Os dirigentes espirituais não eram vaidosos, os médiuns não eram vaidosos. Existia respeito de ambas as partes. Tudo era sagrado e muito respeitado. O terreiro era simples, firme e humilde.
Ao passar pela simples casa de Exu feita de tijolos e telha, você se arrepiava. As firmezas eram vela e copo de água. Nada de ferros e bugigangas.
Aquele teto com telhas cheio de bandeirinhas. O defumador era de lata de leite em pó e tinha um cheirinho ótimo pois o defumador era feito com ervas pelo dirigente.
Aquele terreiro que cantava ponto de raiz, que acreditava na magia das ervas, nas força da natureza. Aquele terreiro pé no chão. Aquele terreiro aonde a roupa dos médiuns era branca e simples feito algodão.
Saudades das rezas de Preto Velho com galho de arruda ou aroeira. Da vidência no copo da água. Da reza de quebranto, vento virado, espinhela caída.
Saudades daqueles quadros de preto velho, Iemanjá e Jurema já desbotados na parede.
Saudades do brado do caboclo que arrepiava até o cabelo do dedo mindinho. Saudades de quando o Exu pedia pra você acender um charuto e você tremia. Saudades de quando você via uma Pombogira e ficava com os olhos brilhando pelo mistério de sua gargalhada.
Saudades de quando o preto velho pedia para você acender uma vela com fé, que tudo iria se resolver. E se resolvia.
Saudades de quando uma ibejada chegava de surpresa e fazia todos sorrirem com suas peripécias. Saudades, saudades de uma Umbanda limpa, correta e muito verdadeira e firme.
Saudades dessa simples Umbanda, aonde tinha respeito, verdade, humildade, segurança, disciplina, caridade e união. Não havia disputas entre terreiros, fofocas, maldades, luxo, ganância, teoria da prosperidade.
Essa é a Umbanda que tenho saudades.
Agora quase não se vê mais isso.
Mas é por esta Umbanda que eu luto e faço de tudo para que não caia no esquecimento do tempo.
Diego de Oxóssi
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