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27/05/2012

Umbanda Tradicional


Umbanda Tradicional
Tenda Espírira Nossa Senhora da Piedade

Umbanda Tradicional é a preconizada pelo médium Zélio Fernandino de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, com a fundação da primeira Tenda de Umbanda: a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.

A pesquisa aqui apresentada, com relação a esta vertente da Umbanda, a Umbanda Tradicional, visa unicamente discorrer sobre os vários aspectos da Religião de Umbanda sob o prisma dos seus fundadores, a fim de conhecer e direcionar os conceitos estudados à realidade individual de cada um, sem emitir nenhum tipo de julgamento, respeitando sempre a diversidade de pensamentos da nossa amada religião.


Zélio Fernandino de Moraes

"Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de Abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Filho de Joaquim Fernandino Costa, oficial da Marinha, e Leonor de Moraes, formavam uma família tradicional no bairro das Neves, no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro. Em 1908, aos 17 anos, Zélio havia concluído o curso propedêutico (ensino médio) e preparava-se para ingressar na escola Naval, a exemplo de seu pai, quando fatos estranhos começaram a atordoar sua juventude.

Em alguns momentos Zélio era visto falando em tom manso, com a postura de um velho, com sotaque diferente de sua região, dizendo coisas aparentemente desconexas, chamando a atenção da família. Preocupados com a situação mental do menino que se preparava para seguir carreira militar na Marinha, e tornando as manifestações cada vez mais freqüentes, encaminharam-no ao Dr. Epaminondas de Moraes (tio de Zélio), médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após vários dias de observação, não encontrando seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu a família que o encaminhasse a um padre, para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído por forças infernais. Foi chamado outro parente, tio de Zélio, padre católico que realizou o dito exorcismo para livrá-lo da possível presença do demônio e saná-lo dos ataques. Mais uma vez não obtiveram sucesso.

Algum tempo depois, Zélio foi tomado por uma paralisia parcial, a qual os médicos não conseguiam entender. Um belo dia, Zélio levantou-se de seu leito e disse: "amanhã estarei curado" e no dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido.

Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe D. Leonor de Moraes levou o menino Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto-velho chamado Tio Antônio. A entidade recebeu o rapaz e fazendo suas rezas lhe dissera que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade.

Um amigo sugeriu encaminhá-lo a Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói, fundada em 30 de junho de 1907, pelo então Eugênio Olímpio de Souza, no município vizinho a São Gonçalo, onde foi chamado a sentar-se na mesa pelo presidente da sessão José de Souza, recebendo no dia 15 de novembro de 1908 a entidade que viria a fundar a Umbanda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas.

No dia 16 de novembro do mesmo ano, incorporado com essa entidade, funda a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.

Casou-se muito cedo com Maria Izabel de Moraes para que não se perdesse nos prazeres da vida, tiveram quatro filhos, sendo eles Zélio, Zélia, Zarcy e Zilméia.

O pai de Zélio freqüentemente era abordado por pessoas que queriam saber como ele aceitava tudo que vinha acontecendo em sua residência, sua resposta era sempre a mesma, em tom de brincadeira respondia que preferia um filho médium ao lugar de um filho louco.

Fundou mais de dez mil tendas, que partiram da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade ou das que dela descenderam, sempre que possível, ele mesmo acompanhava toda a fundação, indo a diversos estados para realizar a abertura delas.Foi um trabalho árduo e incessante para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda.

Nunca usou como profissão a sua mediunidade, sempre trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, sendo que muitas dessas foram curadas.

Nunca aceitara ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele.

Após 55 anos de atividade, entregou a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia de Moraes Lacerda e Zilméia de Moraes da Cunha.

Mais tarde, Zélio e sua esposa Maria Isabel de Moraes, médium ativa da Tenda e aparelho do Caboclo Roxo, fundaram a cabana de Pai Antônio no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macacú – RJ, dedicando a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e a todos os que o procuravam.

Já com mais idade, e com a saúde debilitada, voltou a Niterói-RJ para tratamento médico. Preparado pelos seus guias espirituais e prevendo a sua morte, um dia antes de fazer sua passagem, entregou a guia do Caboclo das Sete Encruzilhadas para sua filha Zilméia. Zélio faleceu no dia 03 de outubro de 1975 aos 84 anos, sendo sepultado no Cemitério de Maruí, em São Gonçalo."

A partir de 1918, foram fundadas mais sete Tendas sob a orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas:

Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, fundada por Gabriela Dionysio Soares e posteriormente dirigida por Antonio Eliezer Leal de Souza em 1918;

Tenda Espírita São Pedro, dirigida por José Meirelles;

Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia de Oxossi, dirigida por Dorval Vaz;

Tenda Espírita Santa Bárbara, dirigida por João Salgado;

Tenda Espírita Oxalá, dirigida por Paulo Lavóis;

Tenda Espírita São Jorge, dirigida por João Severino Ramos, médium de Ogum Timbiri em 1935.

Tenda Espírita São Jerônimo, dirigida por Capitão José Álvares Pessoa, também em 1935.

Zélio de Moraes não escreveu nada sobre si ou sobre a religião que teve seu inicio em 15 de Novembro de 1908.

Em 1904, o livro “As Religiões do Rio”, escrito por João do Rio, apresenta um estudo aprofundado dos cultos no Rio de Janeiro e em momento algum aparece a palavra Umbanda, o que endossa que nem a religião de Umbanda, nem a palavra, eram presentes no Rio de Janeiro, onde nasceu a Umbanda.

Os primeiros textos sobre a Umbanda aparecem em um livro chamado “No Mundo dos Espíritos”, em 1925, uma coletânea de reportagens feitas pelo Jornalista Leal de Souza para o vespertino da época chamado “A Noite”, onde aparece, entre outras, uma reportagem do Centro Tenda Nossa Senhora da Piedade com o Médium Zélio de Moraes.

Leal de Souza era médium na Tenda Nossa Senhora da Piedade e por orientação de Zélio de Moraes e do Caboclo das Sete Encruzilhadas, se tornaria o dirigente da Tenda Nossa Senhora da Conceição.

O primeiro livro de Umbanda foi publicado em 1933 por Leal de Souza e recebeu o nome de “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”, neste livro há um capitulo (Cap. 23) intitulado “O Caboclo das Sete Encruzilhadas”, onde o autor que conviveu muitos anos com o fundador da Umbanda fala um pouco sobre a entidade, veja abaixo:

“Se alguma vez tenho estado em contato consciente com algum espírito de luz, esse espírito é, sem duvida, aquele que se apresenta sob o aspecto agreste, e o nome bárbaro de Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Sentindo-o ao nosso lado, pelo bem estar espiritual que nos envolve e sensibiliza, pressentimos a grandeza infinita de Deus, e, guiados pela sua proteção, recebemos e suportamos os sofrimentos com uma serenidade quase ingênua, comparada ao enlevo das crianças, nas estampas sacras, contemplando a beira do abismo, sob as asas de um anjo, as estrelas do Céu.

O Caboclo das Sete Encruzilhadas pertence à falange de Ogum, e, sob a irradiação da Virgem Maria, desempenha uma missão ordenada por Jesus. O seu ponto emblemático representa uma flecha atravessando um coração, de baixo para cima; - A flecha significa a direção, o coração é o sentimento e o conjunto – orientação dos sentimentos para o alto, para Deus...

Entre a humildade e a doçura extremas, a sua piedade se derrama sobre quantos o procuram, e não poucas vezes, escorrendo pela face do médium, as suas lágrimas expressam a sua tristeza, diante dessas provas inevitáveis a que as criaturas não podem fugir...

A linguagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas varia, de acordo com a mentalidade de seus auditórios. Ora chã, ora simples, sem um atavio, ora fulgurante nos arrojos da alta eloqüência, nunca desce tanto, que se abastarde, nem se eleva demais, que se torne inacessível.”

As Sete Linhas "Assim, seguindo a Lei difundida pelo Caboclo das Setes Encruzilhadas, trabalhamos com 7 Linhas Brancas, a saber: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, iemanjá (oxum e nanã), Iansã e Exú.

Enquanto os Caboclos atuam integrados a estas Sete Linhas, a Linha dos Pretos Velhos se manifesta dividida em vários ramos ou “Povos” (de Angola, do Congo, de Cambinda, de Banguela, de Minas Gerais, da Bahia, etc...) Temos ainda as Falanges das Crianças, do Oriente, das Almas, de Omulú (a Morte – o Velho) e de Abaluaiê (a Vida – o Novo), cada uma delas atuando em diversas faixas vibratórias específicas e delimitadas, condizentes com as determinações do Astral Superior. Na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, as Falanges de Marinheiros e Boiadeiros apresentam-se integradas aos Caboclos.

Todo este conjunto, dividido hierarquicamente em linhas, legiões, falanges, agrupamentos, grupos, mentores, guias e protetores, operam em absoluta harmonia entre si, situando-se dentro das vibrações energéticas (ou faixa de energia) que lhes são mais harmônicas. Embora se apresentem como trabalhadores humildes e incultos, em sua grande maioria são espíritos de adiantado estágio evolutivo."

Ednay Melo

Fontes de Pesquisa:

Site Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade

Trecho extraído do JUS - Jornal de Umbanda Sagrada



Um comentário:

  1. O parabenizo pelo compartilhamento público das suas pesquisas.

    Obviamente não abrange toda a totalidade histórica do início da Umbanda através do médium Zélio Fernandino de Moraes e de seu prosseguimento e difusão pelos outros médiuns diretamente vinculados a ele.

    No entanto para o pesquisador, o presente texto é de grande valor para outras pesquisas sobre o tema. Inclusive devemos dar grande atenção as fontes de pesquisa que o mesmo apresenta, os primeiros registros palpáveis sobre a Umbanda no Brasil.

    Só podemos agradecer.

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