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Ingratidões na Umbanda

Publicado em 15/07/2018

Ingratidões

Um dia desses, li uma frase que chamou muito minha atenção. Essa frase, se bem me lembro, estava no mural de um Terreiro e dizia: 

“Se você quer trabalhar fazendo a caridade, então você precisa estar preparado para lidar com a ingratidão.” 

Pois é, no primeiro momento que li essa frase foi como se eu levasse um soco no estômago, depois de minutos percebi a grandeza e a verdade dessas palavras.

Quem tem sob sua responsabilidade outras vidas, ou seja, o Sacerdote, Pai espiritual, Madrinha, Dirigente, sabe muito bem o que essa frase representa, sabe muito bem o que é sentir e vivenciar a ingratidão, afinal, o respeito, o carinho, o amor e a admiração duram até o pronunciamento do primeiro NÃO. Simples, não?!? É só dizer NÃO que se perde o valor, a admiração e o Pai de Santo ‘já não presta mais’, aliás esse é um excelente teste de respeito e amor que pode ser feito em qualquer situação: no convívio familiar, no trabalho, antes de formar uma sociedade, no relacionamento amoroso etc, é só dizer NÃO à uma pessoa ou situação e aguardar o resultado. Ah, mas não se preocupe pois o resultado é quase que imediato! O mimo, o vitimismo, o egocentrismo, a prepotência e, porque não dizer, a infantilidade, estão tão enraizados no íntimo de alguns seres humanos que o reflexo ao NÃO é quase que imediato mesmo que ainda inconsciente ou sutil. Mas o pior é que esse reflexo muitas vezes é tão agressivo, é tão evidente e tão expressivo que acaba contaminando pessoas próximas, acarretando a ‘saída’ em massa de médiuns de um Terreiro. É a ingratidão coletiva! É triste ver isso acontecer! Mais triste ainda é ver todo um trabalho espiritual, toda uma ação divina que estava atuando na vida do médium e dos médiuns ser agressivamente rompida pelo egocentrismo humano.

É saber que o Pai de Santo só presta enquanto abaixa a cabeça e concorda com tudo, como que se ele não tivesse direito de comandar seus médiuns e mandar em seu terreiro, como que se ele e todos seus anos de preparo e experiência não representassem nada perto do “médium sabichão”. É índio querendo ser cacique. É ver lobo em pele de carneiro fazendo e desfazendo aquilo que bem quer como se ninguém estivesse vendo, como se não houvesse uma Força Superior que tudo vê, tudo sabe e tudo sente.

É perceber a tristeza das Entidades Espirituais que acompanham aqueles médiuns quando tomam uma atitude dessa. Afinal, nós temos o livre arbítrio, nós podemos ir e vir, mas muitas Entidades não. Muitas vezes elas ficam entregues aos caprichos dos médiuns, pois têm como missão acompanhá-los por todas suas passagens nesse plano. E ai? Será que é muito difícil para os médiuns pensarem nas Entidades que o acompanham nesse momento? Será que é muito difícil pensar em algo maior, em algo que vai além do próprio umbigo?

É preciso sair do egocentrismo e saber que uma atitude pode influenciar muitas coisas, pessoas e espíritos. É importante pensar em um TODO, pensar na capacidade e não no desejo pessoal. E é alicerçado nesse pensamento que muitas vezes um Pai (e aí pode ser pai de santo, pai carnal ou pai espiritual) diz NÃO a um filho. Pena que esse filho está ainda tão acostumado com mimos e ainda tão preocupado com seu desejo pessoal que acaba perdendo a grande oportunidade de sua vida de aprender, crescer e provar que já é capaz de pensar no TODO.

E aproveitando a inspiração que me causam algumas frases, existem duas que sintetizam muito bem o que estou falando, uma é de um autor francês do século XVIII, Charles Pinot Duclos, que diz: “A ingratidão consiste em esquecer, desconhecer ou reconhecer mal os benefícios, e se origina da insensibilidade, do orgulho ou do interesse.” A outra é minha e me inspira diariamente: “Só nos é permitida a evolução quando nos tornamos capacitados e responsáveis pelos nossos atos.” Portanto, saber OUVIR NÃO é uma grande oportunidade de provar respeito, carinho, amor, e, principalmente, provar que cresceu como ser humano e como ser espiritual, que consegue pensar em todos, em possibilidades, em determinação, em persistência e humildade.

Aceitar “NÃO” é sair do desejo pessoal e entrar no mais importante estágio de evolução. Tenho certeza que os grandes líderes só se tornaram “grandes” e “líderes” depois de terem ouvido muitos NÃOS.

Mônica Caraccio


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