Naquela tarde eu voltava de um trabalho de Umbanda, com certo cansaço, após tantas tarefas. Entrei no banheiro, em ritmo lento, ainda pensando nas várias atividades desenvolvidas. Ao entrar debaixo do chuveiro, que tinha uma boa água quente, pensei: “Vou esfregar bem esses meus pés. Não gosto deles assim, tão sujos!” Ali, passei vigorosamente uma bucha com sabão, até tirar todo o pó e a fuligem típicos de um terreiro, após uma sessão umbandista.
Então, num dado momento, ouvi o preto-velho dizendo: “Seus pés ficam sujos, mas seus caminhos estão ficando limpos.” Não entendi exatamente o que ele quis me passar naquele momento, mas guardei sua frase na minha mente.
Alguns dias se passaram e, às vezes, a frase de Pai Cipriano ainda me voltava à memória. Eu senti que meu entendimento estava incompleto e, dessa forma, emiti um desejo de compreender melhor. Então, quando surgiu uma oportunidade, em atendimento aos meus pedidos mentais, houve uma nova aproximação do preto-velho, para trazer um esclarecimento mais profundo. Ele me passou as explicações, que estão expressas na sequência.
No passado, muitas pessoas dedicaram-se à magia, movidas por interesses próprios, que nada mais eram que suas paixões, fome de poder e de riqueza material. Não viam seu semelhante como irmão de jornada, na estrada da vida. Em boa parte das vezes, esses “bruxos” ou “feiticeiros” apenas se utilizaram do conhecimento das forças da natureza, para manipular outras pessoas e tirar proveito, prejudicando àqueles a quem deveriam considerar como irmãos. Assim, nesta caminhada egoísta, cheios de vaidade e orgulho, foram sujando a estrada percorrida, a cada passo, a cada vida. Diversos conhecedores da magia foram deixando rastros de dor, sangue e revolta, ou seja, os caminhos percorridos ficaram muito sujos.
Hoje, muitos desses antigos magistas estão reencarnados como médiuns umbandistas, para prestar a caridade. Assim, quando vejo que um trabalhador espiritual da Umbanda volta para casa suado, cansado e com os pés sujos, meu coração se alegra. E junto comigo, outros pretos-velhos, também antigos praticantes da magia, nem sempre positiva, ficamos felizes, pois amparamos àqueles que erraram como nós.
É preciso limpar a estrada que, aparentemente, ficou para trás. Então, meu filho, quando chegar em casa com os pés sujos, devido ao trabalho umbandista, repare bem que seus pés ajudaram a limpar um pouco a sujeira que espalhou no passado. Seus caminhos estão ficando limpos.
Ao terminar o influxo psicográfico do conteúdo passado por Pai Cipriano, fiquei satisfeito e agradecido à entidade. Olhei a minha volta e reparei num sabiá, que acabava de pousar a poucos metros de distância. Eu estava debaixo de algumas árvores, sentado com o bloco na mão, onde tinha anotado as orientações do guia. Alguns raios de sol chegavam ao solo. Um passarinho, que não identifiquei, cantava no alto de uma árvore. Havia verde e algumas flores a minha volta. Senti-me abençoado por aqueles instantes de paz, nessa vida tão atribulada que vivemos hoje.
Nesse contexto, espero que o leitor que absorve este pequeno relato possa também sentir os momentos de serenidade, que agora sinto, enquanto finalizo este texto. Salve as Almas! Axé a todos!
Pablo de Salamanca
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