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O Sincretismo Religioso na Umbanda

Publicado em 26/04/2016


O sincretismo religioso na Umbanda é algo que confunde muito o discernimento de um consulente, principalmente um novato ou até mesmo um leigo que busca conforto espiritual. É muito comum e até mesmo faz parte de um tradicionalismo se ver imagens de Santos Católicos no Altar conhecido como Congá ou Gongá utilizado na Umbanda, ou até mesmo escutar Pontos Cantados referindo-se a um Santo como se fosse um Orixá ou vice e versa, isto é simplesmente um reflexo do sincretismo religioso da época escravocrata no Brasil.

Desde que os negros foram capturados em seus continentes pelos europeus, tiveram que forçadamente se desprenderem de suas crenças e costumes, tudo por causa de uma inquisição da época. Já no Brasil para poderem cultuar suas Divindades (Orixás, Voduns e Inquices) os negros tinham que omitir seus cultos dentro das cerimônias Católicas, tais como as festas designadas aos Santos, portanto, em dia de homenagem a um devido Santo Católico os negros faziam seus cultos camuflados em tais festas, desta forma tocando e fazendo louvações para seus Orixás usando um “codinome” e este “codinome” era o nome de um Santo da Igreja Católica Apostólica Romana, era a forma que os negros encontraram para cultuar suas religiosidades dentro de suas tradições, pois os negros foram obrigados a se batizarem dentro da doutrina Católica, porém, muitos se apegaram as crenças Católicas sem perder seus costumes, sendo até mesmo devotos aos Santos e a Jesus Cristo, vendo que o povo negro jamais desmereceu a fé e crença de ninguém, eles sempre souberam separar o ato humano do ato espiritual e mesmo sendo injustiçados pelos brancos, não deixaram de perder suas crenças e adquirir novos conceitos espirituais (ensinamentos e consciência adquirida com toda a certeza através de suas Divindades e Guias).

Muitos negros principalmente os da região Bantu (Congo-Angola) que praticavam cultos aos Espíritos (Entidades/Guias) ao fazerem seus altares colocavam imagens dos Santos Católicos para disfarçar seus cultos, desta forma usufruíram do conhecimento que obtiveram sobre os Santos Católicos e disfarçaram suas Divindades com os nomes e imagens dos Santos que mais traziam conceitos “em comuns” com as Divindades, por exemplo: Os negros do estado de São Paulo titularam o Orixá Ogum (Divindade do ferro, guerreiro) como São Jorge, pois era uma forma fácil e prática de lembrar tal “camuflagem” e também de enganar (no bom sentido) a inquisição para poderem praticar suas crenças.

Lembrando que uma tradição grande praticada nos cultos de tradições afro-brasileiras e muito conhecida hoje por todos no Brasil, são as festas dos Orixás nos mesmos dias das homenagens aos Santos Católicos, como, o Dia de Yemanjá que é comemorado em São Paulo no dia 08 de dezembro junto de Nossa Senhora da Conceição e na Bahia no qual é comemorado no dia 02 de fevereiro que é o dia de Nossa Senhora dos Navegantes, isso é uma herança histórica do sincretismo que se transformou num tradicionalismo.
É sempre bom o esclarecimento dos fatos, portanto, quando se escutar na Umbanda alguém se referir a Jesus Cristo pelo nome do Orixá Oxalá, saiba que se trata apenas de um reflexo histórico da época escravocrata no Brasil, ou seja, trata-se do sincretismo religioso, pois, este sincretismo acabou se tornando numa tradição dentro dos terreiros de Umbanda, porém, uma tradição que se deve ter muito cuidado ao praticá-la, sendo que esta sempre tem que ser muito bem esclarecida para aqueles que tenham dúvidas, jamais um umbandista deve dizer que um Santo Católico é um Orixá ou um Orixá é um Santo Católico, isto é completamente errôneo, porém, a Umbanda não desmerece nenhum conceito espiritual, ou seja, a Umbanda não desmerece a crença e a fé de ninguém. 

Muitas vezes ao ver também um Santo Católico ser louvado ou ter sua imagem no Congá (altar) dentro da Umbanda, pode se tratar da devoção da casa em respeito a tal Santidade, pois muitas Entidades espirituais atuantes na Umbanda trazem costumes, culturas e crenças das quais viveram em suas últimas encarnações, portanto, são absolutamente normais devoções espirituais manifestadas em crenças dentro da Umbanda com costumes paralelos, mas nada que influencie a designação hierárquica e doutrinária da Umbanda, a Umbanda tem suas próprias funções e seu próprio fundamento. 

Sobre o sincretismo, saibamos separar os conceitos, os fatos históricos e as devoções particulares dos fundamentos e preceitos que a Umbanda abrange...

Oxalá é Oxalá e Jesus é Jesus, que ambos sejam sempre respeitados!

Pai Carlos Pavão



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