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30/07/2019

Nossos Umbigos

Nossos Umbigos


O terreiro de Umbanda, como um hospital de almas ou pronto socorro emergencial, recebe nos dias de sessão ou "gira" uma quantidade razoável de encarnados, mas somente os espíritos desencarnados que lá trabalham, é que podem vislumbrar a imensidão de desencarnados que se movimentam no ambiente, em busca de ajuda. Ordenados e amparados por seus tutores, chegam estropiados e com aparência assustadora, uma vez que em sua maioria representam aqueles que cansaram ou esgotaram suas forças, na vida andarilha do pós-morte do corpo físico.

Voltam a pátria espiritual e dela não tem conhecimento e sem noção da continuidade da vida, quando não, desconhecem até mesmo sua condição de espírito desencarnado e por isso continuam a sentir os desejos, ambições, gostos e dores da vida física e nesse caminho, definham suas energias.

Quando conseguem alcançar algum vislumbre de consciência de sua realidade, permitem a ajuda dos benfeitores que os encaminham a algum local sagrado, onde medianeiros encarnados possam ajudá-los através do choque anímico, permitindo o total desligamento da matéria. Neste momento os chamados Centros Espíritas e de Umbanda, tornam-se "oásis" em seus desertos e como pontes entre os céu e a terra, permitem a passagem de volta à casa.

Naquela noite chuvosa e fria, a maioria dos médiuns daquele terreiro, ressentidos pela dificuldade de deixarem o conforto dos lares, faltaram ao trabalho espiritual e o dirigente preocupado com o atendimento dos doentes que se apinhavam no espaço que dia-a-dia se tornava pequeno, ajoelhou-se em frente ao congá, assumindo sua tristeza diante dos Guias espirituais. Deixou correr duas lágrimas para aliviar seu peito angustiado. Pensou em como fora seu dia e nas atribulações a que já deveria estar acostumado, mas que agora pesavam mais pela saúde que já lhe faltava. Nas dificuldades financeiras, no aluguel da casa que já vencera e nos tantos atrapalhos que ocorreram em seu ambiente de trabalho naquele dia. Sem contar na visita que viera de longe e que deixara em casa esperando pela sua volta do terreiro. Nada disso o impediu de fazer uma prece no final do dia, de tomar seu banho de ervas e seguir a pé até o terreiro, enfrentando a distância e o temporal que se fazia.

Sentia-se feliz em cumprir sua tarefa mediúnica, mas como havia assumido abrir um "hospital de almas", juntamente com outros irmãos que se responsabilizaram perante a espiritualidade em servir à caridade pelo menos nos dias de atendimento ao público, sabia que sozinho pouco podia fazer.

Pedindo perdão aos guias pela sua tristeza e talvez incompreensão em ver os descaso dos médiuns, que a menor dificuldade, escolhiam cuidar dos próprios umbigos à servir aos necessitados, solicitou que se redobrasse no plano espiritual a ajuda e que ninguém saísse dali sem receber amparo.

Olhando a imagem de Oxalá que mesmo ofuscada pelas lágrimas, irradiava sua luz azulada, sentiu que algo maior do que a lamparina aos pés da figura, agora brilhava. Era uma energia em forma de fios dourados que se distribuíam, a partir do coração do Cristo e que cobriam os poucos médiuns que oravam silenciosos, compartilhando daquele momento, entendendo a tristeza do dirigente.

Agindo como um bálsamo sobre todos, iniciaram a abertura dos trabalhos com a alegria costumeira. Quando o dirigente espiritual se fez presente através de seu aparelho, transmitiu segurança a corrente, com palavras amorosas e firmes e nesse instante, falangeiros de todas as correntes da Umbanda ali "baixaram" e utilizando de todos os recursos existentes no mundo espiritual, usaram ao máximo a capacidade de cada médium disponível, ampliando-lhes a percepção e irradiação energética, o que valeu de um trabalho eficiente e rápido.

Harmoniosamente, os trabalhos encerraram-se no horário costumeiro e todos os necessitados foram atendidos.

Desdobrados em corpo astral, dois observadores descontentes com o final feliz, esbravejavam do lado de fora daquele terreiro. Sua programação e intenso trabalho para desviar os médiuns da casa naquela noite, no intuito de enfraquecer a corrente e consequentemente, infiltrarem suas "entidades" no meio dela, havia falhado. Teriam que redobrar esforços na próxima investida.

Quando as luzes se apagaram e a porta do terreiro fechou, esvaziando-se a casa material, no plano espiritual, organizava-se o ambiente energético para logo mais receber os mesmos médiuns, agora desdobrados pelo sono.

Passava da meia noite no horário terreno e os médiuns, agora em corpo de energia voltavam ao mesmo local do qual a pouco haviam saído. Os aguardavam, silenciosos ouvindo um mantra sagrado, seus benfeitores espirituais. Tudo estava muito limpo e perfumado por ervas e flores. Um a um, ao adentrar, era conduzido a uma treliça de folhas verdes e convidado a deitar-se, recebendo ali um banho de energias revigorantes. Quando todos já se encontravam prontos, seguiram em caravana para os hospitais do astral e lá, como verdadeiros enfermeiros, auxiliaram por horas a fio a tantos espíritos que horas antes haviam estado com eles no terreiro e recebido os primeiros socorros.

No final da noite, o canto de Oxum os chamava para lavarem a "alma" em sua cachoeira e assim o fizeram, para somente depois retornar aos seus corpos físicos que se permitia descansar no leito.

-Vó Benta, mas e aqueles médiuns que faltaram ao terreiro naquela noite, perderam de viver tudo isso?

-Nem todos zi fio! Nem todos! Dois ou três deles, faltaram por necessidades extremas e não por desleixo e assim sendo, se propuseram antes de dormir, auxiliar o mundo espiritual e por isso foram convidados a fazer parte da caravana.

- E aqueles que mesmo não tendo comparecido por preguiça, se ofereceram para auxiliar durante o sono, não foram aceitos?

-A preguiça, bem como qualquer outro vício, é um atributo do ego e não do espírito, mas que reflete neste. Perdem-se grandes e valiosas oportunidades a todo instante pela insensatez de ouvirmos o ego e suas exigências. O tempo, zi fio, é oportunidade sagrada e dele se faz o que bem quer cada um. O minuto passado, não retorna mais, pois o tempo renova-se constantemente. O amanhã nos dirá o que fizemos no ontem e esse tempo que virá é nosso desconhecido, por isso não sabemos se nele ainda estaremos por aqui servindo ou se em algum lugar, clamando por ajuda de outros que poderão alegar não ter tempo para nós, pois precisam cuidar de seus umbigos.

Assim é a vida, zi fio. Contínua troca!

Vovó Benta - Leni W. Saviscki



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O Representante dos Guias

O representante dos Guias


Se você acredita que o médium é apenas uma responsabilidade no dia da gira... você não entendeu nada do que é ser médium de Umbanda.

É muito simples no dia da gira, vestir o branco, colocar suas guias, ficar em silencio e incorporar... na verdade acho isso até robótico.

Vejo muitos filhos de Umbanda se vangloriando em ter um Orixá, dizendo sou Filho de Ogum, sou Filha de Yansa, sou Filho de Xango... tenho Pai João, Caboclo Arranca Toco, Peito de Aço... meu Exu é esse e muitos mais. Não que eu seja contra esta estima pelos guias, sou completamente a favor do Amor por Eles, acredito que tem que ter orgulho de dizer, “esse é o Meu Guia”. Mas para dizer isso, precisa existir responsabilidade, maturidade e muita dedicação. O médium é o representante encarnado dos guias, ele é quem vai mostrar e provar que reconhece e aprende os valores que Seus Guias lhe trazem e ser a manifestação Deles em terra. Isso não se mostra incorporado, se mostra no dia a dia, em casa, na família, no trabalho.

Pergunto então:

Você representa os seus guias!?

Quando lá do alto o Caboclo te olha ele diz: Esse é o meu filho!

Os seus guias tem orgulho de você?

Já dizia, "Umbanda é Coisa séria para gente séria". (Caboclo Mirim).

As atitudes morais de um médium são extremamente importantes. O que diria um Preto Velho de um médium fofoqueiro, o que diria um Exu de um médium mentiroso?

Nós, médiuns, filhos de Orixás, devemos ter a responsabilidade de carregar seres tão grandiosos em nossas coroas. Não dá mais para cair nesta conversinha que o guia é o guia e o médium é o médium. Estamos em uma busca juntos, médium e guia, existe um porquê, existe um motivo, e precisamos ser cada dia mais o que Eles esperam de nós.

Repito, Umbanda é para poucos, pois poucos entenderão que viver a Umbanda está além dos olhares.

Queiram se vestir dos guias, incorporar a verdade da vida, ser honesto e justo, para que possam se ajoelhar para Xangô e agradecer ao Pai Ogum!

Autor desconhecido



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26/07/2019

Médium Indisciplinado

Médium indisciplinado


Quando um consulente, durante uma Gira, é atendido por um Guia, aquele é um momento mágico; muitas vezes, esclarecedor, divisor de águas e decisório na vida da pessoa. E é assim que tem que ser: ISSO É UMBANDA - ajuda, amparo e orientação!

No atendimento, a pessoa enxerga aquela incorporação como a materialização da Umbanda. Para ela, o Guia é o representante da religião e o que ele fala ou faz é reflexo do que é a Umbanda.

Essa visão pode se tornar deturpada na medida em que o consulente desconhece a possibilidade do médium desequilibrado intervir na incorporação e vai embora da Gira com uma impressão errada da nossa religião.

Dentre os vários mitos em torno da incorporação dos Guias, há um que se destaca pelo potencial de influenciar negativamente o consulente em relação ao seu conceito do que é a Umbanda: Guias bravos, estúpidos, secos, mal educados, tratando mal todo mundo!

Meu entendimento é que todo Guia, para conquistar o grau de Guia, passou por muito estudo, muito trabalho, muita vivência, onde adquiriu muita sabedoria. Na minha visão, os Guias são espíritos de irmãos mais velhos e realmente muito mais evoluídos do que nós.

Como é que alguém que adquiriu maturidade e equilíbrio pode ser estúpido e mal educado? Como assim?

Há aqueles Guias “incorporados” que só sabem dar bronca, criticar, julgar e condenar. Daí, o consulente sai da Gira muito pior do que chegou; mais triste, mais culpado, mais nervoso e, muitas vezes, com raiva da Casa, do Guia e da Umbanda. E sai falando mal por aí e nunca mais volta. E dou toda razão, pois eu faria o mesmo se estivesse buscando ajuda e recebesse pedradas!

Até os cambonos evitam trabalhar com esses Guias, pois muitas vezes são mal tratados com palavras ríspidas, autoritárias e humilhantes.

Que fique muito claro uma coisa: ISSO NÃO É O GUIA - isso é médium em animismo, colocando para fora toda sua revolta, raiva e stress que estava acumulado, contido e abafado dentro dele e explodiu na incorporação.

Uma coisa é ter um Guia específico que é mais direto, mais sério, mais disciplinador. Outra coisa é ter a maioria (ou todos) os seus Guias apresentando-se com raiva e revolta dos nossos erros e limitações encarnadas.

Caridade também é compreensão, compaixão, tolerância, paciência, incentivo e esperança - e o Guia sabe disso melhor que ninguém!

O Guia, que é calmo, equilibrado, tem discernimento e nutre por nós um amor incondicional, olha para seu médium com o carinho e a tristeza do pai que vê seu filho doente da alma.

Mas ele continua vindo e incorporando assim mesmo, pois é refletindo o íntimo de seu filho que talvez ele o desperte para os desequilíbrios de sua vida que estão se materializando durante a incorporação. E, consciente de si mesmo, esse médium busque ajuda para mudar e melhorar.

Você, médium que incorpora e dá consultas em seu terreiro, faça uma auto-análise, faça uma reflexão de seus Guias e o comportamento deles e meça onde termina o seu ego desequilibrado e onde começa a sabedoria e o amor do Guia durante as incorporações.

Texto publicado no Jornal de Umbanda Sagrada em Agosto de 2014




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Os Trabalhos em um Terreiro de Umbanda

Os trabalhos em um terreiro de Umbanda


O QUE ACONTECE NO PLANO INVISÍVEL DURANTE OS TRABALHOS NUM TERREIRO DE UMBANDA?

Geralmente, a pessoa que procura um terreiro de Umbanda para receber um passe energético ou orientação do plano espiritual chega em desequilíbrio emocional, mental, quando não com distúrbios no corpo físico, e, por sintonia, traz consigo espíritos desencarnados que estão vibrando no mesmo diapasão. O auxílio espiritual inicia-se no momento em que o consulente entra no terreiro.

Já no portão de entrada encontramos, a postos, os Exus que farão a triagem dos espíritos desencarnados, acompanhantes do consulente. Essa triagem separará os desencarnados conforme o seu momento consciencial, de merecimento e grau de maldade, liberando para alguns a entrada ao templo, enquanto, para outros, a permissão será vetada, ficando esses últimos retidos na tronqueira – assentamentos dos Exus.

A reclusão será por um determinado tempo e, após esse período, serão encaminhados a outros locais, conforme determinação do Alto.

Para que o terreiro tenha o amparo dos espíritos benfeitores, é de máxima importância que haja disciplina, organização e respeito, bases essas onde serão firmados todos os trabalhos. Para tanto, é essencial um horário predeterminado para iniciar e terminar os trabalhos, bem como um ritual que organizará as tarefas, sejam elas mediúnicas ou relativas à assistência; respeito entre os médiuns trabalhadores e à hierarquia; ausência ou controle de fofocas, melindres ou qualquer outro tipo de desarmonia nos relacionamentos.

Consequentemente, a sessão de caridade no plano físico terá horário de término, ao passo que, na sua contraparte invisível, os trabalhos de socorro continuarão adentrando a noite. Geralmente, nessa segunda parte dos atendimentos, a espiritualidade solicita a presença de alguns médiuns que, em desdobramento natural do sono físico, ajudarão nas tarefas de socorro, fornecendo o ectoplasma necessário.

Do livro Ensinamentos Básicos de Umbanda - Lizete Chaves e Daisy Mutti



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22/07/2019

Preceito Umbandista

Preceito umbandista


“... Umbanda tem fundamento. É preciso estudar.”

Assim como nas demais religiões, a Umbanda é composta de rituais e procedimentos necessários para a execução de um bom trabalho de atendimento e para melhor preparo de seus trabalhadores independente da função que realize dentro do terreiro.

Vamos falar do preceito, é um ritual de preparo do médium feito às vésperas do atendimento em si e no dia da gira, seja ele médium de incorporação, cambone, curimbeiro, etc.

Primeiramente, qual o significado da palavra preceito?

Preceito é uma palavra que vem do latim praeceptus que significa ordem, regra, norma, condição. Pode dizer respeito a uma doutrina, mandamento ou ensinamento. Pode ser as bases de uma religião.

No catolicismo, os fiéis fazem preceito no período da semana santa, os evangélicos também realizam um preceito no período da sua santa ceia e assim por diante.

Na Umbanda, o preceito é realizado na véspera e no dia da gira.

O preceito consiste em realizar uma limpeza e resguardo de energias puras no corpo do médium. E durante esse dia, o médium faz refeições leves; não come carnes; não mantém relações sexuais; não ingere álcool e evita ao máximo situações de estresse e nervosismo.

Mas, por quê?

- A carne que consumimos vem de animais mortos em abatedouros e a carne traz consigo todo o sofrimento daquele animal e isso interfere negativamente na energia do médium

- Refeições pesadas tendem a demorar a ser digeridas e durante esse processo causa a famosa moleza no corpo e isso interfere na disposição do médium.

- Álcool como todos sabem, altera o estado psicológico do indivíduo e, portanto, altera a disposição e atenção do médium.

- No sexo há troca de energias com a outra pessoa e há também um gasto excessivo da energia do próprio médium.

- Estresse/nervoso altera o psicológico e o estado emocional do médium e, dessa forma, recomenda-se que o médium esteja em paz consigo mesmo, equilibrado e em paz com seus irmãos e demais pessoas que o cercam.

Evitando todas essas situações o médium purifica seu corpo de dentro pra fora e acumula a energia que os guias necessitam para execução do trabalho.

Enfim, o preceito é um ritual umbandista, tem fundamento e o médium deve respeitá-lo e realizá-lo com amor. Todavia, a partir do momento em que dedicar-se à sua religião for um sacrifico realizado por obrigação, é aconselhável submeter-se a uma autoanálise a fim de saber se este é o caminho que te faz feliz.

Mas, meus irmãos, apenas uma observação e deixemos a hipocrisia de lado e usemos bastante o bom-senso:

O preceito é um ato de purificação e resguardo de força e não adianta nada o médium se entupir de carne e cachaça a semana inteira, viver uma vida sexualmente compulsiva e ainda ser aquela pessoa intragável ou que vive em desavença com os outros. Daí, chega a véspera da gira, o ser parece que virou um santo e chega no terreiro o próprio cordeiro imaculado.

Peraí, né?!

A semana tem 7 dias, o preceito dependendo da casa pode ser de 12h, 24h ou mais horas e aí o cidadão acha que 1 diazinho é suficiente para limpar seu corpo e concentrar sua energia. Ou o que é pior, enquanto está dentro do terreiro trata todos com muito amor, porém é só sair portão a fora se transforma ou retorna-se ao estado original de um sujeito desagradável e sem amor.

Cabe até um conselho que é bom sim e pra quem é bom entendedor, tem um valor maior que muitos tesouros:

Somos umbandistas, irmãos. Nossa religião prega o amor, a caridade, a humildade, a sabedoria. Mas, não viemos prontos e ao passar a conhecer a religião mais a fundo, percebemos que há muita coisa que precisamos eliminar em nós mesmos e muito a melhorar no nosso interior. É a famosa reforma íntima que é realizada dia a dia progressivamente.

A Umbanda é linda, irmãos e fascinante e precisa ser absorvida e integrada em nosso modo de vida. Não é fanatismo, é viver de acordo com o que se dissemina.

Vamos então mostrar ao mundo o quão é linda através dos nossos gestos e atitudes.

Axé, irmãozinhos de fé!

Saravá Umbanda!

Centro de Umbanda Iemanjá e Ogum Beira Mar




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16/07/2019

Terreiro Perfeito?

Terreiro perfeito?


Uma casa religiosa precisa, necessariamente, ser um local que proporciona paz, conforto, esperança; que inspire a busca incessante por felicidade, bem estar, alegria. Um local em que, ao pisarmos, sintamos o coração bater mais rápido, o braço arrepiar-se, a alma ficar mais leve.

Quando decidimos fazer parte de uma casa religiosa, o esperado é que encontremos um local que nos complete e que nos faça sentir bem. Se o local onde frequentamos nos proporciona outros tipos de emoções, especialmente se contrárias, então devemos repensar se estamos no local correto.

Encontraremos outros que também anseiam por esse sentimento de pertencimento e encontro do interno com o externo. Alguns virão, outros irão. Não sentiremos afinidade com todos e, às vezes, podemos mesmo sentir aversão por alguns.

Neste caso, o essencial é saber conviver com a diferença, respeitando os espaços de cada um e as funções assumidas. Podemos não gostar, por exemplo, de um determinado médium, mas precisamos saber diferenciá-lo da entidade com quem trabalha e devotar a ela todo apreço que dedicaríamos a qualquer outra ali.

Mas, talvez, estejamos esperando encontrar aquela casa, aquele grupo mediúnico, que seja perfeito. Que nada há para consertar, que está tudo pronto, acabado. Um local em que tudo funcione como deve funcionar, naturalmente, sem causar aborrecimentos de espécie alguma. Um local onde o amor flua plenamente entre todos os membros, que todos se deem bem, se visitem, estimem-se em abundância e tudo seja, sempre, um mar de rosas.

O problema é que tal local não existe. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, podemos ler que: a felicidade não é deste mundo, o que equivale a dizer que a perfeição não é deste mundo. Não encontraremos uma casa religiosa perfeita porque não somos perfeitos; se não somos perfeitos, como vamos esperar a perfeição dos outros que, como nós, igualmente buscam seu lugar ao sol?

Precisamos, sim, encontrar um local onde nos sintamos bem e onde possamos nos aplicar, desenvolver, trabalhar, servir, estabelecer laços de amizade e crescer, fazendo, igualmente, a nossa parte para que os demais também o consigam.

A.D.



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Desabafo de uma Macumbeira

Desabafo de uma macumbeira


1. Eu sei que macumba é o nome de uma árvore da qual se faz um instrumento de percussão com o mesmo nome, e que por consequência, macumbeiro seria quem toca o instrumento “macumba”. Também sei que este é um termo amplamente usado pejorativamente para designar trabalhos decorrentes de religiões afro-brasileiras, ou os denominados “despachos”. Mas uso aqui o termo “macumbeira” de propósito, pra quebrarmos de vez esse preconceito tolo. Vou pra macumba, faço macumba, e isso não tem nada de mal. Não prejudico as pessoas, não amarro ninguém, sou a favor do amor e da felicidade. Talvez você, que use esse termo com a intenção de denegrir alguém, seja o tipo de pessoa que fere, machuca e maltrata os outros. Eu não sou.

2. Eu acredito num Deus único. Às vezes o chamo de Olorum, às vezes de Zambi, ou ainda de Pai Maior, de Criador Onipotente, de Nosso Pai. Às vezes o chamo simplesmente de Deus. Se você acha que o Deus da sua religião é diferente do da minha, quem acredita que existe mais de um Deus é você e não eu.

3. Eu não idolatro imagens. Não acho que a imagem que eu tenho no meu terreiro ou na minha casa é a própria divindade. Não sou idiota. Seria o mesmo que dizer que ao beijar uma foto, eu pense que estou beijando a própria pessoa. Não menospreze a minha inteligência.

4. Considero os Orixás como qualidades divinas, irradiações do Pai todo poderoso, que minha religião usa respeitosamente e didaticamente para que entendamos como essas manifestações atuam em nossas vidas. Não é fácil entender isso. Vá estudar a respeito, e quem sabe um dia possamos conversar de igual pra igual.

5. Se você acredita que alguém está passando por algum problema na vida (seja financeiro, de relacionamento ou de saúde) pelo simples fato de ser umbandista, então provavelmente você é uma pessoa milionária, que nunca sofreu nenhuma desilusão e nunca ficou (nem ficará) doente. Se não é o seu caso, nada justifica um pensamento tão absurdo como este. Reveja seus conceitos.

6. A minha religião não cultua o demônio e só faz o bem. Se você conheceu alguém que se denominava umbandista e era do mal, saiba que isso é do indivíduo e não da religião. Do mesmo modo, há padres promíscuos, pastores usurpadores, espíritas soberbos que não são capazes de doutrinar nem seus demônios internos, quanto mais os dos outros. Gente ruim há em todo o canto. Não culpemos a religião pelas maldades do ser humano.

7. Sei que isso é óbvio, mas quero deixar claro que a Umbanda é uma parte importante da minha vida, mas ninguém precisa ser umbandista pra ser meu amigo. O que precisa é me respeitar e respeitar a minha religião. O fato de não acreditar nas mesmas coisas que eu não interfere em nossa amizade, desde que haja um respeito mútuo. Se minhas publicações em redes sociais o agridem, faça a gentileza de me excluir. Se minha religião o incomoda a ponto de você não conseguir conter a sua língua, favor me excluir também da sua vida. Está aí um cordão energético que não faço a menor questão de manter.

8. Se você sentir que algumas dessas palavras foram direcionadas a você, espero de verdade que elas toquem fundo o seu coração e lhe façam refletir.

9. Umbanda não é um balcão de negócios. Eu levo a sério a minha religião. Mas fique tranquilo: se um dia você precisar, pode procurar um Terreiro, pois não discriminamos ninguém. Com certeza você será bem atendido. Só prepare-se: as entidades falam o que você precisa ouvir, não necessariamente o que você quer escutar.

10. Independente da opinião de uns e outros, tento fazer a minha parte da melhor maneira possível. Às vezes erro, pois não sou perfeita. Mas estou firme em minha caminhada. A maioria dos críticos ácidos estão bem distantes da sua. Fica a dica.

Pra finalizar, agradeço por lerem meu desabafo. E a todos, independente da religião, desejo paz e luz na caminhada.

Erica Camarotto


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