O PESO DA MISSÃO DOS PAIS E MÃES DE SANTO
Poucos realmente veem tudo o que o Pai ou a Mãe de Santo faz dentro do terreiro. São cobrados de todos, ninguém nunca está satisfeito e sempre há uma pessoa para reclamar. Porém, quando é necessário agir, muitos somem.
É imensa a responsabilidade do Pai ou Mãe de Santo. Nas mãos deles, está a manutenção do terreiro e a sobrevivência de nossa religião. O fardo é pesado, mas por amor o exercem. E cabe a todos nós apoiá-los da melhor forma possível.
Eles precisam lidar tanto com espiritual, quanto o administrativo e humano do terreiro. São os responsáveis por preparar e ativar as firmezas e assentamentos do terreiro, abrir e fechar giras, acompanhar o desenvolvimento mediúnico de cada um, fiscalizar o atendimento de todo médium. Se surge algum problema, no final, é ele que vai resolvê-lo.
Além disso, sobra para eles administrarem toda a parte material do terreiro. É preciso adquirir velas, copos, materiais para as firmezas, produtos de higiene, fora os custos com água, luz, aluguel. No dia de gira, o espaço precisa estar limpo e organizado e mais uma vez sobra para o Pai ou Mãe de Santo coordenar quem realizará estas tarefas.
Tudo possui o seu custo, e nem sempre é suficiente as doações da consulência e mensalidade dos médiuns recebidas. Se algum filho está sem condições de contribuir financeiramente com a casa, o Pai e Mãe de Santo ainda o escuta e procura ajudá-lo. Quantas vezes o dirigente tirou do próprio bolso para pagar uma despesa ou auxiliar alguém do terreiro? Muitos nem ficam sabendo.
Porém, a parte mais difícil da missão dos sacerdotes é lidar com os próprios médiuns da casa. Se os filhos percebessem o quanto são, em algumas situações, imaturos e infantis, criando desarmonias por assuntos pequenos, levando ao Pai e Mãe de Santo intrigas e melindres desnecessários. Seus ouvidos já receberam todo tipo de informação, os quais algumas ele preferia nem ter conhecimento.
Com frequência, ele precisa agir como um administrador de egos frágeis. Se dá atenção para um, outro fica enciumado. Se repreende os erros, consideram-nos muito duro. Se ensina com palavras suaves, acusam-no de ser muito tolerante. Sempre há um para lhe apontar o dedo e dizer, nas fofocas de corredores, como ele deveria proceder.
O que os umbandistas ainda não entenderam é que o Pai e Mãe de Santo são humanos como todos nós. Possuem suas qualidades e defeitos. Não são perfeitos, como ninguém é neste planeta. Porém, foi neles que a espiritualidade confiou esta missão, e o fez por um bom motivo, porque confia na capacidade deles de estar à frente de um terreiro.
Além de tudo isso, os Pais e Mães de Santo ainda precisam atender os consulentes. São muitos que os procuram fora do horário de gira. Há situações que exigem um cuidado maior, trabalhos na residência de particulares, pessoas passando mal de madrugada, médiuns mal orientados que saíram de outros terreiro, e tantas mais situações diferentes.
Os dirigentes possuem, ainda, sua própria família e trabalho, que nem sempre conseguem oferecer a devida atenção a eles. Dividem-se entre tantos pedidos e solicitações. Raramente encontram um momento de repouso e lazer. Suas energias estão dedicadas, em grande parte, no cuidado dos outros.
São os professores de todos nós. Orienta-nos, constantemente, no nosso crescimento pessoal e espiritual, ainda que muitos não o percebam. Neste sentido, agem como verdadeiros pais e mães, acolhendo e doutrinando os seus filhos. Isto quando não precisam atuar como se fossem psicólogos, confidentes de todos, que derramam sobre eles todas as mazelas.
Em alguns terreiros, até existe uma divisão de tarefas, o que é muito positivo e alivia o trabalho do sacerdote. Pais e Mães Pequenas, cambones chefe, assumem parte dessa responsabilidade. Porém, se alguém deixa de cumprir sua tarefa, mais uma vez cabe ao dirigente substituí-lo.
Há quem queria ser pai ou mãe de Santo somente para poder mandar a vontade, fazer tudo do seu jeito. Mas não compreende o peso da responsabilidade, o tamanho dos sacrifícios que esta missão exige. Não basta querer ser sacerdote, muito menos pagar algum curso. É preciso vocação e outorga da espiritualidade. Mas saibam todos: Pai Oxalá a tudo vê e nenhuma caridade será esquecida.
Saravá a todos!
Autor desconhecido
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