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Médium Indisciplinado

Publicado em 26/07/2019

Médium indisciplinado


Quando um consulente, durante uma Gira, é atendido por um Guia, aquele é um momento mágico; muitas vezes, esclarecedor, divisor de águas e decisório na vida da pessoa. E é assim que tem que ser: ISSO É UMBANDA - ajuda, amparo e orientação!

No atendimento, a pessoa enxerga aquela incorporação como a materialização da Umbanda. Para ela, o Guia é o representante da religião e o que ele fala ou faz é reflexo do que é a Umbanda.

Essa visão pode se tornar deturpada na medida em que o consulente desconhece a possibilidade do médium desequilibrado intervir na incorporação e vai embora da Gira com uma impressão errada da nossa religião.

Dentre os vários mitos em torno da incorporação dos Guias, há um que se destaca pelo potencial de influenciar negativamente o consulente em relação ao seu conceito do que é a Umbanda: Guias bravos, estúpidos, secos, mal educados, tratando mal todo mundo!

Meu entendimento é que todo Guia, para conquistar o grau de Guia, passou por muito estudo, muito trabalho, muita vivência, onde adquiriu muita sabedoria. Na minha visão, os Guias são espíritos de irmãos mais velhos e realmente muito mais evoluídos do que nós.

Como é que alguém que adquiriu maturidade e equilíbrio pode ser estúpido e mal educado? Como assim?

Há aqueles Guias “incorporados” que só sabem dar bronca, criticar, julgar e condenar. Daí, o consulente sai da Gira muito pior do que chegou; mais triste, mais culpado, mais nervoso e, muitas vezes, com raiva da Casa, do Guia e da Umbanda. E sai falando mal por aí e nunca mais volta. E dou toda razão, pois eu faria o mesmo se estivesse buscando ajuda e recebesse pedradas!

Até os cambonos evitam trabalhar com esses Guias, pois muitas vezes são mal tratados com palavras ríspidas, autoritárias e humilhantes.

Que fique muito claro uma coisa: ISSO NÃO É O GUIA - isso é médium em animismo, colocando para fora toda sua revolta, raiva e stress que estava acumulado, contido e abafado dentro dele e explodiu na incorporação.

Uma coisa é ter um Guia específico que é mais direto, mais sério, mais disciplinador. Outra coisa é ter a maioria (ou todos) os seus Guias apresentando-se com raiva e revolta dos nossos erros e limitações encarnadas.

Caridade também é compreensão, compaixão, tolerância, paciência, incentivo e esperança - e o Guia sabe disso melhor que ninguém!

O Guia, que é calmo, equilibrado, tem discernimento e nutre por nós um amor incondicional, olha para seu médium com o carinho e a tristeza do pai que vê seu filho doente da alma.

Mas ele continua vindo e incorporando assim mesmo, pois é refletindo o íntimo de seu filho que talvez ele o desperte para os desequilíbrios de sua vida que estão se materializando durante a incorporação. E, consciente de si mesmo, esse médium busque ajuda para mudar e melhorar.

Você, médium que incorpora e dá consultas em seu terreiro, faça uma auto-análise, faça uma reflexão de seus Guias e o comportamento deles e meça onde termina o seu ego desequilibrado e onde começa a sabedoria e o amor do Guia durante as incorporações.

Texto publicado no Jornal de Umbanda Sagrada em Agosto de 2014




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