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27/12/2016

Orixá não é Privilégio do Candomblé

Orixá não é privilégio do candomblé


Hoje recebi uma mensagem de um seguidor perguntando sobre o Orixá na Umbanda, na verdade questionando em tom de que a Umbanda não deveria cultuar o orixá porque é um culto a espíritos, ou seja guias espirituais. Enfim, essa é uma questão muito antiga e que gera um desconforto entre umbandistas e candomblecistas (desconforto a meu ver desnecessário, já que passamos pelos mesmos preconceitos).

Há muito o que se refletir em relação ao culto a divindade, começando sobre a reflexão da palavra 'culto', cultuar não significa um padrão e sim um conjunto de ritos ao cultuar alguma divindade e/ou outros; Uma outra reflexão a se fazer é que Orixá não pertence a religião alguma, se fosse para pertencer alguém ou algo o mais ''coerente'' seria pertencer a Nigéria e suas diversas localidades Nagô/Yorubá, onde não existia um culto padronizado ao orixá e sim cultos em diferentes localizações, pois, esse padrão de culto ao Orixá entre quatro paredes com um agrupamento de culto a alguns orixás que em forma de revezamento (me expresso assim para leigo entender) se manifestam em seus momentos é um padrão formalizado no Brasil (Candomblé), se esse padrão existe na África foi levado pra lá e não vindo de lá. E se o orixá pertencesse a África deveríamos então selecionar cada força vibratória (cada orixá) para uma localização, já que na África cada cidade/nação cultuava um, dois ou mais orixás (não chegava a dez), entretanto, em pequenos ritos rotineiros se referiam a mais de 400 orixás. Agora de fato, se o orixá pertencesse há alguma localização, ele não tinha entrado no barco e através dos africanos se miscigenado no Brasil em diversos cultos, rituais e segmentos, vamos deixar a arrogância de lado e lembrar que Orixá sabe o que faz e sabia aonde seria cultuado. Quem somos nós pra dizer ao orixá que ele não deve estar em algum território?

Bem, o Candomblé padronizou o culto aos Orixás, entretanto, lembrando que não existe um Candomblé e sim vários, dos quais representam nações, origens diferentes e/ou miscigenações de povos, o padrão ritualístico é bem diferente dos diversos ritos africanos, porém, formalizaram algo mais próximo de suas rotinas, implantaram os ritos numa nova forma de manifestar o orixá em cultos (Ressaltando que o Candomblé foi formalizado pelos Bantos no Brasil através do culto aos Inquices cerca de 200 anos antes da chegada dos demais povos africanos). É importante frisar a palavra implantação, porque essa palavra é a chave para desvincular o sentimento de possessão de alguns religiosos no Brasil, principalmente referente a possessão das divindades africanas, a implantação ocorreu desde o continente africano antes do ''descobrimento'' do Brasil, na África por conta de suas passagens históricas tivemos muitas divindades implantadas nos cultos nagôs/yorubás, como alguns Voduns que são divindades do Povo Fon (Djedje), como o exemplo de Nanã e Xoroquê. Esse tipo de implantação é visto como uma necessidade espiritual que de forma respeitosa se implantou dentro de um culto ou segmento já padronizado. Desta forma, é errado o culto a Nanã fora do padrão Jejê (Djedje)? Vamos devolvê-la ao povo Fon e retirá-la do Povo Yorubá?

Assim aconteceu com a Umbanda, da qual é uma religião padronizada pelos Guias espirituais, uma religião doutrinada por eles, da qual tem todo o seu objetivo o culto aos guias espirituais, entretanto, em algum momento de sua história (e não me refiro a história de 1908 pra frente, não sigo esse pensamento) a necessidade desta implantação ocorreu e a mesma não foi imposta pelo homem ou a sua vontade, mas sim pelos guias espirituais através de uma passagem histórica, de uma miscigenação, porém, implantaram os orixás diante um segmento padronizado e com sua identidade formada. Na realidade a implantação do orixá na Umbanda não veio em forma de iniciação ao orixá ou de uma espécie de segmento ao Orixá, ela veio em forma de zelo ao orixá em sua manifestação que está desde a formação de nossas almas a tudo que fazemos, pois o orixá está manifestado em nós e na natureza, somos a manifestação dele. A Umbanda não abandonou sua identidade e muito menos a modificou, apenas através dos guias acrescentou um zelo e respeito que muitos adeptos despercebiam, por isso, a presença do orixá na Umbanda é como a presença do orixá em nossas vidas, não há iniciação a Orixá e nem se vive pro Orixá, nós encaramos que ele vive em nós e através de nossa integridade espiritual e moral estaremos acompanhando a pureza de nossos orixás e a presença deles sobre nossas cabeças. A manifestação e os ritos implantados na Umbanda (que não advêm do Candomblé) surgem diante a identidade do segmento umbandista e não com a aparência da falta de identidade. Os rituais em comuns aos olhos do leigo ou do iniciante pode ocorrer, entretanto, dos praticantes não, saberão diferenciar e que se tratam de rituais INCOMUNS, mas vindo de culturas em comuns, culturas afins.

Não preciso entrar em detalhes dos preceitos aos orixás que ocorrem na Umbanda para explicar a presença através da implantação de seu culto nela, porém, posso dizer que Umbanda tem sua identidade e esta identidade se estrutura no Culto ao Ancestral brasileiro que são os Guais espirituais, que seus adeptos vivem para os guias, assim como os adeptos do Candomblé vivem para o orixá, vodum ou inquice, posso dizer que Umbanda não usa de bengala rituais para preencher vazios, pois nossos guias espirituais preenchem nossas necessidades e a necessidade de nossa religião, por isso vivemos por eles em nossas missões, e por mais que muitos titulam a Umbanda como ''Umbandas'' e usam diversos codinomes justificando rituais copiados e sem fundamentos como ''vertentes'' ou ''implantações, na Umbanda não se tem saída de Orixá , não se tem iniciação a Orixá, entre outros que adveio da formalização do Candomblé, na Umbanda se tem a presença do Orixá diante uma identidade de um culto formalizado por Guias Espirituais (espíritos) e assim como o candomblecista se satisfaz com sua divindade, o juremeiro com seu mestre, eu como umbandista estou satisfeito com meus guias, essa é minha missão, nasci pro Povo de Aruanda e não preciso preencher buracos em meus cultos porque os guias não deixam buracos. O orixá em nossos altares representam o nosso princípio como seres espirituais, o princípio de nosso mundo e o princípio de nosso viver, cantamos e os louvamos em prol de fortalecer as nossas energias advindas dessas forças puras da natureza, a presença do orixá na Umbanda é como a presença do orixá em tudo que se tem vida e vida não tem dono, apenas criador e se chama Olorum para os Yorubás e Zambi Apongo para os Bantos, enfim, se chama Deus!

Viva a ancestralidade africana! Viva a cultura indígena! Viva a cultura afro-brasileira! Viva a nossa ancestralidade brasileira!

Meu respeito pra quem é de respeito!

Pai Lazinho do Quilombo




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