Blog Tulca
Jurema das Matas é assim. Com inigualável simplicidade e franqueza, desvenda quatro de suas encarnações, na tentativa de mostrar como o ser humano se ilude com falsos valores de conquista e poder. Da trajetória sangrenta e sofrida, surge uma criatura dócil e infinitamente sábia, disposta a compensar seus desequilíbrios com o auxílio desinteressado aos irmãos de caminhada que formam a família humana.
É uma lição para todos nós, acostumados a eleger favoritos em função da vestimenta sutil com que se apresentam no mundo da matéria. A escolha do espírito que anima esta história foi a da humildade para, através do exemplo, reafirmar em nós a crença de que somos e seremos sempre iguais.”
Leia um trecho do livro:
“Sem nada dizer, Soriano saiu atrás de Alejandro, seguido por mais alguns marujos. Caminharam o mais silenciosamente possível, atentos a qualquer movimento na selva. Finalmente, encontraram um poço de água potável e puseram-se a encher as vasilhas, em estado de alerta constante, como se esperassem que, de uma hora para outra, uma horda de índios se atirasse sobre eles.
– Estamos muito próximos do povoado deles – comentou Soriano, indicando com o queixo as enormes construções.
– Não se preocupe – tranquilizou Alejandro. – Eles não sabem que estamos aqui e, além do mais, temos as nossas armas.
– Eu não teria tanta certeza.
Havia tremor na voz de Soriano, e Alejandro acompanhou o seu olhar assustado. Parados alguns metros adiante, alguns indígenas os fitavam imóveis. Instintivamente, Alejandro apertou o cabo de seu mosquete. Como da outra vez, os nativos se aproximaram, risonhos e amistosos, puxando os espanhóis pelas mangas das túnicas, rodeando-os como se farejassem a presa antes de devorá-la. Apesar da linguagem incompreensível, os dedos, apontando na direção da cidade, deixavam claro o desejo de que os seguissem até lá. Alejandro, desconfiado, olhou para Francisco, mas este já se havia posto em marcha ao lado dos índios, com o restante dos homens atrás deles.
– O que ele está fazendo? – sussurrou Soriano, apavorado. – Já não basta o que nos aconteceu da outra vez?
– Fique quieto! – censurou Alejandro. – Francisco sabe o que faz.
A cena parecia se repetir. Os espanhóis caminharam pela floresta com os índios ao redor, gesticulando e rindo guturalmente. Ao adentrarem o povoado, os sólidos e já conhecidos edifícios se descortinaram, seguidos de mais e mais ídolos diabólicos.
– Isso me dá calafrios – observou Soriano, acercando-se mais de Alejandro.
– Você ainda não viu nada – retrucou o outro, estacando com ar aterrado.
Surgiu à sua frente uma figura singular. Vestido numa espécie de túnica branca, um homem de cabelos negros e respingando sangue segurava nas mãos um facão igualmente ensanguentado. Atrás dele, sobre um altar de pedra parcialmente visível, jazia inerte, numa poça de sangue, um corpo retalhado e sangrento.
– Jesus Cristo! – exclamaram muitos.
– Mas o que é isso? – horrorizou-se Soriano.
– Parece que o nosso amigo acabou de praticar um sacrifício humano – constatou Alejandro, lutando entre o terror e o pânico.
– Ele está todo ensanguentado!
Todos olhavam para Francisco, esperando que ele tomasse alguma atitude, mas o capitão parecia tentar entender-se com o macabro sacerdote.
– Acho que não está adiantando – constatou Alejandro.
O sacerdote falava estranhas palavras e gesticulava para os muitos guerreiros que acompanhavam o encontro. Mais que depressa, os índios se juntaram, apontando as lanças e fitando o grupo com olhar hostil e ameaçador. Alguém acendeu uma fogueira, e o sacerdote deu prosseguimento ao seu bailado gutural, apontando ora para fogo, ora para os espanhóis, ora para os guerreiros, que emitiram um grito de guerra assombroso.
– O que é isso agora? – horrorizou-se Soriano.
– Acho que ele quer dizer que, se não partirmos até o fogo se extinguir, vai lançar seus guerreiros sobre nós.
– E o que Francisco está fazendo? – desesperou-se. – Por que não vamos logo embora?
– Será que ele enlouqueceu e vai combater esses demônios?
Dessa vez, até Alejandro estava com medo. Enfrentar aqueles guerreiros seria quase suicídio. Os homens começaram a se apavorar, ameaçando dar meia-volta e fugir, mas Francisco permanecia parado, na esperança de fazer-se entender.
– Vamos embora, capitão – falou um dos homens mais próximos. – Por Deus, não podemos mais continuar aqui. Se tem amor a nossas vidas, vamos voltar aos navios!
Ainda defronte ao sacerdote, Francisco ensaiou mais alguns gestos, tentando um entendimento, mas o olhar feroz do outro o convenceu a partir.
– Vamos recuar – ordenou ele, com a voz mais calma que conseguiu entoar.
Sem se virar, os homens foram recuando e, passo a passo, tomaram o caminho de volta. Só quando já se encontravam fora das vistas dos guerreiros foi que se viraram de frente e puseram-se a andar, quase a correr.”
Levar o conhecimento a respeito da Umbanda é um dos objetivos desse livro, mas não o único nem o principal. Jurema, esse espírito iluminado e incansável na propagação do bem, nos mostra como devemos lidar com as nossas encarnações, com o intuito de nos valorizarmos e trazer para nossas vidas momentos de maior felicidade.
O espírito de Jurema, e a falange que ela representa, retira sua força da natureza, das florestas e rios que existem por toda parte no nosso planeta. Tudo é energia, todas as coisas vibram numa intensidade própria, captando e dispersando fluidos na nossa atmosfera. Toda vez que entrarmos em lugares onde a mata impera, ali estará a essência de Jurema e dela poderemos absorver o melhor para nossas vidas. Em qualquer lugar, no Brasil ou não, essa energia está disponível para quem quiser acessá-la. Basta ligar-se a ela através do pensamento, para sentir o bem-estar e a paz de sua iluminação. Jurema é a própria mata em toda sua quietude e vida, guiada pela energia da natureza que ali tem o seu domínio.
A finalidade do livro, além de desmistificar alguns preconceitos que giram em torno da umbanda, tem um objetivo mais profundo, que toca a alma de cada leitor. Umbanda, catolicismo, kardecismo, candomblé… Somos todos um só, e a religião que busca despertar Deus no coração de seus seguidores está agindo conforme Seus princípios. Mas a verdadeira e única religião há de ser a do amor, porque, sem ele, não há esperança para a humanidade nem meio de se alcançar a elevação. Somente chegará ao Alto o ser que já compreendeu isso e que usa de sua existência para cultivar e cativar amor. Esse patamar, alcançaremos através das oportunidades que a reencarnação nos oferece.
E é justamente isso que o livro aborda: o poder regenerador da reencarnação. A reencarnação é a maior chance de renovação que possuímos. A cada final de existência, Deus nos acena com a esperança de refazer nossas atitudes, através de nova existência no planeta. É através da reencarnação que experienciamos a vida, usufruímos das nossas conquistas e tentamos, incansavelmente, modificar o que ainda não se encontra adequado a um mundo de amor. É através dela que sentimos que nada está perdido e que sempre teremos uma nova chance, seja nesse planeta ou em outro. O que precisamos, agora, é aproveitar a última chance que o universo nos concedeu para assegurar o nosso direito de permanecer aqui, neste mundo tão lindo.
Foi por gratidão às inúmeras oportunidades de reencarnar que o espírito de Jurema permitiu ao Leonel que nos trouxesse a sua história, para que servisse de exemplo a todos nós. O exemplo que fica não é o do sofrimento, mas o da persistência, da fé, da humildade, do amor. Jurema não se limitou simplesmente a viver, mas viveu com intensidade cada momento que lhe foi concedido para sua melhora. O que ela pretende nos mostrar com tudo isso? Que devemos sempre buscar no passado a razão para os nossos sofrimentos? Que sofremos porque fizemos algo de ruim no passado? Que passado e sofrimento estão intimamente ligados? Não exatamente.
Não precisamos mais nos prender ao passado para desvendar o presente nem assegurar um futuro melhor. Precisamos, sim, compreender que estamos num processo constante de aprimoramento e, com isso, somos convidados a oferecer o nosso melhor. No atual estágio do espiritismo e do espiritualismo, não há quem não saiba que toda causa gera uma consequência e que estamos todos, inexoravelmente, sujeitos à lei de causa e efeito. Sabemos também que, se passamos por determinada dificuldade no presente é porque, lá atrás, existe uma sucessão de incidentes que nos fez reavaliar nossas ações e tentar imprimir a esta vida um novo rumo. Estamos todos cientes de que o sofrimento de hoje foi originado pelo nosso desequilíbrio de ontem.
Em razão disso, não temos mais a necessidade de tentar descobrir o que fizemos em outra vida, se fomos ruins, levianos, assassinos, traidores… não importa. O que fizemos está feito, não tem como desfazer na nossa dimensão atual. O tempo que ficou para trás somente poderá ser alterado em outro universo, ao qual a nossa essência de agora não tem acesso. Portanto, deixemos o passado onde está e concentremo-nos no presente, com vistas ao nosso futuro. Ao invés de nos preocuparmos com coisas ruins do passado, devemos dar mais importância a tudo o que aprendemos a fazer de bom. Ao mesmo tempo em que cometemos muitos desvarios, conquistamos valores importantes também, e é neles que devemos nos mirar quando buscarmos justificativas para nossa vida atual.
Lembremos que o novo acontece a todo instante, e se nos desapegarmos do que é velho, abriremos espaço na nossa vida para coisas novas que realmente valem a pena. Vamos nos acostumar a pensar positivamente, a imaginar as encarnações passadas como etapas vencidas, superadas, que serviram para construir as coisas boas que conquistamos hoje. É isso que a Jurema tentou nos mostrar, para que nos acostumemos a cultivar os bons momentos, a dar importância aos fatores positivos, a nos espelharmos nos nossos próprios valores. É com eles que ingressaremos no novo mundo que nos aguarda, em uma Terra renovada, onde a paz e o respeito serão recorrentes na vida de todos nós e onde não haverá mais espaço para o mal e suas consequências.
O que é velho merece o nosso respeito porque foi o que nos ajudou a ser o que somos hoje. Mas o novo é sempre belo, traz esperança, leveza e alegria. Provoca sempre um sorriso ou uma lágrima de admiração e gratidão pelo milagre de viver. Ou será que alguém duvida disso?
Mônica de Castro
Livro Jurema das Matas / Leonel - Mônica de Castro
"A visão estreita do mundo ainda faz com que os olhos do homem
permaneçam fechados, mesmo quando a luz da verdade desponta
diante dele, quase a ofuscar-lhe a mente nebulosa.
Pouco se sabe a respeito das entidades que se dispõem a trabalhar nos círculos espirituais da Umbanda. Muitas histórias são ouvidas, algumas envoltas em mistérios e superstição. O preconceito e a ignorância ainda pairam sobre esses seres, em sua maioria abnegados instrutores dotados de inteligência extrema e imensurável amor pela humanidade.
Jurema das Matas é assim. Com inigualável simplicidade e franqueza, desvenda quatro de suas encarnações, na tentativa de mostrar como o ser humano se ilude com falsos valores de conquista e poder. Da trajetória sangrenta e sofrida, surge uma criatura dócil e infinitamente sábia, disposta a compensar seus desequilíbrios com o auxílio desinteressado aos irmãos de caminhada que formam a família humana.
É uma lição para todos nós, acostumados a eleger favoritos em função da vestimenta sutil com que se apresentam no mundo da matéria. A escolha do espírito que anima esta história foi a da humildade para, através do exemplo, reafirmar em nós a crença de que somos e seremos sempre iguais.”
Leia um trecho do livro:
“Sem nada dizer, Soriano saiu atrás de Alejandro, seguido por mais alguns marujos. Caminharam o mais silenciosamente possível, atentos a qualquer movimento na selva. Finalmente, encontraram um poço de água potável e puseram-se a encher as vasilhas, em estado de alerta constante, como se esperassem que, de uma hora para outra, uma horda de índios se atirasse sobre eles.
– Estamos muito próximos do povoado deles – comentou Soriano, indicando com o queixo as enormes construções.
– Não se preocupe – tranquilizou Alejandro. – Eles não sabem que estamos aqui e, além do mais, temos as nossas armas.
– Eu não teria tanta certeza.
Havia tremor na voz de Soriano, e Alejandro acompanhou o seu olhar assustado. Parados alguns metros adiante, alguns indígenas os fitavam imóveis. Instintivamente, Alejandro apertou o cabo de seu mosquete. Como da outra vez, os nativos se aproximaram, risonhos e amistosos, puxando os espanhóis pelas mangas das túnicas, rodeando-os como se farejassem a presa antes de devorá-la. Apesar da linguagem incompreensível, os dedos, apontando na direção da cidade, deixavam claro o desejo de que os seguissem até lá. Alejandro, desconfiado, olhou para Francisco, mas este já se havia posto em marcha ao lado dos índios, com o restante dos homens atrás deles.
– O que ele está fazendo? – sussurrou Soriano, apavorado. – Já não basta o que nos aconteceu da outra vez?
– Fique quieto! – censurou Alejandro. – Francisco sabe o que faz.
A cena parecia se repetir. Os espanhóis caminharam pela floresta com os índios ao redor, gesticulando e rindo guturalmente. Ao adentrarem o povoado, os sólidos e já conhecidos edifícios se descortinaram, seguidos de mais e mais ídolos diabólicos.
– Isso me dá calafrios – observou Soriano, acercando-se mais de Alejandro.
– Você ainda não viu nada – retrucou o outro, estacando com ar aterrado.
Surgiu à sua frente uma figura singular. Vestido numa espécie de túnica branca, um homem de cabelos negros e respingando sangue segurava nas mãos um facão igualmente ensanguentado. Atrás dele, sobre um altar de pedra parcialmente visível, jazia inerte, numa poça de sangue, um corpo retalhado e sangrento.
– Jesus Cristo! – exclamaram muitos.
– Mas o que é isso? – horrorizou-se Soriano.
– Parece que o nosso amigo acabou de praticar um sacrifício humano – constatou Alejandro, lutando entre o terror e o pânico.
– Ele está todo ensanguentado!
Todos olhavam para Francisco, esperando que ele tomasse alguma atitude, mas o capitão parecia tentar entender-se com o macabro sacerdote.
– Acho que não está adiantando – constatou Alejandro.
O sacerdote falava estranhas palavras e gesticulava para os muitos guerreiros que acompanhavam o encontro. Mais que depressa, os índios se juntaram, apontando as lanças e fitando o grupo com olhar hostil e ameaçador. Alguém acendeu uma fogueira, e o sacerdote deu prosseguimento ao seu bailado gutural, apontando ora para fogo, ora para os espanhóis, ora para os guerreiros, que emitiram um grito de guerra assombroso.
– O que é isso agora? – horrorizou-se Soriano.
– Acho que ele quer dizer que, se não partirmos até o fogo se extinguir, vai lançar seus guerreiros sobre nós.
– E o que Francisco está fazendo? – desesperou-se. – Por que não vamos logo embora?
– Será que ele enlouqueceu e vai combater esses demônios?
Dessa vez, até Alejandro estava com medo. Enfrentar aqueles guerreiros seria quase suicídio. Os homens começaram a se apavorar, ameaçando dar meia-volta e fugir, mas Francisco permanecia parado, na esperança de fazer-se entender.
– Vamos embora, capitão – falou um dos homens mais próximos. – Por Deus, não podemos mais continuar aqui. Se tem amor a nossas vidas, vamos voltar aos navios!
Ainda defronte ao sacerdote, Francisco ensaiou mais alguns gestos, tentando um entendimento, mas o olhar feroz do outro o convenceu a partir.
– Vamos recuar – ordenou ele, com a voz mais calma que conseguiu entoar.
Sem se virar, os homens foram recuando e, passo a passo, tomaram o caminho de volta. Só quando já se encontravam fora das vistas dos guerreiros foi que se viraram de frente e puseram-se a andar, quase a correr.”
SOBRE O LIVRO JUREMA DAS MATAS
Levar o conhecimento a respeito da Umbanda é um dos objetivos desse livro, mas não o único nem o principal. Jurema, esse espírito iluminado e incansável na propagação do bem, nos mostra como devemos lidar com as nossas encarnações, com o intuito de nos valorizarmos e trazer para nossas vidas momentos de maior felicidade.
O espírito de Jurema, e a falange que ela representa, retira sua força da natureza, das florestas e rios que existem por toda parte no nosso planeta. Tudo é energia, todas as coisas vibram numa intensidade própria, captando e dispersando fluidos na nossa atmosfera. Toda vez que entrarmos em lugares onde a mata impera, ali estará a essência de Jurema e dela poderemos absorver o melhor para nossas vidas. Em qualquer lugar, no Brasil ou não, essa energia está disponível para quem quiser acessá-la. Basta ligar-se a ela através do pensamento, para sentir o bem-estar e a paz de sua iluminação. Jurema é a própria mata em toda sua quietude e vida, guiada pela energia da natureza que ali tem o seu domínio.
A finalidade do livro, além de desmistificar alguns preconceitos que giram em torno da umbanda, tem um objetivo mais profundo, que toca a alma de cada leitor. Umbanda, catolicismo, kardecismo, candomblé… Somos todos um só, e a religião que busca despertar Deus no coração de seus seguidores está agindo conforme Seus princípios. Mas a verdadeira e única religião há de ser a do amor, porque, sem ele, não há esperança para a humanidade nem meio de se alcançar a elevação. Somente chegará ao Alto o ser que já compreendeu isso e que usa de sua existência para cultivar e cativar amor. Esse patamar, alcançaremos através das oportunidades que a reencarnação nos oferece.
E é justamente isso que o livro aborda: o poder regenerador da reencarnação. A reencarnação é a maior chance de renovação que possuímos. A cada final de existência, Deus nos acena com a esperança de refazer nossas atitudes, através de nova existência no planeta. É através da reencarnação que experienciamos a vida, usufruímos das nossas conquistas e tentamos, incansavelmente, modificar o que ainda não se encontra adequado a um mundo de amor. É através dela que sentimos que nada está perdido e que sempre teremos uma nova chance, seja nesse planeta ou em outro. O que precisamos, agora, é aproveitar a última chance que o universo nos concedeu para assegurar o nosso direito de permanecer aqui, neste mundo tão lindo.
Foi por gratidão às inúmeras oportunidades de reencarnar que o espírito de Jurema permitiu ao Leonel que nos trouxesse a sua história, para que servisse de exemplo a todos nós. O exemplo que fica não é o do sofrimento, mas o da persistência, da fé, da humildade, do amor. Jurema não se limitou simplesmente a viver, mas viveu com intensidade cada momento que lhe foi concedido para sua melhora. O que ela pretende nos mostrar com tudo isso? Que devemos sempre buscar no passado a razão para os nossos sofrimentos? Que sofremos porque fizemos algo de ruim no passado? Que passado e sofrimento estão intimamente ligados? Não exatamente.
Não precisamos mais nos prender ao passado para desvendar o presente nem assegurar um futuro melhor. Precisamos, sim, compreender que estamos num processo constante de aprimoramento e, com isso, somos convidados a oferecer o nosso melhor. No atual estágio do espiritismo e do espiritualismo, não há quem não saiba que toda causa gera uma consequência e que estamos todos, inexoravelmente, sujeitos à lei de causa e efeito. Sabemos também que, se passamos por determinada dificuldade no presente é porque, lá atrás, existe uma sucessão de incidentes que nos fez reavaliar nossas ações e tentar imprimir a esta vida um novo rumo. Estamos todos cientes de que o sofrimento de hoje foi originado pelo nosso desequilíbrio de ontem.
Em razão disso, não temos mais a necessidade de tentar descobrir o que fizemos em outra vida, se fomos ruins, levianos, assassinos, traidores… não importa. O que fizemos está feito, não tem como desfazer na nossa dimensão atual. O tempo que ficou para trás somente poderá ser alterado em outro universo, ao qual a nossa essência de agora não tem acesso. Portanto, deixemos o passado onde está e concentremo-nos no presente, com vistas ao nosso futuro. Ao invés de nos preocuparmos com coisas ruins do passado, devemos dar mais importância a tudo o que aprendemos a fazer de bom. Ao mesmo tempo em que cometemos muitos desvarios, conquistamos valores importantes também, e é neles que devemos nos mirar quando buscarmos justificativas para nossa vida atual.
Lembremos que o novo acontece a todo instante, e se nos desapegarmos do que é velho, abriremos espaço na nossa vida para coisas novas que realmente valem a pena. Vamos nos acostumar a pensar positivamente, a imaginar as encarnações passadas como etapas vencidas, superadas, que serviram para construir as coisas boas que conquistamos hoje. É isso que a Jurema tentou nos mostrar, para que nos acostumemos a cultivar os bons momentos, a dar importância aos fatores positivos, a nos espelharmos nos nossos próprios valores. É com eles que ingressaremos no novo mundo que nos aguarda, em uma Terra renovada, onde a paz e o respeito serão recorrentes na vida de todos nós e onde não haverá mais espaço para o mal e suas consequências.
O que é velho merece o nosso respeito porque foi o que nos ajudou a ser o que somos hoje. Mas o novo é sempre belo, traz esperança, leveza e alegria. Provoca sempre um sorriso ou uma lágrima de admiração e gratidão pelo milagre de viver. Ou será que alguém duvida disso?
Mônica de Castro
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