão e tudo mais estão limpos, que há água para beber e dar descarga no banheiro, que há papel higiênico, toalha e sabonete, que as velas e demais instrumentos já estão preparados para a firmação dos Guias, que as luzes estão acesas, entre outras coisas. Todavia, poucas são as pessoas que param para pensar que tudo isso gera uma despesa muito grande com materiais de limpeza e higiene, pagamento de contas de água e luz, material para firmamento dos Orixás e da Tronqueira etc. Se pensassem em tudo isso, as pessoas iriam se dar contar de que, se cada um ajudar um pouco, o dirigente do Centro não ficará sobrecarregado com o “dever” de pagar todas essas despesas sozinho ou com a ajuda de poucos. 

E para aqueles que se preocupam em saber se o dirigente está se apropriando indevidamente do dinheiro arrecadado no Centro para o seu uso pessoal, basta fazer uma investigação mais honesta acerca de como é a vida do dirigente, a sua moral, a sua família, como são as condições de que o Centro está – ao avaliarem tudo isso, certamente terão uma ideia límpida acerca da honradez do dirigente.

Para ajudar na limpeza do centro, as pessoas ou se esquivam dessa responsabilidade ou não cumprem corretamente com aquilo a que se propõem, transferindo aos outros o encargo que deveria ser deles.  A maioria das pessoas dizem não ter tempo para ir realizar a faxina no Terreiro e, as poucas que se propõem, acabam sempre chegando com horas de atraso, dando sempre desculpas como dizendo que chegou alguém em casa e não puderam sair ou escusas de todos os tipos, o que acaba deixando o dirigente do Centro sozinho e sobrecarregado, pois todos podem escusar-se em se atrasar ou faltar, mas o dirigente não tem essa faculdade, o dirigente sempre sai de seu lar na hora em que precisa ir ao Centro, haja o que houver, esteja nas condições físicas e psíquicas que estiver. 

Esse parece ser um assunto sempre muito delicado de ser tratado. Na maioria das vezes, o que ocorre é que o dirigente acaba arcando com o pagamento de oitenta ou noventa por cento das despesas do Centro e só consegue a pouca ajuda restante à custa de pedir com exaustão pela colaboração dos participantes. E o que temos percebido é que não são raras as vezes em que o dirigente acaba se sentindo muito solitário e sobrecarregado em manter abertas as portas para o exercício de seu mister sagrado e, com a idade pesando e o tempo passando, muitos acabam fechando as suas portas, com a certeza de já haverem cumprido os seus deveres cármicos, passando a praticar a caridade de outras formas, onde não terão em suas costas o peso de tantas obrigações, de tantos aborrecimentos, de tanta ingratidão.

Com certeza, seria muito menos estressante para os dirigentes se as pessoas passassem a se oferecer para ajudar financeiramente no Centro, pois de nada adianta as pessoas dizerem que amam o Centro, ou amam o dirigente se, na hora em que o Centro precisa da ajuda, a pessoa simplesmente abstém-se ou oferece muito menos do que poderia ofertar.
Nesse mesmo sentido, seguem as palavras de Mãe Mônica Caraccio:

“O problema é que este consulente esquece que ele lavou as mãos, que deu descarga no banheiro, que o chão está limpo, que as luzes estão acesas, que há velas no altar, que ele é defumado, que existe um imóvel pelo qual se paga impostos, aluguel, contador, faxineira… Nossa, uma infinidade de coisas!
E na próxima semana o Centro estará lá: novamente de portas abertas com o chão limpo, as luzes acesas, velas no altar…

Não se percebe que há necessidades básicas para se realizar um trabalho espiritual e que o consulente também tem o dever de colaborar e não de julgar, afinal de contas ele se aproveita também materialmente do local. O entendimento de que a ajuda financeira também é obrigação da assistência, e não somente do corpo mediúnico, é necessário e deve ser encarado naturalmente sem nenhum tipo de constrangimento, tanto por parte dos dirigentes espirituais, que devem pedir, pois se não pedirem poucos colaboram, quanto por parte do corpo mediúnico e da assistência.”

Ainda nesse diapasão, segue o entendimento da Federação Brasileira de Umbanda,
em texto escrito por Manoel A. de Souza:

"O Terreiro é prolongamento de sua casa, ajude-o!

Deve haver dentro de cada um de nós, a consciência de que a nossa responsabilidade espiritual não se limita a “vestir o branco” e participar das Sessões Espíritas. Temos que nos mostrar sempre presentes e dispostos a ajudar, colaborando ativamente e financeiramente com a manutenção do nosso Terreiro - nosso Chão. O Chão que o acolheu! É nosso dever mantê-lo em funcionamento, levando a sério o pagamento de nossa contribuição financeira.

Sem dinheiro, mal podemos nos locomover, não conseguimos pegar um ônibus, comer, ou fazer parte de qualquer atividade social, a menos que essa entidade se auto mantenha, mas mesmo assim, para o Terreiro se manter de pé, alguém estará custeando as suas atividades e as nossas presenças. Quando um Terreiro nos abre as portas para uma sessão religiosa ou uma reunião festiva em louvação aos Orixás, ou mesmo para uma simples consulta espiritual, por mais humilde que seja o Templo, esteja certo de que está havendo uma despesa para que essa atividade se realize! E, se somos recebidos gratuitamente, alguém está custeando as despesas para a realização dessa empreitada espiritual. 

Alguém irá pagar a conta.
Será que o Dirigente Espiritual, o Diretor ou a Diretora deve arcar com essas despesas a fim de fazer valer sua condição de “proprietário” do Terreiro”? Serão, os Diretores, os maiores beneficiados nos trabalhos espirituais realizados nos Terreiros? Não! Não são! O Terreiro é um espaço nosso e sagrado, ele é um prolongamento da nossa casa. O Dirigente Espiritual, literalmente com os pés no chão”, humildemente, cumpre a sua nobre Missão Espiritual, ao mesmo tempo, trabalhando em prol de seu crescimento espiritual e de todo o grupo de médiuns e consulentes, paciente e generosamente, nos dedicando a maior parte do seu tempo. Por tudo isso e por todo o seu desprendimento, nos impõe o salutar dever Moral e Espiritual de ajudá-lo na condução e manutenção do nosso Templo.

Temos que nos mostrar sempre presentes e dispostos a ajudar, colaborando ativamente e financeiramente com a manutenção do nosso Terreiro - nosso Chão. O Chão que nos acolheu! É nosso dever mantê-lo em funcionamento, levando a sério também a nossa contribuição financeira.

Na verdade, o Terreiro é uma grande família. O sentimento de irmandade, fraternidade, amor e respeito reinante no seio do Terreiro constitui a base de um grande elo de corrente espiritual. Por outro lado, todos nós temos Direitos e Deveres, temos responsabilidades e obrigações uns com os outros, essa consciência grupal faz parte de nosso trabalho espiritual. A generosidade faz parte de nossa elevada missão.”

Em suma, espero que em um dia muito próximo, também na nossa sagrada Umbanda, as pessoas (médiuns e consulentes) entendam tudo isso e se sintam felizes em ajudar o dirigente na manutenção do lar espiritualista para que, da mesma forma que o dirigente se desdobra com o fim de que todos se sintam acolhidos, ele próprio – o dirigente – possa também sentir-se abraçado e protegido por todos que frequentam a Casa de Umbanda. Afinal, a Casa de Umbanda é preparada pelo Astral e pelos dirigentes para ser um desdobramento do lar de cada um de seus frequentadores, pois o que se almeja é que cada participante do Centro saia de lá mais forte, com a certeza de que está com suas energias recarregadas, com o coração mais leve e mais apto para enfrentar e vencer as provas cotidianas necessárias para o seu engrandecimento físico e espiritual.

Autoria desconhecida


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12/02/2020

A Umbanda não Merece

A Umbanda não merece


Importante refletir a umbanda nos dias atuais, dias de conexão fácil com o mundo pelos meios virtuais. O Caboclo, o Preto Velho, o Exu e todos os Guias estão lá nos terreiros ainda, incorporados em seus médiuns ou apenas intuindo, abençoando e ajudando cada filho que chega em busca de consolo, lenitivo ou esperança.

A busca frenética por respostas prontas na internet está acomodando e iludindo muita gente. Há oferta online para tudo: jogos de cartas, búzios, magias que prometem resolver todos os problemas, entre os ganhos fáceis até as vinganças mais escabrosas. 

Ofertas de cursos pagos para todos os gostos, daí a imaginação fértil dos seus idealizadores a inventar teorias complicadas e rituais fantásticos para angariar mais e mais pagadores. 

Sacerdotes que não cansam de promover a própria imagem, apelando para os títulos terrenos que possuem, com a necessidade efêmera de ser aplaudido. Usam o nome da Umbanda e falam de caridade como um cartão de visita, por trás apenas a ganância e a vaidade imperam.

Cada vez mais raro informações com o intuito apenas de esclarecer as pessoas sobre a religião, com o compromisso de enaltecer a Umbanda e mostrar o seu real valor, sem querer nada em troca. 

Ainda existem terreiros com este compromisso, portanto não é fácil encontrar no meio de tantos convites e induções promovidos pela internet. 

Mas não desista, siga firme ponderando sempre e usando o bom senso, lembre-se que a Umbanda é caridade no sentido amplo de ser e, acima de tudo, humildade e simplicidade. 

A Umbanda não merece tantos absurdos em seu nome.

Ednay Melo




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03/02/2020

Médiuns e as Dificuldades da Vida

Médiuns e as Dificuldades da Vida

A sua fé vai ser sempre testada, não tenha medo, confie.

Vivemos num planeta, ou num plano espiritual de expiações e provas.

Existe uma Lei Maior que regula todas as reações da vida, e não existe como anulá-la, neutralizá-la de forma mágica ou milagrosa. Ninguém vai conseguir limpar o seu karma, nem isentar você dos seus aprendizados, ou mesmo, se assim preferir, das suas lições de vida.

A única forma que eu conheço para diminuir as dificuldades existentes nos caminhos, sejam elas materiais, financeiras, profissionais, sentimentais, espirituais, energéticas, etc. é realizar um trabalho de investimento interior, de reeducação interna, procurando desenvolver um maior equilíbrio psíquico, emocional, comportamental, ético e espiritual.

Ninguém pode fazer um curso, um tratamento, um trabalho espiritual acreditando que ficará livre de seus aprendizados na vida, alguns até mesmo dolorosos.

A espiritualidade não opera milagres sem nós criarmos a ambiência (condições) interna e externa necessária para isso. Ela “apenas” nos instrumentaliza para que nós possamos nos capacitar cada vez mais a nível psíquico, mental, emocional, espiritual e energético para assim estarmos mais preparados para enfrentarmos os nossos desafios. Eles favorecem, geram as condições necessárias para nos auto-superarmos e superarmos as dificuldades ou as provações (consequências) da vida.

Lembre-se que não estamos sozinhos no universo e todas as ações que tomamos gera consequências, positivas ou negativas na nossa vida, assim como na vida dos outros. Isso se dá para atitudes dos outros também, sofremos em nossa vida consequências das atitudes alheias.

Muitas vezes vemos médiuns espiritualistas indignados pelas dificuldades que vivenciam em sua vida, justamente por acharem que por estarem envolvidos na e com a espiritualidade, deveriam ser eximidos das dificuldades da vida, conseguirem conquistar tudo que querem, ou mesmo não ter que passar pelos entrechoques emocionais, energéticos, comportamentais e espirituais tão comuns e naturais a nossa realidade dual e humana.

Infelizmente, não é bem assim que a vida funciona.

Muitas vezes, devido a ideia fantasiosa, acabam por se achar missionários e não apenas um simples trabalhador da espiritualidade, muitas vezes endividados com as leis da vida, acabam por isso a não se acharem protegidos, ou mesmo desprivilegiados por seus Guias e Mentores. Esquecem-se que a dívida persegue sempre o endividado, ou como é dito na Lei de Umbanda: quem deve paga, quem merece recebe! E todos nós temos sempre algo a equilibrar, ou a resolver connosco mesmo ou com a vida. E a vida, mestra em sua ação, acaba por criar, gerar as condições necessárias para que possamos aprender o que precisamos, assim com a nos fortalecer psíquico, emocional, espiritual e energeticamente.

Não descredite nos seus Guias, nos seus mentores, nos Poderes e Mistérios Divinos por a vida não corresponder aos seus intentos, as suas vontades. Tenha a certeza que talvez seria muito mais complicado se você não pudesse contar com o auxílio, com a intervenção deles na sua vida. Todos fazem o melhor que podem de acordo com suas condições e programação de vida.

Deixo aqui uma reflexão: Pegadas na areia de “Mary Stevenson”

“Uma noite eu tive um sonho…

Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e no céu passavam cenas de minha vida.

Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia: um era meu e o outro do Senhor.

Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia, e notei que muitas vezes, no caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia.

Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiantes da minha vida.

Isso aborreceu-me deveras e perguntei então ao meu Senhor:

– Senhor, tu não me disseste que, tendo eu resolvido te seguir, tu andarias sempre comigo, em todo o caminho?

Contudo, notei que durante as maiores tribulações do meu viver, havia apenas um par de pegadas na areia.

Não compreendo por que nas horas em que eu mais necessitava de ti, tu me deixaste sozinho.

O Senhor me respondeu:

– Meu querido filho.

Jamais te deixaria nas horas de prova e de sofrimento.

Quando viste na areia, apenas um par de pegadas, eram as minhas.

Foi exatamente aí, que te carreguei nos braços”.


Heldney Cals




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29/01/2020

Entendendo o Carma

Entendendo o Carma

Dona Isabel caminhava em direção a Pai Antônio. Chegara a hora de seu atendimento e ela estava para comunicar-lhe sua decisão: pediria afastamento do terreiro.
− Oi zifia! Como vai suncê? Ah quanto tempo hein?!?
− Boa noite Pai Antônio! O senhor já sabe o que eu vim fazer aqui hoje, não sabe?
− Filha se este preto-velho tivesse este poder ele não seria Pai Antônio: seria o próprio Deus, pois só Ele sabe de todas as coisas.
− Como assim vovô?
− Nós não somos advinhos zifia! Se suncê veio aqui é porque tem algo a dizer e este nêgo velho aqui se encontra, de coração aberto, só para te escutar!
− Então acho que tenho que dizer de uma vez, não é vovô?
− Da forma que suncê achar melhor, minha filha!
− É que eu vou pedir desligamento do terreiro! O que o senhor acha disto?
− Filha toda decisão sinaliza um caminho que envolve pensamentos e sentimentos. Onde este caminho vai dar, abaixo de Deus, só teu pensar e sentir é que poderão dizer.
− Como assim Pai Antônio?
− Bom senso minha filha! Toda decisão, de todo ser humano, deve ser pautada pelo bom senso!
− O senhor está dizendo que esta minha decisão não está baseada no bom senso?
− Longe de mim zifia, pois este preto-velho não faz julgamento de valor! Só estou tentando explicar para a filha que a ilusão obscurece o bom senso.
− Ilusão? Como assim?
− Só um instantinho minha filha!
A entidade solicitou que seu cambone lhe trouxesse água gelada. Somente quando ele retornou foi que Pai Antônio disse a Isabel:
− Filha, por caridade, estique sua mão direita e diga se este líquido está quente ou frio.
A entidade derramou um pouco de água mineral, que estava em temperatura ambiente, na mão dela que respondeu-lhe:
− Nem quente, nem fria: está em temperatura ambiente!
− Continue com sua mão esticada.
Pai Antônio derramou a água gelada, que seu cambone trouxera, na destra de sua consulente que falou-lhe:
− Este líquido está gelado!
− Permaneça com sua mão esticada!
O preto-velho tornou a derramar a água mineral em temperatura ambiente na mão de Isabel que disse:
− Esta água está quente!
− Suncê viu de onde nêgo tirou esta água que suncê falou que estava quente?
− Vi sim senhor. O senhor a tirou da garrafa de água mineral!
− E como a mesma água que suncê respondeu que estava em temperatura ambiente, de repente ficou quente?
− É que a água que o senhor jogou na minha mão antes dela estava muito gelada.
− Muito bem minha filha! Suncê é muito sabida! Percebe o que a ilusão dos sentidos pode fazer com seu julgamento? Seu pensamento? Seu sentimento?
− Não totalmente.
− Não se preocupe minha filha! Continue a prosear com este velho que Deus, em sua infinita misericórdia, há de fazê-la compreender certas coisas!
− Vovô eu não consigo mais ver sentido em ficar aqui: o senhor sabe que minha filha, que assim como eu era médium desta casa, acabou de desencarnar fulminantemente por conta de uma enfermidade que ninguém pôde diagnosticar a tempo de salvá-la.
− Salvá-la de que zifia?
− Da morte!
− Mas não existe morte zifia: só existe vida, ainda que em outro plano da existência!
− Nenhuma entidade contou nada para mim ou para ela que só foi saber da doença quando passou mal e os médicos a diagnosticaram como enferma após realização de vários exames.
− Suncê se sentiu traída por nós, minha filha?
− Vocês sabiam da doença?
− Sim minha filha!
− Então, eu me senti traída, porque vocês não me alertaram!
− Filha, e de que adiantaria nosso alerta se a doença começara a se desenvolver em sua filha há dez meses? Se a situação da saúde de sua filha era irreversível há cinco meses e se vocês entraram para corrente mediúnica do terreiro há três meses?
− Mas vocês poderiam ter nos alertado, nos preparado!
− Preparar? Desculpe a franqueza zifia, mas a preparação, a ser realizada com sabedoria e humildade, para a verdade imutável que é o desencarne deve acontecer todo dia e a todo o momento, pois só Deus sabe a hora de cada um.
− Eu vou sair por que acho que vocês podiam ter nos preparado!
− Filha há muito tempo, quando suncê tinha dezesseis anos, seu pai faleceu da mesma moléstia que sua filha apresentou!
− É verdade.
− Seu pai lutou contra a moléstia por quase treze meses!
− Isto também é verdade!
− E foi justamente durante estes treze meses que suncê, somatizando todo o sofrimento pela condição de saúde de seu paizinho, desenvolveu uma úlcera gástrica que tanto lhe incomoda até os dias de hoje!
− É verdade!
− Agora minha filha, abrindo seu coração com honestidade, responda:
− Em que lhe ajudou saber sobre a doença do seu pai à época em que ele estava doente?
− Acho que começo a entender o senhor!
− Zifia Isabel, este nêgo véio fala a suncê que nós, que suncês chamam de entidades, não somos advinhos! Somos falangeiros que militam pela Lei Maior e pela Justiça Divina!
− Eu entendo.
− Para Deus o bem maior está acima das individualidades dos seus humanos filhos e foi por isso que ao mundo Ele enviou Jesus.
Isabel chorou sentidamente ao lembrar-se do sofrimento a que Jesus fora submetido quando encarnado e reconheceu que o sofrimento de sua filha nada foi em comparação ao dele.
Pai Antônio esperou o estado emocional de Isabel tornar a normalidade e disse-lhe:
− Nêgo-velho gostou da sinceridade do seu coração, mas aqui no dia de hoje nós não estamos trabalhando o sofrimento de sua filha; até mesmo porque ela não sofre mais onde se encontra, já que está disposta em repouso e recebendo tratamento adequado para que venha a despertar em momento oportuno!
− Verdade?
− Sim zifia! No dia de hoje trabalhamos o seu sofrimento!
− É vovô! Cada um com seu karma!
− Filha karma não é sofrimento: é libertação!
− Como assim?
− Karma, zifia Isabel, é ter humildade de clamar sabedoria a Deus diante dos desafios que são apresentados na vida de cada um, pois uma vez aprendido o ensinamento, com fé e resignação, evolui-se em direção a Deus-Nosso-Pai!
− Como assim?
− A vida é um karma não pelos sofrimentos que surgem na jornada, mas pela possibilidade de libertação que proporciona se tivermos sabedoria para vencer os desafios no caminho.
− Creio que entendi! A morte de um ente querido é um desafio natural da existência humana. O karma não é sofrer com a perda, uma vez que o sofrimento é natural nesses casos, mas sim alcançar a liberdade incondicional ao vencermos tal desafio.
− Filha tempos atrás suncê contou que a entidade que lhe assiste nas incorporações, o Caboclo Araribóia, apareceu duas vezes em sonho para você e pedia-lhe que continuasse a andar numa estrada, não é verdade?
− Isto vovô! Ele aparecia e me mostrava uma estrada em que eu devia voltar a caminhar!
− Pois então zifia saiba que tal estrada não é necessariamente este terreiro, mas sim a Umbanda Sagrada!
− Verdade?
− Certamente zifia! Se suncê quiser sair do terreiro as portas vão estar abertas assim como se encontravam quando você por elas adentrou neste terreiro pela primeira vez. O importante na sua vida não é o terreiro zifia, seja ele qual for, o importante é a Umbanda!
− Isto é verdade mesmo Pai Antônio porque antes de entrar neste terreiro há três meses, eu fiquei cinco anos afastada da umbanda.
− Nêgo velho entende zifia! Foi quando seu esposo faleceu, não foi?
− Foi isto mesmo vovô!
− Após vinte e cinco anos de casados o seu esposo desencarnou pelo câncer e você, como forma de homenagear o amor que sempre houve entre vocês, decidiu prestar trabalho voluntário em alas hospitalares onde se encontram crianças que possuem câncer, não é verdade?
− Como o senhor sabe disto vovô? Eu nunca contei para ninguém!
− Foi o Caboclo Araribóia zifia!
− Ah é? E porque vovô?
− Por que para Deus o bem maior está acima da individualidade do ser humano.
− Como assim? O senhor poderia explicar?
− Filha o câncer em sua história familiar não é sofrimento apenas: é karma! Possibilidade de libertação em direção a Deus!
− Isto eu estou entendendo!
− Karma é cumprimento da Lei Maior e da Justiça Divina na vida de suas humanas criaturas! Quando estas se envolvem consistentemente em labores caritativos o Pai envia sua Misericórdia como um bálsamo na vida na vida destes Seus filhos.
− Entendo!
− O teu trabalho voluntário em favor das criancinhas fez com que você recebesse a oportunidade de ter a tua filha tratada e assistida pelos médicos do astral a fim de que viesse a ter um desencarne sereno e indolor!
− Meu Deus eu jamais poderá imaginar!
− Posso lhe dizer ainda mais zifia: sabendo que você somatiza com muita facilidade o sofrimento dos que lhe são muito próximos, foi que o Caboclo Araribóia providenciou formas para lhe resgatar de volta para a Umbanda, como um modo de evitar que isto ocorresse!
− Meu Pai Deus é muito bom!
− Até mesmo por que se isto ocorresse as crianças assistidas por você voluntariamente ficariam sem ter como receber o lenitivo que você mais consegue lhes proporcionar: o sorriso!
Dona Isabel chorava copiosamente a cada vez que dizia:
− Deus é bom! Obrigada meu Deus! Obrigada!
Pai Antônio aguardou sua consulente serenar as emoções e, para encerrar aquele atendimento, disse-lhe:
− Foi o que este preto-velho lhe disse zifia: Para Deus o bem maior está acima das individualidades dos seus humanos filhos, mas a misericórdia Dele é, de fato, infinita! Suncê não está sozinha minha filha, nunca se esqueça disto! Vá com a força e a luz de Deus-Nosso-Pai!

Autoria desconhecida



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