Um tema complexo, diria até melindroso de ser abordado, devido a certos pormenores que envolvem a questão. Um período que pode ser muito difícil para alguns médiuns, principalmente quando ele ficou muito tempo em uma determinada casa, a qual por ventura fechou ou o dirigente veio a falecer. Na realidade esse período complexo de adaptação acaba se tornando difícil justamente pela não aceitação, comparação que muitas vezes o médium começa a fazer do terreiro antigo com a nova casa religiosa, o novo terreiro que ele esteja ingressando.
Período em que o médium está ÓRFÃO e precisa de um NOVO LAR ESPIRITUAL.
Nunca é tarde para recomeçar.
Primeiramente um dirigente não é e nunca será igual a outro, mesmo um dirigente que teve uma determinada raiz religiosa quando o mesmo abre seu próprio terreiro, seus guias chefes trazem com eles suas próprias doutrinas e diretrizes. Então comparações não devem ser feitas até mesmo por respeito a memória do dirigente antigo quanto ao novo dirigente. Além do mais as pessoas são únicas, pena que não são eternas.
Um dirigente sério e idôneo deve coibir e evitar dar espaço a certas comparações e comentários quando surgirem com teor pejorativos de outros dirigentes que não conheceu, na medida do possível, é preciso ter ética.
Já em alguns textos eu venho batendo na tecla, que todo médium antes de ingressar numa nova casa deve observar bem sua rotina, sua doutrina, o andamento da casa de uma forma geral, justamente um dos motivos é esse o de adaptar-se a nova casa da melhor forma possível.
Já ouvi de alguns dirigentes a seguinte frase: Prefiro 50 médiuns novos do que 01 médium velho, justamente por causa desse período complexo de adaptação que nem sempre é tranquilo e agradável. Inclusive já vi casas, que não aceitam médiuns velhos de outras casas, justamente para não terem que passar por certos aborrecimentos, eu particularmente acho errado, mas respeito, porque acredito que uma casa religiosa de Umbanda deve ser vista como um grande ventre materno que a todos agrega. Mas admito que não é fácil, o agregar com seriedade e doutrina não é tarefa fácil é diferente de simplesmente apenas jogar para dentro do terreiro como sendo mais um e nada mais, agregar é diferente disso. Mas por um outro lado, com essa discriminação, acabam perdendo médiuns bons, experientes que poderiam enriquecer muito sua casa e egrégora.
O dirigente e a direção da casa por sua vez, devem ser muito claros e transparentes ao passar a diretriz e doutrina da casa, todos os pormenores, direitos e deveres que aquele médium deverá cumprir no terreiro. O médium só poderá ingressar na casa, depois de aceitar as normas e doutrinas da mesma, para que por ventura amanhã o dirigente não seja questionado sobre isso, tipo… você não me passou isso.
As vezes o médium vem de outra casa cheio de maus costumes, manias, irredutível, ele quer agir e fazer valer sua vontade, daquele jeito na nova casa, até muitas vezes se confrontando com a rotina da mesma, e isso está errado, o médium que está entrando no terreiro, o mesmo tem que se adaptar a casa e não a casa a ele, a casa já tem sua hierarquia, suas normas e diretrizes doutrinárias e não vai se moldar somente para adequar-se aquele médium que está ingressando.
Muitas vezes o médium é orgulhoso, turrão, até vaidoso e pode estar vindo de uma casa por exemplo que o dirigente não tinha tanto conhecimento e dedicação assim, não havia estudos, disciplina nessa casa, não haviam doutrinas e preparos condizentes e esse médium muitas vezes irredutível não se abre a aprender, ou pelo menos não se questiona, se realmente aprendeu tudo ou melhor será que o que aprendeu estava realmente correto? Muitas vezes o novo dirigente começa a perceber certas falhas e vícios e tenta corrigi-los da melhor forma, tem médiuns que se abrem com facilidade a novas aprendizagens e conhecimentos outros se melindram, se frustram e até saem da casa posteriormente porque simplesmente não querem mudar, ou mesmo por orgulho quando confrontados, e quando isso acontece não se tem muito o que fazer, é só abençoar e desapegar. Fora também que cada casa, cada terreiro de Umbanda tem sua diretriz. O dirigente nessa situação é melhor um Orixá te abençoe que um diabo te carregue, bobagem ficar se desgastando com esses tipos de comportamento. A vida é a melhor escola e os guias os melhores professores.
Mas entra nessa questão a conveniência, há certos maus costumes e atitudes bem condizentes principalmente em relação a médiuns não idôneos, com moral e caráter duvidoso.
Vamos citar um exemplo simples: tem casas que para um médium começar a benzer, a ser um médium ativo de trabalho assistencial, ele passa por etapas e confirmações, outras o médium basta incorporar que em pouco tempo já está no atendimento, eu particularmente acho errado, mas acontece, o atendimento espiritual diga-se de passagem é algo sério, e mesmo tendo todos os cuidados cabíveis poderão ocorrer falhas, imaginem colocar um médium despreparado no atendimento. Baseado neste exemplo, vamos supor que esse médium saia dessa casa, e quando inicie em outra, o dirigente atual baseado em seus conhecimentos e na Umbanda que o mesmo pratique, começa a perceber que há falhas de incorporação ainda com esse médium que ele precisa de um maior aprimoramento, de uma lapidada, e tome a decisão de não permitir de momento, que esse médium seja um médium de trabalho em sua casa, um médium passista, muitos médiuns diante de tal situação vão se queixar e dizer mas eu já sou passista, só que ele está em uma outra casa, uma outra diretriz e doutrina e ele não será diferente dos demais que ali estão, terá que passar pelas etapas da casa em si. Na realidade um bom médium não tem dificuldade nenhum de conquistar seu espaço. Alguns médiuns é claro, vão encurtar esse tempo devido é claro já estarem firmes e virem com uma bagagem boa, mas terão igualmente de seguir as regras e doutrinas da casa, e quem irá determinar esse tempo é os guias chefes da casa. O detalhe nessa questão é confiança na diretriz tanto física quanto espiritual, não tem meio termo.
Já vi terreiros que o dirigente não teve esses cuidados, acreditou na palavra do médium que se dizia experiente, e deu asas para o passarinho voar, vamos dizer assim, e teve sérios problemas, o médium vacilou, receitou coisas erradas, que trouxe sérias consequências para o consulente e para imagem da casa como um todo. Porque é muito fácil um médium chegar numa casa nova e dizer sou experiente, trabalhei anos em determinados lugares, mentir literalmente. Dirigente muito cuidado nessa hora.
Muitos estarão se questionando, mas e os guias do pai e mãe no santo? pois é, nessas horas que os guias chefes se colocam a frente, é deles que parte certas outorgas, mas vejam juntamente com a diretriz dos dirigentes da casa. Médiuns não mintam porque diante de um guia chefe verdadeiro não há mentiras que não sejam com o tempo reveladas.
É muito complicado tirar certos costumes e vícios de médiuns de outras casas, alguns podem ser adaptados, outros infelizmente se o dirigente permitir entra em choque com toda a diretriz e rotina do terreiro, e lá começa os burburinhos e conversas de bastidores.
Certa vez, vi uma médium nova em um terreiro, numa gira de exú, ela havia preparado uma farofa e levou para o terreiro, no transcorrer dos trabalhos os cambonos não perceberam e apenas entregaram a farofa para o exú da moça, o qual começou a apreciar o prato, para surpresa de todos por debaixo da farinha tinha carne crua, puro sangue, quando o exú da mãe de santo percebeu, ela estava lavada de sangue da carne em todo o rosto, detalhe naquela casa não era permitido levar carne crua para exú e pombogira, imaginem o pampeiro que deu. Então observem que são coisas que acontecem (mas que não deveriam) que podem trazer desconforto tanto para aquele médium novo, quanto para os já existentes na casa. São situações inusitadas que infelizmente podem acontecer fugindo completamente do previsto. Observem que nem sempre algo que era costumeiro em uma casa será permitida na outra, muito pelo contrário muitas vezes algo que era permitido em uma outra casa pode entrar em choque completamente com a doutrina de outra.
O médium que está ingressando na nova casa, deve passar por etapas de adaptação e deve estar receptivo a aceitação, a troca de conhecimentos, caso contrário fatalmente ele não irá ter vida longa nessa casa. Porque vejam bem o dirigente ele tem que priorizar o todo, a egrégora e o equilíbrio de sua casa, e o médium por sua vez tem o livre arbítrio de escolha.
O médium, quando entra num terreiro novo, se sente meio que perdido, a forma de rito e trabalho podem ser bem diferentes do lugar de onde veio, e esse médium deve ser recepcionado com atenção, carinho, aceito no meio da melhor forma, com paciência. Essa recepção e companheirismo dos demais não podem faltar nunca. Fora que muitos médiuns buscam exatamente a mudança, porque nem todos tem a felicidade de entrar em uma boa casa logo no começo de sua trajetória mediúnica.
O que acontece muitas vezes é que alguns médiuns chega… chegando, se é que me entendem, cheios da razão, já vem dizendo meus guias trabalham desse jeito e pronto, bem coisa de médium mesmo e não de guia, porque quando um médium entra numa casa nova, seus guias já se adequam e se sintonizam na energia da casa, e eles respeitam a doutrina da mesma e sua diretriz espiritual, caso contrário não teriam escolhido a mesma para seu pupilo, a não ser que aquele terreiro em si esteja sendo uma lição. Imaturidade, orgulho e vaidade, três veneninhos bem danosos para qualquer médium.
Uma vez uma médium abriu o seguinte questionamento, ela disse que ela era de “Quimbanda” e que havia optado a seguir a “Umbanda” e que algumas de suas antigas entidades já não estavam incorporando mais, e que outras entidades estavam vindo, vejam bem alguns espíritos vibram e se sintonizam numa faixa vibratória de acordo com seus campos energéticos, um guia que não se sintonize numa determinada frequência pode não se adequar a mesma, e pode se afastar, cedendo lugar para um outro guia que melhor se adeque. Certa vez, num debate foi questionado a seguinte questão, os espíritos de exus e pombogiras que se manifestam numa “Quimbanda” onde há o rito da imolação por exemplo (apenas como referencial) são os mesmos que se manifestam num terreiro de “Umbanda”? em sua grande maioria não, justamente pela forma de atuação e sintonia vibratória energética, que diferencia a forma de atuação e trabalho. Talvez seja por essas questões que vemos diferenças gritantes de atuação de determinadas entidades e guias, levando em questão também é claro o fato de uma falange englobar diversos espíritos com escalas evolutivas bem diversas umas das outras. Como também já vimos entidades que começaram a se manifestar completamente diferentes do que antes acontecia numa determinada casa, o que pode acontecer nessa questão e que acontece diga-se de passagem é outro falangeiro da mesma falange vir, um outro espírito, e muitas vezes passa desapercebido ao ponto desse médium não notar, são fatos que nem são comentados e falados pelas entidades justamente para não causar duvidas e desconfortos desnecessários na rotina de seus médiuns. Não podemos esquecer também que os espíritos usam roupagens espirituais de acordo com a missão que estejam desempenhando.
Todas essas questões acabam que entrando em choque para um médium que está ingressando numa casa nova, porque ele muitas vezes não consegue se adequar, mas existe um outro detalhe importante, um terreiro é a casa dos espíritos, o ponto de vista do médium conta na escolha, claro que sim, mas de praxe quem escolhe a casa são os guias desse médium, é por essas e outras que muitos médiuns não param em lugar algum, de um lado os médium não adequam por pura arrogância e por outro é porque não foram seus guias que escolheram essa casa, quando é os guias que escolhem a casa aumenta-se gradativamente as chances de sucesso desse médium na nova casa. Só alertando que muitos médiuns são colocados em determinadas casas não muito corretas, por ensinamento e aprendizagem de seus próprios guias, então observem que tem casos que a lição nem sempre será algo fácil de ser aprendida, por isso vigiem-se e não sejam teimosos. *Observem os sinais.
Hoje em dia alguns médiuns só querem “espiritar”, parecem corrimão, vivem passando de mão em mão, não param em lugar algum, não criam raízes, esses médiuns chegam num estágio que nenhum dirigente mais os aceita de tanto que não param em lugar algum infelizmente. O médium tem que se vigiar para que não caia nessa armadilha e se torne um marionete de entidades mistificadoras e zombadoras os colocando em situações vexatórias e deprimentes de ver.
Neste texto não posso deixar de mencionar, OS BONS MÉDIUNS, que as vezes nossos Orixás nos presenteiam, médiuns esses que são verdadeiras bençãos para qualquer terreiro e egrégora de Umbanda, médiuns que tiveram uma boa estrutura, doutrina, de excelente índole e caráter, que enriquecem onde pisam. Verdadeiras árvores frutíferas e fortes que foram boas sementes. Uma das características primordiais desses médiuns é sua receptividade, seu carisma, sua empatia com o novo que lhe apresenta, se adaptam com muita facilidade, bons soldados lutam em qualquer exército.
Alguns toques:
Não tenham pressa de ingressar num terreiro.
Prestem muita atenção na rotina e doutrina da casa, e quando for lhes passado essas doutrinas leiam com bastante atenção.
Quando entrarem numa casa, entrem de coração e mente aberta, para absorver coisas novas. Cuidado com comparações, arrogância, vaidades e melindres desnecessários.
Sejam humildes, conhecimento é uma troca, transmita o seu de forma adequada.
Sejam pacientes consigo mesmo e com os outros.
A palavra é aceitação, estar de coração aberto, seja um bom soldado e se apresente as ordens conforme o mandato, sempre.
Enfim pessoal, espero que esses toques ajudem com que alguns médiuns que estejam passando por essa etapa, a passarem com mais tranquilidade. Meus sinceros respeitos a todos.
Axé.
Cristina Alves