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Quaresma - isso não te pertence, umbandista!

Publicado em 26/03/2013



Quaresma - isso não te pertence, umbandista!

Com a aproximação da semana denominada de santa e o distanciamento do período monino, estamos completando o que os católicos chamam de Quaresma.

A palavra Quaresma vem do Latim quadragésima e é utilizada para designar o período de quarenta dias que antecedem a Ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no famoso Domingo de Páscoa. Esta prática segundos alguns, se consolidou no final do século III, tendo sido citado no 1° Concílio de Nicéia, no ano 325. Na Quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas e termina na quarta-feira da Semana Santa, os católicos realizam a preparação para a Páscoa.

Essencialmente, o período é um retiro espiritual voltado à reflexão, onde os cristãos se recolhem em oração e penitência para preparar o espírito para a acolhida do Cristo Vivo, ressuscitado no Domingo de Páscoa.

Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material. Os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades. Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia. Nela, é relatada as passagens dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou a estada dos judeus no Egito, entre outras. Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.

O espírito da quaresma para os católicos deve ser como um retiro coletivo de quarenta dias, durante os quais a Igreja, propondo a seus fiéis o exemplo de Cristo em seu retiro no deserto, se prepara para a celebração das solenidades pascoais, com a purificação do coração, uma prática perfeita da vida cristã e uma atitude penitencial.

Este, portanto é o sentido religioso da Quaresma católica.

O período da quaresma, em termos de calendário, é definido pelo cálculo efetuado para o dia da Páscoa. O dia da Páscoa é o primeiro domingo depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois de 21 março (a data do equinócio - um dos dois momentos em que o sol na sua órbita aparente (vista da Terra) cruza a linha do equador [Março e Setembro]). Entretanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas a definida nas Tabelas Eclesiásticas.

Em 325 d.C., o Concílio de Nicéia estabeleceu que a Páscoa ocorreria sempre no "primeiro domingo depois da primeira lua cheia que ocorre após o equinócio da primavera boreal". Mas essa regra baseava-se na suposição de que o equinócio da primavera (do hemisfério Norte, ou boreal) acontecia sempre no dia 21 de março.

Naquela época o calendário utilizado era o Juliano, instituído pelo Imperador Júlio César, e que embutia vários erros. Com o passar dos séculos, o equinócio da primavera se afastou do dia 21 de março, fazendo a Páscoa se deslocar pouco a pouco para o verão.

NO ANO DE 1582 O PAPA GREGÓRIO XIII, aconselhado pelos melhores astrônomos da época, decidiu fazer uma reforma no calendário. A partir de então, a Páscoa passou a ser determinada com base no movimento médio de uma lua fictícia (denominada de lua eclesiástica) e não do verdadeiro satélite.

O novo calendário gregoriano permite que essa lua cheia média venha a cair num dia diferente da lua cheia verdadeira ( definido pelas Tabelas Eclesiásticas).

A nova regra estabelece que a Páscoa cai sempre no 1° domingo após a lua cheia eclesiástica (13 dias após a lua nova eclesiástica), que ocorre após (ou no) equinócio da primavera eclesiástica (21 de março).

Isso faz com que a Páscoa nunca venha a ocorrer antes do dia 22 de março ou depois do dia 25 de abril. Repare que nem sempre a data coincide com aquela que seria obtida se sua definição seguisse critérios astronômicos reais.

Resumindo, em virtude da ressurreição de Jesus ter sido em um plenilúnio, logo após o equinócio de primavera, os membros do concílio determinaram:

1) Deveriam celebrar a Páscoa em um domingo;
2) Tal domingo, seria o 14o. dia da chamada Lua Pascal ou Lua Eclesiástica;
3) Lua Eclesiástica é a que o 14o. dia cai no equinócio da primavera ou imediatamente após;
4) O equinócio de primavera deveria ser impreterivelmente em 21 de março.


Obs.: Convém esclarecer que embora o equinócio eclesiástico, em rigor, não é o mesmo astrônomico, na época do concílio coincidiam.


Portanto, de acordo com o acertado no Concílio, a Quarta-Feira de Cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa e a Terça-Feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa. O período da quaresma (40 dias), começa na quarta-feira de cinzas e se encerra na quarta-feira que antecede o Domingo de Páscoa. A quinta-feira santa (dia da Última Ceia), a sexta-feira da Paixão e o Sábado de Aleluia, são denominados de Tríudo Pascal.

Temos assim que a QUARESMA é um evento católico, tendo o seu período definido por uma convenção católica e adotado como tradição por católicos apostólicos romanos no mundo todo.

Em outras palavras, para deixarmos bem claro, em tudo e por tudo a QUARESMA é CATÓLICA.
Surge então a pergunta que não quer calar, por que nós umbandistas devemos considerar a Quaresma como um período, um evento etc. do nosso calendário religioso?

Thashamara, no seu excelente site - Reencontrando o Sagrado: A Umbanda na visão de um eterno Aprendiz - inicia um texto sobre esse tema (vide bibliografia) em que pergunta: 

"Quaresma é uma data da Umbanda?".

Em artigo do Jornal Umbanda Hoje (vide bibliografia), vemos a seguinte afirmação: "Sejamos sensatos. A Umbanda é religião cristã. É fato. Não significa, no entanto, que tenhamos de aplicar atos litúrgicos alienígenas à mesma."


Rodrigo Queiroz, no post intitulado - Quaresma na Umbanda e a Força do Sincretismo - publicado no seu blog levanta os seguintes questionamentos: "Afinal, o que é Quaresma? Bem, sabemos o que é quaresma, agora qual é a relação com a Umbanda? A Umbanda é uma religião genuína ou é uma vertente do catolicismo? A Umbanda deve reportar-se ao papado? São algumas questões que precisamos levantar."


Nas listas de discussão na internet existiram diversas manifestações a favor e contra o respeito a Quaresma e todo o ciclo (Carnaval, Quaresma, Semana Santa).


Bom senso, respeito as crenças alheias e a força do sincretismo foram algumas das considerações levantadas para se conviver com a essa realidade que existe, tanto nos terreiros de Umbanda, como nos dos Cultos Afro-brasileiros. Tem terreiros, templos, casas, tendas etc., que não possuem ritos nesses dias. Tem outros que realizam cerimônias apropriadas para o período. Na Umbanda, algumas casas pregam que com determinadas falanges não se devem trabalhar, nas de culto afro-brasileiro já são os Orixás que estão ausentes nesse ciclo.


Enfim, muitas regras, muitos preceitos, muitas quizilas, muitos dogmas, mitos, lendas, muitas orações, penitências, jejuns, vias-sacras, rosários, novenas, terços e até missas assistidas. Por outro lado, muito coisa liberada pelo período neutro ou de ausência da proximidade dos Orixás e entidades espirituais, neste plano.


Particularmente, para mim é uma questão de lógica.


Logo, nada tem haver com as cerimônias, eventos, festas, comemorações, ritos e liturgias da Igreja Apostólica Romana.


Respeitar as demais religiões, faz parte da tolerância, ética e do bom conviver fraterno e religioso.


Aceitar as manifestações alienígenas, como bem descreve o artigo já citado, para contextualizar, explicar ou respaldar a realidade do sincretismo na Umbanda, é no mínimo continuar alimentando um estado de coisas, que não nos leva a lugar nenhum. Ao contrário, deixa-nos cada vez mais estáticos e parados neste eterna condição aparente de quase religião, de cultura periférica, folclórica, sincrética, que provoca uma percepção errônea de falta de originalidade, identidade e posicionamento.


Diante da riqueza das manifestações, tão confirmadas do mundo espiritual, que faz acontecer todos os dias nos terreiros de Umbanda, da profundidade dos ensinamentos ministrados pelas entidades espirituais e da necessidade emergente que temos de fazer valer o nosso espaço, como religião constituída que somos de fato, mas ainda não de direito, é que não podemos continuar a sermos arautos desta conivência e permissividade com o que definitivamente não nos pertence.


Busca pela pureza, essência, originalidade são sempre os termos que surgem para designar esta linha de raciocínio. Geralmente utilizadas para caracterizar de forma radical a quem propugna o distanciamento ao padrão vigente e aceito pela maioria.


Não, não é isto que eu proponho, mas vejo a necessidade de fazermos algo mediante a imensa quantidade de sobre-capas que o movimento umbandista se envolveu e se envolve.


Afinal somos UMBANDISTAS e não:


umbantólicos, umbandespíritas ou umbandequianos, umbandoreikianos, umbandoascensos, umbandowiccanos, umbandosóficos, umbandognósticos, umbandorosacruzes etc.


Diferença não é sincretismo e sobreposição. Tolerância não é conivência e permissividade.


Como já disse alguém: "Tudo pode ser lícito e permitido, mas nem tudo me convém".


A Umbanda é simples! Nós é que complicamos.


Pai Caio de Omulu

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