Porém o iniciante deve ser tratado como uma pedra bruta a ser lapidada até que se torne um diamante. Todo carinho e cuidado com ele são poucos.
Tão comum quanto a empolgação do iniciante é a sua possibilidade de colocar o carro na frente dos bois. O sujeito frequenta a Umbanda há apenas alguns meses, apenas sente a irradiação de seus orixás, sem incorporá-los de fato, e rapidamente já faz propaganda do "poder da sua mediunidade" e sai por aí dando atendimentos privados fora do terreiro, "à la carte", sem imaginar o risco que expõe a si e àqueles a quem presta atendimento. E quem nunca viu uma situação dessas que atire a primeira pemba.
Claro que procuramos entender que se trata de uma empolgação até mesmo no sentido de fazer o bem, mas não podemos negar que há aí também um (grande) ranço de vaidade, de mostrar que não a Umbanda ou as suas entidades, mas que a sua mediunidade o faz quase um super-herói.
Por isso é bom dizer novamente, que o neófito deve ser tratado como uma pedra bruta até que se torne um diamante. Caso contrário esse mesmo médium que um dia poderia se desenvolver se tornar um excelente trabalhador a serviço do bem, se tornará um médium vaidoso e rebelde, não respeitando a hierarquia do terreiro e nem mesmo os fundamentos da Umbanda, pois seu orgulho vai impedi-lo de entender que a hierarquia é necessária (o dirigente está lá por determinação do astral, e não por eleição ou aclamação) e que os fundamentos existem - para ele existirá apenas o que entender como correto, sem buscar explicações concretas para os fatos.
Um dia esse médium se rebelará contra seus irmãos-de-fé e, ainda que inconsciente, contra os próprios fundamentos da Umbanda, pois achará que ele, o super-médium é o único correto. E pior ainda, se afastará do caminho correto, arrumará um espaço que passará a chamar de "terreiro de Umbanda" e passará a atender os necessitados à sua maneira, mas por não conhecer os fundamentos mais básicos, acabará mais prejudicando do que ajudando. Aos outros e a si mesmo.
Douglas Fersan
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