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Dúvidas sobre Mediunidade

Publicado em 10/05/2019

Dúvidas sobre mediunidade


A Mediunidade na Umbanda: Perguntas e Respostas...

A mediunidade é sempre um tema coberto de mitos e dúvidas em todas as religiões. Na Umbanda não é diferente. Para auxiliar aqueles que desejam conhecer melhor sobre o assunto na Umbanda, foi elaborado este pequeno conjunto de perguntas e respostas. São explanações simples e objetivas destinadas ao leigo, ao iniciante no processo mediúnico e aos integrantes de outras religiões que desejam conhecer mais sobre a mediunidade na Umbanda. O tema é muito amplo e existem muitas teorias divergentes a seu respeito e cada casa religiosa possui suas próprias premissas. O que temos aqui reflete a maneira como é tratado da mediunidade na Casa do Pai Benedito (de onde tiramos esse texto). Para facilitar o entendimento, as dúvidas estão agrupadas em blocos de acordo com seu tema:


A MEDIUNIDADE NA UMBANDA

O que é a mediunidade na Umbanda?

É um processo onde espíritos de luz, chamados de guias, utilizam de pessoas encarnadas (médiuns) como interlocutores para cumprir uma missão de caridade na terra.

É algum tipo de castigo ou punição?

Não. A mediunidade na Umbanda é uma oportunidade de trabalho para evolução pessoal e resgate cármico do médium. Ninguém é médium para “pagar o que fez” em uma encarnação passada. É médium porque se propôs a colaborar com o trabalho divino no presente, em busca de um futuro melhor para todos.

Tenho medo. Isso é ruim?

“O medo é parte integrante da mediunidade”. – palavras de Pai Benedito. O medo é útil quando traz cautela ao médium e o protege de eventuais perigos. É também perigoso quando enfraquece sua confiança e reduz sua sintonia com seus guias de luz. É preciso saber lidar com o medo a seu favor. Não tente eliminá-lo, pois ele só se fortalece. Exercite sua fé e amadureça seu espírito. Assim você vai ver o medo desaparecer gradativamente, sem você fazer força.

Posso “virar” médium se eu quiser?

Médiuns todos são, embora alguns em grau mais suave. Mas ninguém pode se “candidatar” a médium de terreiro em algum momento da vida. Estas pessoas são escolhidas como instrumentos de trabalho antes de seu nascimento, sua encarnação nesta terra. Passam a ser cuidados e protegidos por seus guias até o momento de iniciar seu trabalho. Contudo, qualquer pessoa pode trabalhar na religião, desde que suas intenções sejam boas e sinceras. Há muitas outras tarefas na religião além do trabalho mediúnico, como: cambonos, ogãs, recepcionistas, palestrantes etc.

Por que os médiuns são chamados de cavalos?

Esta é, na verdade, uma referência carinhosa dos guias para com seus protegidos. O cavalo é um elemento importante ao povo do interior. É um amigo fiel e instrumento vital ao sertanejo em todos os seus trabalhos. O cavalo é um instrumento vivo, um amigo que leva o sertanejo de forma rápida e segura e o permite alcançar terrenos onde seu condutor sozinho não poderia chegar. O bom médium representa a mesma coisa para seus guias de luz. Os médiuns também são chamados por outros nomes. Os mais comuns são: aparelho, matéria, burro entre outros.

Ser médium envolve algum risco?

Sim. A mediunidade é a abertura dos canais energéticos do corpo astral para o contato com a espiritualidade. Se o médium se afinar com seres de luz, isso é extremamente benéfico. Caso isso não aconteça, ele pode ser usado também pela espiritualidade negativa e se transforma em um instrumento da sombra. Por isso, o cuidado com o médium é tão importante, em todos os momentos de sua vida, não só no terreiro.

Como posso me proteger?

Na verdade, cada casa possui seus próprios métodos: banhos, estudo, conduta moral, trabalhos e mirongas. Mas todos eles se resumem em uma única vertente: Um médium bem cuidado é aquele que preserva sua ligação com as falanges de luz.

Por que “pego os ‘carregos’ dos outros”?

“Carregos” é o nome geralmente dados às energias nocivas que as pessoas “carregam” em seu campo astral. Há médiuns que tem a característica de “retirar” essas energias de outras pessoas. Se isso ocorre no terreiro, não costuma trazer grandes problemas, mas se acontece em todo lugar, é sinônimo que o médium está desprotegido ou em desequilíbrio.

O que são puxadas?

São processos comuns em alguns terreiros, onde espíritos sofredores ou obsessores de um consulente são “puxados” para o campo astral dos médiuns por meio do magnetismo. Acontece de forma intencional ou involuntária, para fins de tratamento do consulente e do espírito retirado.

O que é corrente mediúnica?

É uma força energética de proporções superiores e muito útil, formada por vários médiuns juntos em um trabalho direcionado. Por isso é comum ver médiuns enfileirados cantando juntos em sessões de Umbanda, por exemplo.

O que acontece se eu for chamado ao trabalho mediúnico e recusar?

Varia de acordo com o médium e a casa. Esta deve ser uma decisão livre, mas existe sim relatos de casos onde isso envolve bastante sofrimento, seja por ignorância do médium ou dos condutores de sua casa. Mas não é incomum ouvir que o médium vai “apanhar” do santo e sofrer para o resto da vida em casos semelhantes.

Na verdade, o trabalho mediúnico é uma oportunidade e não uma condenação. E este trabalho é combinado entre o médium e seus guias ainda no plano espiritual, antes de seu nascimento. Romper com este acordo traz as implicações cármicas de quem se furta ao compromisso combinado com falanges de luz, e não a “surras” de espíritos.

Por que se diz que alguém está “apanhando do santo”?

Isso ocorre quando a mediunidade de alguém encontra-se em sério desequilíbrio e ele fica sujeito diversas interferências de espíritos em momentos inoportunos de sua vida. Tem diversas causas. Entre elas, o abandono do trabalho espiritual e da proteção por parte de seus guias e protetores.

O que é mediunidade cármica?

É quando o médium tem um compromisso muito arraigado com seu resgate cármico no trabalho mediúnico. Nestas ocasiões os espíritos tentam de toda forma trazê-lo ao trabalho e, quando ele se recusa, seu desequilíbrio energético e emocional é grande. Há também a chamada mediunidade de missão, ou missionária, quando alguém se propõe ao trabalho mediúnico para seu progresso, mas não tem compromisso de resgate a fazer. Neste caso os efeitos são mais amenos se por ventura abandonam os trabalhos.

Em ambos os casos, a questão é definida antes do nascimento do médium, ainda no plano espiritual. Em ambos, o abandono dos trabalhos é algo muito triste para toda a espiritualidade.

Ao iniciar um trabalho na Umbanda, sou obrigado a permanecer nele para o resto da vida?

Não. Esta é uma decisão do médium, em parceria com suas entidades de trabalho. O trabalho pode ser interrompido por diversas causas: questões pessoais do médium, saúde, trabalho e até por simples desejo de abrir mão desta oportunidade. Contudo, a pessoa deixa o trabalho mas não deixa nunca de ser médium. É preciso se cuidar.

Como me desligar do trabalho mediúnico?

Deve-se impreterivelmente conversar com os chefes de seu terreiro. Nunca “saia simplesmente, para nunca mais voltar.” O guia do terreiro é a pessoa ideal para lhe ajudar neste desligamento e tomará as providências necessárias quando for o caso. Contudo, deve ser uma decisão muito bem refletida. Quando um médium interrompe seu trabalho na Umbanda, ele interrompe também o trabalho de toda uma falange com centenas de trabalhadores espirituais. O que é muito triste.

Espíritos de umbanda escrevem, psicografam?

Sim. Depende das características do médium que acompanham.


A INCORPORAÇÃO

O espírito “entra” no médium durante a incorporação?

Não. Na verdade o espírito se aproxima e encobre o médium com sua energia, conectando-se com ele e assumindo seu corpo através de ligações energéticas em seus chacras. Quanto mais próximo o espírito fica de seu médium, mais intensa é a incorporação.

Existe incorporação fraca?

Sim. E seus resultados são catastróficos. Quanto melhor for a ligação entre médium e seu guia, mais autêntica é sua manifestação. Daí surge a necessidade de uma boa preparação dos médiuns. Um dos reflexos mais comuns de médiuns “mal incorporados” é o animismo e a mistificação.

O que é animismo e mistificação?

Animismo é quando o médium manifesta personas de seu inconsciente e não um espírito legítimo. Neste caso, o choro, riso, alegria, tristeza e o discurso são criados na mente do médium, mas ele acredita que aquilo vem de um espírito desencarnado. A Mistificação é a fraude da incorporação. O médium finge estar incorporado e sabe o que está fazendo. Acontece com médiuns maliciosos, que pretendem enganar as pessoas (normalmente para obtenção de algum benefício) e com médiuns despreparados mas aflitos, que são muito pressionados por seus colegas e passam a forjar a incorporação para se verem livres da cobrança alheia por “resultados”.

Como evitar estes problemas?

Um bom médium passa sempre por um bom processo de desenvolvimento ou educação mediúnica. Neste processo, ele conhece estas e outras ameaças e se prepara para lidar com elas. Um bom médium nunca é perfeito, mas se prepara constantemente para lidar com suas imperfeições.

Médiuns experientes passam por este tipo de dificuldade?

Sim. Sempre que a sintonia entre o espírito e o médium se enfraquece, a incorporação torna-se falha. Quando isso acontece, é indicado que o médium restabeleça seu equilíbrio e peça a interrupção de seus trabalhos se julgar necessário. Contudo, é comum que os médiuns enfraquecidos persistam em seu trabalho mesmo assim, por medo de serem criticados ou descredibilizados por seus companheiros de terreiro. Um erro de ambos.

O que são mediunidades consciente e inconsciente?

Mediunidade inconsciente ocorre quando o espírito toma o médium de tal forma que ele perde a consciência, é como se ele adormecesse. Sua principal vantagem é que, estando “adormecido” o médium não oferece muita resistência ou interferência nas manifestações do espírito guia. Uma desvantagem é que, se tomados por espíritos desordeiros, podem executar tarefas torpes sem que percebam isso com clareza. São médiuns cada vez mais raros. Mediunidade consciente, ou semiconsciente, é aquela onde o médium percebe parcial ou totalmente o que ocorre durante a incorporação. Ele não “adormece”. Uma vantagem é que, se forem bem preparados, eles se mantém alerta à interferência de espíritos desordeiros caso isso ocorra, impedindo sua ação negativa. Uma desvantagem é que, estando mal preparados, eles interferem na manifestação das entidades de luz. Bloqueiam seus comandos e, por vezes, até assumem a condução do trabalho, o que é muito perigoso.

Quais as confusões relacionadas à mediunidade consciente e inconsciente?

Na verdade, este é um ponto de grande conflito. Muitos médiuns absolutamente despreparados assumem o trabalho de atendimento público e cometem vários erros. Quando o problema vem à tona, a desculpa mais comum é sempre a mesma: “Ah, isso acontece porque ele é médium consciente”. Mas isso é um grande erro. Tais problemas acontecem porque os médiuns são mal preparados e mal cuidados. Esta postura acabou marginalizando o médium consciente, como se ele fosse sinônimo de médium ruim ou fajuto. A partir daí os conflitos de opinião são inevitáveis. Muitos médiuns conscientes se afligem e mentem, dizendo ser inconscientes, para não serem taxados de fajutos. Outros, partem para o polo oposto, dizendo que médiuns inconscientes “não existem”, para não se sentirem menores que seus colegas. Neste contexto, há ainda os médiuns verdadeiramente inconscientes que escondem sua condição para não serem discriminados por seus colegas. Este é um bom exemplo dos problemas que podem ser criados pela ignorância e falta de preparo do umbandista. Em resumo, há sim médiuns bons e ruins, sejam eles conscientes ou não. Mas isso é devido à sua mal preparação e falta de cuidado, não à sua condição mediúnica.

Existem médiuns fortes ou fracos?

Sim. Ninguém nesta terra é igual e possui características melhores e piores em todos os aspectos de sua vida, incluindo na mediunidade. Contudo este é um tema delicado e raramente abordado pela espiritualidade. O orgulho e a vaidade dos encarnados os torna particularmente vulneráveis neste ponto, pois quase ninguém está pronto para se ver melhor ou pior que seu irmão. Grandes conflitos, disputas e perseguições são desencadeadas por conta disso. Assim, costuma-se dizer que “todo mundo é igual,” para evitar conflitos, mas pode-se observar estas diferenças no dia a dia.


MÉDIUM DE UMBANDA EM OUTRAS DOUTRINAS

Quais as diferenças e semelhanças entre os médiuns de Umbanda e do Espiritismo de Kardec?

As semelhanças são muitas. Ambos trabalham para o amparo de espíritos encarnados e desencarnados. Mas algumas diferenças são mais flagrantes. Em sua maioria, os médiuns do Espiritismo se propõem a receber espíritos sofredores necessitados de ajuda, recebendo eventualmente guias de luz para sua orientação. Na Umbanda, o cerne do trabalho do médium é servir de veículos para espíritos de luz que prestam amparo a encarnados e desencarnados aqui na terra. Na Umbanda as faculdades mecânicas são também mais amplamente exploradas pelos espíritos incorporados.

Médium de Umbanda é menos evoluído que os da doutrina de Kardec?

Existem médiuns em diversos graus de evolução. Seja na Umbanda, no Espiritismo ou em qualquer outra doutrina. Sua evolução está relacionada à sua dedicação ao próprio progresso, não à religião.

Um médium de uma religião pode trabalhar em outra?

Poder até pode, afinal somos todos livres. Mas não é nada aconselhável. Quando um médium é destinado a uma religião, seja qual for, sua falange de trabalhadores espirituais está direcionada àquela doutrina. Se ele muda de religião, estas falanges são obrigadas a se adaptar a uma nova condição, restringir ou até abandonar seu trabalho junto àquele aparelho.

Um médium de Umbanda pode trabalhar em vários terreiros distintos?

Não é impossível, mas pode ser uma fonte de conflitos, chegando a ser proibido em algumas casas. Cada casa de Umbanda possui uma característica energética muito marcante e distinta, às vezes até antagônicas. Ao frequentar tais casas, o médium se expõe a estas forças e pode entrar em desequilíbrio, prejudicando o seu trabalho e de seus companheiros.


AS FALANGES DE TRABALHADORES DA UMBANDA

O que são os guias na Umbanda?

São espíritos que atingiram um grau acentuado de iluminação e sabedoria a ponto de poderem assumir a condução e orientação de pessoas encarnadas na terra.

O que são protetores na Umbanda?

São espíritos que atingiram um certo grau de iluminação, mas não a ponto de assumirem a condução de pessoas encarnadas na terra. Assim, agem como seus protetores.

O que é chefe de cabeça?

Cada médium tem sempre um espírito que é líder em seus trabalhos. Todas as falanges de trabalhadores ligadas àquele médium estão subordinadas a ele. Este é o chamado “chefe de cabeça”. Comumente é um caboclo ou preto velho, mas pode também pertencer a outras falanges em casos específicos. Por isso se diz que “fulano” tem “tal” caboclo “de frente”, por exemplo.

Como saber meu chefe de cabeça?

Ele mesmo deve se apresentar. É um erro comum tentar prever isso no momento errado ou o médium tentar “forçar” que seja esta ou aquela entidade, por questões de afinidade.

Qual das falanges é mais forte?

Nenhuma delas. Cada uma é forte naquilo em que se especializa. As falanges de Umbanda são fortes por trabalharem unidas. Este tipo de disputa, quando acontece, tem origem na imperfeição dos médiuns encarnados.

Falanges distintas podem disputar um médium?

Este é um tema delicado. De fato acontece, mas não nos moldes como se diz. É comum que os guardiões, ou exus, do médium se coloquem à frente. Isso de deve a duas causas principais: Na primeira, o exu ainda não tem o esclarecimento apropriado e se coloca de fato “na frente” dos outros, por julgar-se “dono” daquele aparelho. Neste caso ele precisa ser esclarecido e orientado. O uso de oferendas é relativamente comum nestas ocasiões. Na segunda causa, é o médium que está tão afinado com a energia do seu guardião, que ele simplesmente não consegue se ligar a outros guias ou protetores. Por magnetismo, ele se liga imediatamente ao guardião, mesmo quando outros falangeiros deveriam incorporar. Exu está apenas ali, de guarda, fazendo seu trabalho. Mas acaba levando a culpa.

Tenho que incorporar todas as falanges de Umbanda?

Isso não é uma regra geral. Todos os médiuns de Umbanda tem ao menos um caboclo, um preto velho, uma criança a e um exu incorporante em sua falange de trabalhadores Se as outras linhas (ciganos, baianos, boiadeiros, marinheiros etc.) vão incorporar também ou quantos serão, isso varia de acordo com a casa e o médium.

Quantos caboclos ou pretos velhos eu devo ter?

São muitos os falangeiros que trabalham com um médium, centenas. Mas somente alguns líderes de falange incorporam. Isso é definido na espiritualidade e não pelo aparelho ou pela casa em que ele trabalha.

Gosto mais de trabalhar com uma entidade do que com as outras. Isso é errado?

Não. Isso é, aliás, muito comum. Errado é impedir que outras entidades trabalhem só porque você gosta de uma delas. Quase todo médium tem mais afinidade com alguma falange específica de trabalhadores.

Quando um caboclo bate forte no peito, ou fala muito alto, é porque ele é muito forte?

Não. É sinal apenas de que ele fala alto, ou que o médium se sente inseguro e forja manifestações extravagantes para reafirmar sua mediunidade diante dos colegas. Tais questões devem ser orientadas pelo chefe de terreiro. É um erro querer imitar a “extravagância” dos outros ou julgá-los extravagantes demais. A raiz destes erros ainda permanece a mesma: a insegurança e o medo de parecer menor diante de seus colegas de terreiro.

Uma entidade incorporada deve utilizar adereços como cocares, chapéus ou capas?

Cada casa possui seus instrumentos e não devemos julgá-la melhor ou pior por isso. Na Casa do Pai Benedito utilizamos bengalas, guias e ponteiros. Não utilizamos contudo capas, cocares ou coisas do gênero. É um erro dizer que um espírito depende de tais instrumentos para trabalhar, ou que nenhum espírito jamais deveria utilizá-los. Tal questão está, na verdade, mais ligada às condições de trabalho encontradas aqui na terra do que às necessidades dos espíritos do céu.

Todo exu ri quando incorpora? E por que eles riem?

Isto é um tipo de sinal, uma identidade de alguns exus. Pode ser usado como um chamado às suas falanges de trabalhadores, como um agente sonoro de energização do ambiente, ou até mesmo como um instrumento de descontração da conversa. Mas não é uma obrigatoriedade. É comum, contudo, médiuns iniciantes forjarem risadas escandalosas ou sinistras em suas manifestações mediúnicas para se afirmarem diante dos colegas. Mais uma vez, um erro devido à insegurança, medo e falta de conhecimento.

Um espírito pode se passar por outro durante a incorporação?

Sim. No caso de espíritos de luz, é raro, mas podem fazer isso para testar seus médiuns em ocasiões apropriadas. Já no caso de espíritos malfeitores, eles podem invadir qualquer sessão mediúnica “fantasiados” com outra roupagem deste que encontrem brechas para isso. Daí a importância de uma casa segura para se trabalhar e de um bom desenvolvimento mediúnico que nos permita identificar claramente a energia dos espíritos que nos assistem. Esta identidade energética, ao contrário da roupagem, nunca pode ser imitada ou falsificada.


O DESENVOLVIMENTO E A MANIFESTAÇÃO MEDIÚNICA NA UMBANDA

Como acontece o desenvolvimento mediúnico?

Não existe fórmula específica e cada terreiro possui seus próprios procedimentos. No geral, os médiuns iniciantes primeiro devem conhecer e se afinar com o terreiro, até começar a participar das sessões de desenvolvimento. A partir daí, os guias daquele médium vão se aproximando gradativamente o que provoca uma série de sensações no corpo e na mente do médium. As primeiras manifestações consumam ser irregulares, com espasmos e outras reações que chegam até a ser violentas. Com o passar do tempo a ligação mediúnica se fortalece, sua manifestação se torna cada vez mais natural e fluída, até o ponto de ele estar preparado para o trabalho na Umbanda. Durante este processo o médium apara inúmeras arestas tanto em sua mediunidade, quanto em sua moral e seu íntimo.

Quanto tempo deve durar um desenvolvimento mediúnico?

O bom desenvolvimento não é medido em tempo, mas sim em qualidade. O processo deve durar o quanto for necessário para que o médium esteja seguro e capaz de desempenhar suas funções.

Um médium que não concluiu seu desenvolvimento pode atender pessoas?

Poder não pode, mas acontece. Este é um ponto polêmico na maioria dos casos. Não é raro médiuns em processos iniciais de desenvolvimento serem escalados para atender consulentes. Assim como também não é raro estes consulentes saírem das consultas confusos e com altos graus de perturbação. Os riscos são grandes para o médium, para o consulente e para todos ao seu redor. Mas quando isso ocorre, todos têm sempre alguma desculpa que justifique sua postura e mascare seus erros. A nossa casa tem uma norma interna: nenhum médium pode trabalhar incorporado no terreiro antes de concluir seu desenvolvimento mediúnico.

É possível que o médium não esteja incorporado com espírito algum, embora se manifeste como se tivesse?

Sim. Isso pode ocorrer por engano do médium (o animismo) ou pela ação de médiuns fraudadores (a mistificação). Tal fato é, infelizmente, mais comum do que se imagina. No caso do animismo, são permitidos em alguns terreiros quando há questões psíquicas ou cármicas muito arraigadas envolvendo o médium. É uma atitude de caridade, pois mesmo à sua maneira, estes médiuns estão recebendo auxílio da espiritualidade superior naquele instante. No caso da mistificação, jamais deveriam ser permitidos. Mas nem sempre os dirigentes do terreiro tem olhos a perceber isso. Nenhum médium jamais deve prestar atendimento ao público em qualquer uma destas situações.

O que é “cangar” o médium?

É como as entidades denominam o processo de desenvolvimento. “Cangar” significa “preparar” o médium para o trabalho.

Qual a diferença na incorporação de orixás?

Orixás não incorporam, pois sua energia é intensa demais para que o corpo astral de um médium possa suporta esta ligação. Contudo estes orixás possuem seus encarregados, espíritos também superiores, porém de luz mais tênue. Ainda assim sua luz é intensa demais para permitir uma incorporação completa. São estes que se manifestam em giras de orixá nos terreiros de Umbanda. Eles apenas se aproximam do médium para tomá-lo como veículo na irradiação de sua energia pelo plano físico terrestre. Por isso, durante estas incorporações, o médium não fala, se move de maneira restrita e, comumente, ritmada, como se estivesse aplicando passes energéticos.

É possível o médium incorporar o “espírito errado”?

Se for despreparado, sim. É comum o médium ansioso se afobar durante o processo de desenvolvimento, no afã de manifestar diversos espíritos. Com isso, abandona sua condição de passividade e passa a conduzir a incorporação, ao invés de permitir que o espírito faça isso. Em um tipo de reação anímica, ele acredita estar incorporado com uma entidade quando, na verdade, que está presente é outra, que pouco pode fazer além de assistir à tudo de forma lastimosa. Durante o desenvolvimento, dedique um tempo para afinar sua percepção sobre as entidades que o cercam. Procure conhecê-las e nunca se coloque à frente delas. Você deve se oferecer como instrumento da espiritualidade e não a espiritualidade se prontificar ao seu serviço.

Como se explica o fato de, por exemplo, Maria Padilha estar incorporada em vários lugares e vários médiuns diferentes ao mesmo tempo? É possível se incorporar em vários médiuns simultaneamente?

É possível sim, como descrito na literatura de Kardec, que espíritos de alta envergadura se manifestem em vários médiuns ao mesmo tempo, mas não é este o caso no terreiros de Umbanda. Maria Padilha, 7 flechas, Pena Branca entre outros são nomes das falanges de trabalho. Todos os espíritos pertencentes àquele grupo se manifestam com o mesmo nome quando estão em terra. Mas tratam-se de espíritos, de individualidades diferentes. Assim, não é a Padilha que está em vários lugares ao mesmo tempo. São vários espíritos da mesma falange, em vários lugares, utilizando o mesmo nome.

Por que as entidades se manifestam de forma semelhante?

Para um médium vidente, é fácil identificar qual espírito está incorporado. Basta “ver”. Mas para a maioria das pessoas, não é simples assim. Por isso, cada falange de trabalhadores possui comportamentos, movimentos e sons que nos auxiliem a identificar sua presença. Caboclos costumam bater no peito, pretos velhos curvam-se frequentemente e exus dão boa noite a todos, mesmo quando é dia. Estas são algumas destas características. Por trás de cada uma delas, há ainda outros conceitos particulares, que variam muito de acordo com a falange espiritual e o terreiro onde ela trabalha.

É possível que um uma entidade “imite” a outra quando incorporada?

A imitação é possível e até muito comum, mas não por parte da entidade. Cada espírito tem sua própria individualidade. O ideal seria que todo médium oferecesse condições ideais para que eles se manifestassem segundo sua própria natureza. Porém, devido principalmente à ansiedade dos médiuns iniciantes ou má preparação dos médiuns experientes, eles mesmos buscam referências em outros espíritos para se sentir mais confiantes e passam a imitá-los. Esta questão, contudo, envolve muitos detalhes e deve ser tratada somente pelos dirigentes e entidades comandantes de cada casa. Médiuns que se julgam capazes de “decidir” qual manifestação é autêntica ou não podem tornar-se alvos fáceis da espiritualidade sombria e desencadear conflitos sérios no terreiro.

Como devo saber o nome das entidades que vão trabalhar comigo?

Elas devem se apresentar. Evite ficar imaginando como isso seria, pois a ansiedade pode prejudicar seu progresso.

Por que é pedido que as entidades risquem ou cantem seus pontos?

Estes são instrumentos de confirmação da presença da entidade junto a seu médium. Estes pontos são chaves da identidade dos espíritos e suas falanges, somente um médium bem incorporado pode traçá-los corretamente.

Com saber se o ponto riscado pela entidade está correto?

Isso é sabido pelas entidades chefes do terreiro e deve ser confirmado por elas. Quando o traçado ou o ponto cantado estão perfeitos, ele é autenticado pelo regente da casa. Quando algo está errado, o médium é carinhosamente orientado pelo guia a se preparar melhor, para permitir uma incorporação mais fidedigna na próxima oportunidade

“Sou eu ou a entidade que está falando?” Como se livrar da eterna dúvida?

Esta é talvez a dúvida mais comuns aos médiuns iniciantes. E se sua resposta fosse simples, não seria mais dúvida alguma. Na verdade, a interferência de médiuns no contexto da incorporação é muito comum no princípio do desenvolvimento e deve ser encarado como algo normal. Somente com o exercício, o médium diminui sua ansiedade e cede espaço para que a entidade se manifeste com liberdade e clareza. Durante este período o médium precisa de entrega absoluta. Ignorar o julgamento alheio e recorrer sempre aos dirigentes do terreiro para ajustar o que for preciso.

Não há regras absolutas. Contudo, há alguns indicadores típicos de interferência dos médiuns seja na comunicação, seja na movimentação do corpo. O médium está comumente travado, restringindo a ação da entidade, quando:

- A entidade incorporada não fala nada, mal se move nem sai do lugar;

- O médium tropeça, se desequilibra ou cai com frequência no processo de aproximação;

- O médium inicia o processo de incorporação mas ele se rompe “no meio do caminho”.

Por outro lado, são indicadores de animismo, de exacerbação da ação do espírito, quando:

- A entidade grita muito, fala muito alto ou se movimenta exageradamente;

- Quando há um excesso de tiques nervosos, sotaques ou ações incompreensíveis;

- Quando o que ele diz não corresponde com a realidade ocorrida;

- Quando o espírito manifesta opiniões que na verdade são do médium e não dele.

Este último caso é sempre uma questão delicada de se analisar. Contudo há uma dica que pode ajudar: A palavra de um espírito de luz possui um tipo de sabedoria claramente identificada em seu discurso, mas que dificilmente pode ser vista no discurso do encarnado. Eles não tomam partido em conflitos terrenos. Guardam uma imparcialidade ímpar nestes conflitos, mesmo quando seus aparelhos estão envolvidos, pois reconhecem todos como filhos de Deus carentes de esclarecimento e auxílio nesta terra. Esteja atento a este tipo de sabedoria. Onde você encontrá-la, estará falando com um guia autêntico.

Devo conversar com entidades incorporadas nos outros médiuns em desenvolvimento mediúnico?

Isso varia de acordo com as regras de cada casa. Em linhas gerais, é bom porque serve de exercício para o médium em desenvolvimento. À medida que a conversa flui, a entidade fortalece sua ligação e reduz as interferências do aparelho na comunicação. Mas isso requer alguns cuidados. Deve-se ter em mente de que tratam-se de médiuns “em desenvolvimento”, por isso passíveis de falhas e interferências na comunicação (o que é perfeitamente normal nesta fase). As mensagens devem ser analisadas antes de serem tomadas como verdade. Nestas ocasiões há um risco especial quando as pessoas envolvidas são parentes ou conhecidos muito próximos, pois o risco de interferência do médium é ainda maior devido à questões armazenadas em sua mente.

Por que saímos tão esgotados de algumas sessões de desenvolvimento mediúnico?

Há várias causas. Os médiuns realmente despendem muita energia na tentativa de estabelecer uma boa conexão mediúnica no início do desenvolvimento. Carências na preparação do médium ou da corrente também podem trazer este efeito, como a falta de um banho de ervas adequado ou a perda de energia para entidades mal intencionadas. Contudo, existe outra causa comum, sem ser necessariamente um problema. Em um dado momento do desenvolvimento, a entidade chefe de cabeça do médium assume a frente dos trabalhos e passa a recolher sua energia para que ela seja distribuída entre todos os espíritos que fazem parte de sua corrente de trabalho. Com esta energias eles formam um tipo de chave de proteção. Somente aqueles espíritos que possuem esta chave tem acesso ao campo astral daquele médium, tornando-o resistente à ação de espíritos desordeiros ou sofredores. Todos passam por isso embora, na maioria dos casos, nem percebam.

Para que servem os banhos durante o desenvolvimento?

São instrumentos de harmonização e sintonização do corpo astral do médium com seus guias espirituais. Ao tomar estes banhos, o médium desenvolve previamente um tipo de energia receptiva ao espírito que se aproximará dele. A sintonia e incorporação nestes casos ocorre muito mais facilmente.

Posso pedir que as entidades que trabalham comigo não usem fumo ou bebida? Para que eles servem?

Esta é uma questão bastante mal compreendida. Inicialmente, as entidades de Umbanda não fumam. Elas usam o fumo com um tipo de defumador, de agente de limpeza das energias deletérias que carregamos. Quando eles fazem uso desta ferramenta no desenvolvimento, é justamente para depurar seu aparelho mediúnico e, assim, permitir incorporações mais fáceis e firmes. Se o médium impede o seu uso, impede também este procedimento e dificulta seu progresso. A questão da bebida alcoólica é similar. É usada também para limpeza, porém de natureza mais profunda, comumente nos trabalhos e incorporações de exus. Contudo, a ingestão da bebida em médiuns não devidamente preparados ocasiona efeitos nocivos, onde médiuns chegam ao final da sessão completamente bêbados sob a alegação de que a “entidade bebeu muito”. Isso gera uma abertura muito perigosa para a ação dos espíritos da sombra no terreiro. Por isso, a ingestão de bebidas é proibida em muitas casas. Quando cachaça é necessária, seu uso é sempre externo, nunca ingerido pela entidade incorporada.

Para que servem os trabalhos e oferendas? Eles são necessários?

A necessidade ou não é questionada dependendo da vertente religiosa do iniciado. Controvérsias à parte, eles são muito úteis. São instrumentos de movimentação da energia necessária para a sintonização energética entre um médium e suas entidades de trabalho. Caso esta energia não seja acionada por meio de oferendas, terá que ser feita de alguma outra forma.

Tenda Espírita Pai Benedito de Aruanda




Um comentário:

  1. Muito bom o texto tira muita duvida e esclarece vários pontos que estudamos e dá uma compreensão do nosso trabalho na Umbanda. Achei muito interessante essa parte em que ele fala que quando o medium se sente esgotado no final da gira e ele fala sobre a transferência de energia do chefe da casa na seção, esse ponto eu não sabia achei muito interessante e esclarecedor.

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