Uma breve lição sobre a relação médium x mediunidade praticada
Dia destes um indivíduo em consulta perguntou ao Caboclo que lhe atendia:
- “Caboclo, preciso desenvolver a mediunidade, posso fazer isso aqui?”
O rapaz não conhecia o terreiro, era sua primeira visita, o Sr. Caboclo retrucou:
- Sim filho, pode sim, antes nos responda algumas perguntas simples e saberemos quando e onde iniciará seu desenvolvimento mediúnico.
- Pois sim Caboclo, qual a dúvida?
- Filho, sabe o que é mediunidade?
O rapaz esboçou surpresa em suas feições, pensou rapidamente e prosseguiu:
- Sei Caboclo, é a capacidade de incorporar os guias espirituais.
- Ah sim meu filho, entendo, mas devo dizer que isso não é mediunidade, ao menos não é bem isso que o Caboclo está perguntando, vou tentar ser mais claro. Você sabe para que serve a mediunidade?
- Sei sim, para fazer a caridade!
- Hmmm, e o filho quer desenvolver a mediunidade pra quê?
- Para fazer a caridade, ajudar as pessoas.
- Sei, sei… E porque o filho quer ajudar as pessoas?
O rapaz ficou pálido e sem graça arriscou:
- Para evoluir meu pai, porque esse é o caminho da luz.
- Que luz meu filho?
- Oras meu pai! A luz espiritual, como a vossa!
- Hmmm, como o filho imagina que seja o desenvolvimento mediúnico?
- Bem, já vi algumas vezes, vou vir de branco e vou girar até incorporar, mas já aproveitando, quero dizer que tenho receio de girar, não vou conseguir me concentrar, então prefiro que me deixem concentrando, assim será mais fácil.
O rapaz já falava como se fosse parte do grupo. O Caboclo interrompeu e disparou:
- Meu filho, que tipo de problemas você imagina que pode ter ao desenvolver a mediunidade?
- Acho que nenhum!? Por quê? Terei problemas?
- Depende.
- Como assim?
- Depende do que o filho escolher.
- Não estou entendendo.
O Caboclo silenciou, olhou para o Congá, baforou do seu charuto no corpo do rapaz, fechou os olhos, parecia estar orando, respirou fundo, olhou fundo nos olhos do rapaz e ensinou:
- Meu filho, você é mais um dentre milhares que se utilizam de discursos prontos, respostas decoradas, ambições estranhas e ansiedade para sentir-se melhor que os outros, o que é pior, via mediunidade.
Chegará o inevitável dia do seu desenvolvimento mediúnico, e Caboclo deseja que chegue, onde quer que seja.
Mas este Caboclo deseja mais ainda: que o filho tenha respostas verdadeiras, que encontre de uma forma pessoal o motivo real para o exercício mediúnico.
O filho precisa saber que mediunidade não é entretenimento, não é uma atividade que preenche apenas um espaço vazio da sua agenda.
O primeiro passo para o desenvolvimento mediúnico é o compromisso em buscar o autoconhecimento, é meditar muito, orar mais um tanto e ter a certeza de que quer assumir um compromisso do qual todos os demais compromissos na vida sejam secundários diante seus compromissos espirituais.
É preciso que saiba muito bem o que significa comprometimento, dedicação e respeito á tudo e a todos.
Estude bastante sobre esta religião que quer seguir, pois se não a compreender, jamais sentir-se-á compreendido pelos diferentes.
Considere que caridade não é dar passe, descarregar ou qualquer coisa que seja feito incorporado, saiba que esta é a nossa caridade, não sua, você médium e religioso tem nas incorporações e o que acontece a partir dela apenas uma consequência da fé e da mediunidade. Sua caridade deverá ser outras iniciativas e não ocultas em nossas incorporações.
Também lembre-se que ninguém ajuda ninguém se ao menos não esteja preocupado em se ajudar primeiro, em lapidar-se e aprimorar-se, antes de pretender ser fonte é preciso ser abastecido.
Você terá preceitos a seguir, então sua rotina de hoje já não será a mesma, o que você comeu hoje, se estivesse do lado de cá já não seria permitido.
Observe seus vícios e aceite que se ensina e ajuda mais pelo exemplo do que por boa vontade, se és um indivíduo rendido aos vícios da matéria, mesmo tendo plena consciência dos males, então busque livrar-se destes grilhões antes de pretender ser alguém que vá libertar os outros.
Ter mediunidade prática não te faz melhor do que ninguém, apenas reforça que você tem mais responsabilidade com o mundo, então não será por meio da mediunidade que poderá extravasar questões de carências mal resolvidas na infância.
Este caboclo poderia prosseguir com muitas outras considerações, mas vejo que o filho já entendeu, então Caboclo pergunta:
- O filho quer começar o desenvolvimento quando mesmo?!
Desconcertado, pensativo e visivelmente desapontado o rapaz responde:
- Meu Pai, desenvolverei quando ao menos conseguir praticar uma de suas ponderações, desculpe-me pelo tempo que lhe tomei, vou pensar sobre isso tudo.
- Não se desculpe meu filho, isso é o que o Caboclo veio fazer, amamos isso que fazemos, esta é a nossa oportunidade de fazer a caridade, se consigo te ajudar, isso me alegra. Mas meu médium não, ele apenas está no transe aprendendo com isso tudo e exercitando sua religiosidade, entendeu?
- Sim meu pai, acho que entendi!
- Então fique em paz e na luz meu filho, se for da sua vontade e dos Orixás, nos veremos mais adiante.
O rapaz agradeceu o Caboclo e emocionado retirou-se do terreiro, voltaria nas próximas semanas e talvez em alguns meses ou anos, ele sentiria o chamado, pela vontade Maior e não pessoal.
Este breve relato, é um fato e nos traz um alerta importante sobre a maneira que nos relacionamos com a mediunidade, então responda: qual é a sua maneira???
Rodrigo Queiroz
Gostei do texto! Obrigada.
ResponderExcluirO que é necessário para fazer a caridade?
ExcluirO principal está na Boa vontade, doação e conhecimento necessário para saber o que está fazendo, discernimento para como fazer e acima de tudo humildade. Fazer a caridade envolve sentimento, doação, e confiança, saber o que está fazendo, para não magoar a ninguém.
A verdadeira caridade ela é desenteressada, dinâmica, espontânea e sempre visando o bem está do próximo!
O primeiro passo é a caridade conosco mesmo, de modificar os, as nossas atitudes, reforma moral,a pedra fundamental para a nossa evolução espiritual é a prática do bem
Sarava fraterno!