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26/05/2019

A Vaidade na Umbanda

A vaidade na Umbanda


Quando nós, umbandistas, elencamos as qualidades da Umbanda, é muito comum citar as lições de humildade que a mesma nos oferece em diferentes simbolismos: a começar pelos pés no chão, que nos colocam em contato com o solo sagrado do terreiro; seguido pelos pretos velhos, espíritos de escravos em terras brasileiras, que, com sua simplicidade e sabedoria, assumem o protagonismo na religião e também pela roupa branca que vestimos para, dentre outros motivos, demonstrar que somos iguais.

No entanto, cabe lembrar que, assim como outros templos religiosos, um terreiro é um espaço necessariamente de evolução espiritual. Quem entra ali e coloca a roupa branca não virou santo. A doutrina umbandista nos é passada, mas o processo de transformação, orientado pelos valores e princípios inerentes a nossa fé, não se dá da noite para o dia. Aliás, arrisco dizer que é justamente por estarmos no terreiro que seremos colocados frequentemente em testes para enfrentar nossos atrasos e defeitos. É como se esses florescessem para que possamos então lutar contra eles.

E um dos fantasmas mais comuns que somos levados a enfrentar é o da vaidade. Um problema que, claro, está longe de ser exclusivo da Umbanda, até porque é um defeito humano e, portanto, será encontrado em qualquer religião, em qualquer ambiente de trabalho, enfim, em qualquer lugar. Agora, parece interessante cuidar desse tema porque chega a ser um paradoxo: de um lado pregamos a humildade, a igualdade e, de outro, nós mesmos precisamos estar em constante vigília para não sermos seduzidos pela vaidade.

E eu digo seduzidos porque é bem esse o termo. Parece ser atraente exaltar o quanto você sabe da doutrina umbandista, o quanto as suas entidades são maravilhosas, o quanto são procuradas, o quanto a roupa da sua Padilha brilha e como é a mais bonita da Casa. A verdade é que o poder, a posição de destaque atrai muitos. Sem perceber, entramos numa armadilha que fica difícil sair. Isso porque estamos tão acostumados a apontar e ver o problema no outro, a doutrinar os próximos sobre o quanto precisamos ser humildes que, de repente, esquecemos de nos olhar no espelho.

Quantos irmãos meus foram embora assim! Se acharam tão grandes, tão poderosos que não poderiam mais ser liderados pela mãe de santo. Afinal, o ego cresceu tanto que sequer perceberam que só enxergavam eles mesmos. Fulano não fazia nada, Siclano só recebia vento, a outra estava só fazendo teatro, mas as entidades dele, nossa, você precisava ver o bem que fez na casa daquela assistente desesperada. Já estava ditando regra mais que o preto velho chefe da casa, sem sequer ter a elevação espiritual dele para tanto.

Tenho certeza que ao ler essas linhas, não serei só eu a ter histórias como essa para contar.

E aí alguns podem questionar: se a Umbanda é uma religião tão linda, por que isso acontece?

A religião é e seus fundamentos também são lindos, no entanto nós, praticantes, somos humanos. Todos nós estamos ali para cumprir nossa missão espiritual, para resgatar desavenças e falhas que colecionamos ao longo de vidas. A vaidade é uma delas.

Como ela se inicia não tem regra: pode ser pelos elogios que o médium começa a receber ou até mesmo pela falta deles e a consequente necessidade de chamar atenção. Suspeito que, em verdade, todos a temos latente em nós e o que faz com que um seja mais vaidoso que o outro é justamente a forma como a gente alimenta esse sentimento.

Um conselho simples, mas que vale sempre destacar é o seguinte: esqueça os juízos de comparação. Não existe entidade melhor que outra, muito menos médium mais importante que outro. A nossa filosofia é Ubuntu: “eu sou porque nós somos”. Não há espaço na Umbanda para ego ou para competição. Formamos uma corrente justamente porque só fazemos sentido quando unidos. Portanto, antes de fiscalizar e apontar as atitudes do outro, experimente vigiar a si mesmo. O trabalho para a nossa evolução espiritual é constante e o vestir branco deve valer como simbolismo para muito além do terreiro.

Maria Eduarda





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