A comunicação não verbal do corpo
humano inclui gestos e atos corporais que, de modo característico, expressam
sentimentos, emoções e posicionamentos que demonstram a natureza interna do
indivíduo, exprimem sua realidade sem as barreiras da censura e o libera na sua
relação com o mundo que o cerca. "O corpo fala" é expressão decisiva
no estudo da psicologia, porque aliada à comunicação verbal, ou mesmo sem ela,
é poderosa ferramenta para a leitura do inconsciente e para o entendimento de
diversos distúrbios psicossomáticos.
É importante que o umbandista perceba a
riqueza da linguagem não verbal presente nos atos litúrgicos da religião que
professa, o corpo que exprime o sentimento em um gesto por vezes vale mais do
que muitas palavras. Quando não se conhece o fundamento existente nos rituais,
pode-se ter a falsa ideia de uma repetição mecânica e desnecessária. Importante
se faz conhecer para aquisição da fé racionalizada e para desmistificar
conceitos e preconceitos indevidos sobre a nossa Umbanda.
O gesto ritualístico é a comunicação
não verbal com o Divino e com o transcendente, que expressa a fé, o respeito e
a humildade diante do Sagrado, na consciência de que existem forças superiores
no universo das quais somos apenas centelhas e, a nível de Terreiro, somos
apenas um instrumento para que as energias sublimes se manifestem.
Citamos, a seguir, algumas posturas e
gestos em rituais praticados nos Terreiros de Umbanda, que são fundamentos da
Umbanda e que podem variar em formas, mas cuja essência e significado são os
mesmos:
Saudações ao Entrar e Sair do Templo
Ao entrar no Terreiro deve-se ter
respeito por estar adentrando local sagrado, deve-se saudar os assentamentos de
forças ali existentes, começando pela Tronqueira que é o ponto de força dos
Exus Guardiões, geralmente toca-se o chão três vezes e
mentaliza-se "Laroyê Exus, Exus é Mojubar, deem-me
licença!" Logo após, deve-se saudar o Congá, que é o local de maior
concentração de energias e o ponto central de onde emanam fluidos necessário à
realização dos trabalhos dentro da Lei de Umbanda. Para saudar o Congá,
levanta-se as duas mãos com as palmas em sua direção e
mentaliza-se: "Salve Pai Oxalá, todos os Orixás e todos os
trabalhadores de Umbanda, sua licença e proteção!"
Ao sair do Terreiro, faz-se as mesmas
saudações acima sendo que em sentido contrário: primeiro o Congá e por último a
Tronqueira dos Guardiões, neste momento deve-se agradecer a acolhida espiritual
da Casa e pedir licença para se retirar.
O Ato de Bater Cabeça
O ato de bater cabeça é um momento de
respeito e de entrega, é o momento da sintonia do nosso eu interior com o
Sagrado. É um ato que demonstra o reconhecimento da força superior que nos
envolve, do respeito e submissão a esta força que nos rege através da fé, é o
momento dos pedidos e dos agradecimentos, da oração através do sentimento
sublime que é o amor. Bate-se cabeça deitando-se e levando a testa ao solo, em
sinal de respeito e de saudação aos Orixás, Guias e Sacerdotes.
O Ato de Tomar a Benção
O pedido de benção ao pai/mãe de santo
é uma saudação e uma demonstração de respeito e confiança à hierarquia que irá
nos conduzir e nos orientar na doutrina, nos repassar conhecimentos, se
responsabilizando diante dos Orixás pelo nosso desenvolvimento espiritual.
Tomar a benção ao Sacerdote remete ao pedido de benção a toda a espiritualidade
que o assiste. Entende-se por pai/mãe de santo aquele que acolhe, orienta e
zela pela vida espiritual dos filhos, a benção é sinal de reconhecimento destes
atributos e o seu gesto é beijar a mão do seu pai/mãe espiritual e levá-la à
testa iniciando o sinal da cruz.
O Ato de Ajoelhar-se
O ato de ajoelhar-se é também sinal de
respeito e reverência presente na maioria das religiões, é um ritual que faz
parte do inconsciente coletivo, entenda-se por este o saber incondicional, por
exemplo, ninguém aprende a ideia de ser mãe, ou do que é o amor, ou do que é
Deus, simplesmente sabe-se, é inerente ao ser humano. Ajoelhar é louvar, pedir
e também agradecer, ato de submissão, humildade, reconhecimento e fé. No
Terreiro, deve-se ajoelhar diante das forças ali assentadas, quer na sua
representação material, ou na representação do seu sacerdote incorporado com os
Orixás e Guias que o assistem.
Saudações aos Orixás e Guias
As forças espirituais de um Terreiro,
na representação dos seus Orixás e Guias, devem ser reverenciadas por meio de
saudações individuais, com a linguagem falada e com o gesto corporal. A seguir
apresentamos tabela com as saudações inerentes a cada Orixá e Guia:
Orixás
/ Guias |
Saudação |
Gesto
Ritualístico |
Pai Oxalá |
Epa Babá! |
Unir palmas das mãos em postura de
prece. |
Nanã |
Saluba Nanã! |
Movimento circular das mãos (palmas
para cima), imitando puxar as águas do lago para si. |
Iansã |
Eparrey! |
Com as palmas das mãos para cima,
imita puxar o ar para si e, em seguida, imita levantar duas espadas com as
mãos. |
Omulu |
Atotô Ajuberô! |
Bate no chão três vezes e faz o sinal
da cruz. |
Ogum |
Pata Kori, Ogum! Ogunhê! |
Aperta as duas mãos, de um lado e do
outro. |
Oxum |
Orayeyêo! |
Movimento circular das mãos (palmas
para cima), imitando puxar as águas do rio para si. |
Xangô |
Kawo Kabiesilê! |
Juntar as mãos fechadas, imitando
segurar o cabo da machada e levantar lentamente. |
Iemanjá |
Odôyá! Odôfiaba! Odôcy Yabá! |
Movimento circular das mãos (palmas
para cima), imitando puxar as águas do mar para si. |
Oxossi |
Oke Arô! |
Unir os dedos das mãos imitando
flechas, levantar para o alto e cruzar no peito. |
Caboclos
Boiadeiros |
Okê Caboclo!
Xêtro Marrumbaxêtro! Getruá! |
Idem Oxossi
Imita girar o laço no alto. |
Pretos Velhos |
Adorei as Almas! |
Estalar os dedos em direção ao chão e
em forma de cruz, depois fazer o sinal da cruz no chão. |
Ibejis |
Onibeijada! |
Bater palmas. |
Povo do Oriente |
Salve o Povo do Oriente! |
Idem Pai Oxalá. |
Povo Cigano |
Optchá! |
Com as mãos para cima e para o lado,
bate palmas duas vezes. |
Marinheiros |
Salve os Marinheiros! A Marujada! |
Imita o levantar de uma âncora. |
Mestres Juremeiros – Reis Malunguinho |
Sobô Nirê Reis Malunguinho! |
Leva ao peito os braços em forma de X. |
Exus |
Laroyê Exu! Exu é Mojubá! |
Une as laterais das mãos, indicador
com indicador, apontando os dedos para o chão. |
Vale ressaltar, que é fundamental e
imprescindível que as posturas e os gestos no ritual de Umbanda sejam
acompanhados pelo sentimento de fé e amor e que não basta reverenciar, mas sim
se tornar merecedor do axé, adotando posturas de ideais elevados dentro e fora
do Terreiro.
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